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COP30 deve dar escala a soluções sustentáveis

Valor Econômico - https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/conferencias-do-clima/noticia/2024/1
13 de Dez de 2024

COP30 deve dar escala a soluções sustentáveis
Conferência de Belém servirá como vitrine de projetos de restauração da floresta e de sociobiodiversidade

Por Vinicius Neder - O Globo, do Rio 13/12/2024

A realização da 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30) em Belém (PA), porta de entrada da porção oriental da Amazônia, será também uma oportunidade para que representantes de diversos países do mundo vejam soluções de desenvolvimento econômico sustentável adotadas pelo Brasil, segundo especialistas e líderes de entidades ambientais.
Essa oportunidade foi debatida no segundo painel do seminário "De Baku a Belém: o futuro climático em debate nas COPs", promovido pelos jornais Valor e "O Globo", com patrocínio da Engie e mediação de Ana Lucia Azevedo, repórter especial de "O Globo".
Segundo Gabriela Savian, diretora-adjunta de políticas públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), diretrizes e uma estratégia de longo prazo, que podem ser oferecidas por tratados internacionais, são importantes para atingir resultados concretos.
Um dos focos do trabalho da entidade, criada há 30 anos em Belém e que atua nos nove estados da Amazônia Legal com projetos de geração de renda ambientalmente sustentável, é "escalar" as iniciativas, para serem aplicadas em outras localidades ou comunidades da região, preferencialmente incorporadas em políticas públicas, de diferentes governos.
"Lá nos anos 2000, pesquisadores internacionais e também nacionais trabalharam para criar uma proposta de valorização da floresta nativa, e foi estabelecido o Redd+ [redução das emissões de desmatamento e degradação florestal, solução de mitigação desenvolvida na Convenção do Clima], para valorizar as florestas em pé", afirmou Savian.
Agora, na presidência temporária do G20, o grupo das maiores economias do mundo, o Brasil conseguiu aprovar a iniciativa de bioeconomia, movimento considerado importante por Savian. "São oportunidades que a gente tem para, a partir da COP30, avançar, deixando um legado, e promover essas soluções, com tecnologias sociais."
Ciro Brito, especialista em políticas climáticas do Instituto Socioambiental (ISA), chamou a atenção para o fato de que a COP30 será também uma oportunidade para o Brasil mostrar sua "democracia ambiental". Ele lembrou que a conferência de Belém se segue após algumas reuniões em "países não democráticos". A COP29, deste ano, foi no Azerbaijão; em 2023, a conferência ocorreu nos Emirados Árabes Unidos; e, em 2022, no Egito.
"Um componente muito importante de democracias fortes, como é o caso do Brasil, é a sociedade civil. A sociedade civil brasileira é internacionalmente reconhecida como uma das mais fortes e organizadas do mundo. Temos capacidade de trabalhar com parceiros, em interlocução com o governo e o setor privado", disse Brito. Ele destacou que a COP30 poderá servir para dar "visibilidade" às iniciativas de organizações da sociedade civil como o próprio ISA e o Ipam, que focam em "florestas e pessoas".
"Algumas dessas iniciativas, que a gente vem buscando dar escala e com a COP a gente gostaria que tivesse ainda mais visibilidade, são projetos de restauração tanto na Amazônia quanto na Mata Atlântica, e de promoção de cadeias das economias da sociobiodiversidade, como cacau, cupuaçu, peixe, entre outras culturas. O grande ativo do Brasil é a floresta em pé, com as pessoas nas florestas", afirmou.
Para Talita Priscila Pinto, coordenadora do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), as pessoas que vivem na Amazônia precisam ser ouvidas quando o assunto é restauração de áreas degradadas ou iniciativas para incentivar que as florestas sejam mantidas de pé.
"Temos uma grande oportunidade de mostrar para o mundo que soluções sustentáveis, baseadas em tecnologias tropicais de baixo carbono, que emitem menos gases do efeito estufa, são possíveis, viáveis e já fazem parte da nossa realidade", disse.
A pesquisadora destacou ainda que seria importante que as conferências do clima das Nações Unidas incluíssem a sociedade como um todo no debate. Isso ajudaria a mudar o comportamento das pessoas perante as mudanças climáticas.
"Eventos como esse, em que conseguimos unir a sociedade civil, trazer a academia e os comunicadores, atingem uma ampla maioria de pessoas, e começamos a conversar com todo mundo na mesma língua. A mudança parte daí, mas não só. Precisamos de uma mudança estrutural, com visão de longo prazo", acrescentou a pesquisadora.
Por outro lado, apesar de projetos bem-sucedidos que apresentam resultados positivos, as ações parecem insuficientes, e as práticas equivocadas ainda prevalecem, ponderou Ricardo Young, presidente do Instituto Democracia & Sustentabilidade (IDS).
"Foi dito aqui, e concordo em algum grau, que o Brasil tem muito a dizer em Belém [na COP30]. O Brasil tem muito a dizer sobre seus erros", afirmou o especialista, mencionando problemas que ele identifica no país. "Esbanjamos o nosso capital, não vivemos do rendimento desse capital. Estamos destruindo a nossa riqueza hídrica, com a devastação das florestas, e estamos liquidando a possibilidade de termos um futuro sustentável em energia. Somos o celeiro do mundo, e estamos acabando com as condições que permitem que sejamos uma potência agrícola", disse.
Para Young, acordos e metas definidos em tratados diplomáticos não adiantarão se não houver uma discussão sobre ética. O presidente do IDS ressaltou que "sabemos exatamente o que temos que fazer" para frear as mudanças climáticas, mas não fazemos "porque temos uma crise ética profunda, que decorre de uma crise de valores".
"A raiz do grande equívoco que vivemos é o antropocentrismo. Acreditamos que o ser humano é a única coisa importante neste planeta, e não somos. Somos profundamente interdependentes, dependentes dos ecossistemas", observou Young. "Uma coisa que temos que fazer em Belém é uma autocrítica sobre essa visão antropocêntrica do mundo."

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