O Globo, Opinião, p. 7
Autor: VIANA, Jorge
25 de Jan de 2009
A Copa 2014 na terra dos povos da floresta
Jorge Viana
A Fifa só tem a ganhar com a escolha de Rio Branco como sede verde da Copa 2014 no Brasil. A decisão firme do governo estadual de instituir um comitê executivo para coordenar as obras e um comitê do legado para orientar os investimentos na direção da sustentabilidade após o evento confere uma singularidade a essa candidatura e propicia um encontro definitivo da Fifa com a agenda socioambiental do planeta. O Acre tem o que há de mais autêntico em termos de projeto de desenvolvimento sustentável de base florestal na Amazônia, firmado nos movimentos sociais dos povos da floresta e num conceito absolutamente original que é a florestania.
O Acre tem uma história única entre os 27 estados brasileiros. Tem uma população próxima a 800 mil pessoas, com a metade delas vivendo na capital, Rio Branco, cujo nome é uma homenagem ao mais importante diplomata brasileiro. Do Acre surgiram legendas como Plácido de Castro, libertador do Acre e um dos heróis da pátria; Luiz Galvez, presidente do Estado Independente do Acre, e Chico Mendes, o mais importante ambientalista da História do Brasil. A novelista acreana Glória Perez há muito vem encantando o Brasil com suas histórias, mas, quando o assunto é futebol, é importante destacar um outro acreano, o nosso craque Armando Nogueira, o poeta do futebol, de quem é o texto que compõe a placa inaugural do Estádio Arena da Floresta em Rio Branco, aqui reproduzido.
"...O futebol é assim: desperta na pessoa um sentimento virtuoso que transcende a amizade, que vai além do amor e culmina no santo desvario da paixão. Tem de tudo um pouco, porém, é mais que tudo. Torcer por uma camisa é plena entrega. É mais que ser mãe, porque não desdobra fibra por fibra o coração. Destroça-o de uma vez no desespero de uma derrota. Em compensação, remoça-o no delírio de uma vitória..." Armando Nogueira, A ginga e o jogo - o Botafogo e eu...
O Acre é assim, muito especial. Rio Branco, também. É a menor das 17 cidades candidatas e busca ser a mais segura, mais acolhedora e mais hospitaleira e é, sem dúvida, a única que pode representar os mais de 5.500 pequenos e médios municípios brasileiros.
Olhando o mapa das Américas, Rio Branco está numa posição central.
Num raio de 1.000 quilômetros de distância, tem-se uma população de quase 40 milhões de pessoas, incluídas aí as populações de Bolívia, Peru, parte do Chile, Colômbia, Equador e outros.
Quando teremos uma Copa do Mundo num desses países? Daí acreditar que Rio Branco tem uma posição geográfica estratégica para a Fifa no plano mundial, porque essas nações irmãs se sentirão em casa com a Copa 2014 acontecendo também no Acre.
As apresentações feitas para o Comitê da Fifa causaram impacto positivo porque trabalharam verdades comprovadas pelas missões encarregadas de visitar o estado. O governo do estado e a prefeitura de Rio Branco envolveram os poderes constituídos e mobilizaram a sociedade para provar ao comitê gestor da Copa no Brasil que o Acre está preparado e disposto a realizar os investimentos que se fizerem necessários para que a Fifa se sinta segura em escolher Rio Branco como sede. A Arena da Floresta, um dos melhores espaços para a prática do futebol no país, teve sua primeira etapa construída no padrão Fifa muito antes de o Brasil ser confirmado como sede. Está projetada para ser um prédio-conceito do ponto de vista ambiental. Daí já ter sido batizada de sede verde. Tudo está sendo feito com os cuidados necessários para receber a certificação de sustentabilidade. Nas últimas Olimpíadas o mundo conheceu o "ninho do pássaro". Na Copa de 2014 no Brasil, poderemos ter em Rio Branco o "ninho da flora", no coração da Floresta Amazônica.
A Fifa promove o maior espetáculo da Terra e reúne a maior audiência entre todos os povos. Quando a bola rolar no Acre, todos os torcedores do planeta serão povos da floresta e a Fifa fará o maior gol de todas as copas, o gol verde.
Jorge Viana VIANA foi prefeito de Rio Branco e governou o Acre de 1999 a 2007. E-mail: jorgeviana.acre@gmail.com
O Globo, 25/01/2009, Opinião, p. 7
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