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Controle da sigatoka aumenta a produção

OESP, Agrícola, p. 10-11
15 de Ago de 2007

Controle da sigatoka aumenta a produção
Para enfrentar a doença, bananicultores do Vale do Ribeira trocam o extrativismo por boas práticas de manejo

José Maria Tomazela

Bananicultores do Vale do Ribeira, que detém 80% da produção paulista, estão controlando a sigatoka negra com técnicas de manejo e boas práticas culturais. As ações reduziram o número de aplicação de fungicidas e, ao invés da esperada quebra, muitos tiveram aumento de produtividade.

Presente na região desde junho de 2004, quando o Instituto Biológico (IB) localizou o primeiro foco em Miracatu, a doença foi tida como um flagelo capaz de acabar com a bananicultura na região. O fungo já se espalhou por 23 municípios do Vale, de Registro e parte do Litoral Sul de São Paulo, onde os produtores já conviviam com a sigatoka amarela, menos agressiva.'Mesmo assim, hoje a realidade é outra', diz o agrônomo Gilmar Gilberto Alves, da Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura.

Alves estima que, dos 40 mil hectares de banana do Vale, 20 mil estão nas mãos de extrativistas, sistema em que o controle é mais difícil. Dos restantes, 10 mil hectares têm manejo adequado, e destes, 5 mil hectares - tocados por 70 produtores - produzem bananas que podem ser 'exportadas' para outros Estados, inclusive para os que estão livres da doença.

O Vale do Ribeira produziu, ano passado, 1 milhão de tonelada de banana, praticamente a mesma produção anterior ao fungo. 'E não houve migração para variedades resistentes, pois 60% dessa produção continuam sendo de nanica e dos 40% restantes, quase tudo é prata.' As duas são muito sensíveis ao fungo.

Segundo Alves, são bem sucedidos os que abandonaram o conceito extrativista e passaram a pensar a bananeira como uma frutífera cultivada. Os fungos da sigatoka negra cobrem as folhas e dificultam a fotossíntese, tornando a planta improdutiva. Os frutos não são afetados. O primeiro passo para mantê-la sob controle é adequar o tamanho do bananal à capacidade do produtor. 'Mais valem 20 mil bananeiras bem cuidadas do que 50 mil infestadas.' Talhões muito infestados devem ser erradicados.

A drenagem da área é importante, pois a umidade favorece os fungos. Adubação caprichada também ajuda: planta bem nutrida resiste mais. O excesso de perfilhos (brotos) deve ser eliminado e a desfolha deve ser rotina, com retirada das folhas secas ou contaminadas. Quando a infestação é inicial, pode ser feita uma poda cirúrgica, retirando apenas as partes com sintomas. 'O ideal é enterrar as folhas cortadas, mas a simples deposição no solo reduz em até 80% a emissão de esporos', diz.

Ao lado dessas medidas, segundo Alves, é fundamental o monitoramento da doença. Com as tabelas desenvolvidas pelo Instituto Biológico, o produtor avalia a necessidade de pulverização de acordo com a quantidade de fungo. Na área manejada estão sendo feitas, em média, 10 aplicações por ciclo. No resto do mundo a média é de 20, como no Equador, a 50, caso da Costa Rica. 'Como o tratamento químico representa até 50% do custo, a economia é imensa', diz o técnico. Ele lembra a necessidade de alternar o princípio ativo utilizado para evitar que o fungo crie resistência.

Informações: CDA Registro, tel. (0--13) 3822-2485; IB, tel. (0--11) 5087-1742

Produtor consegue terminar ciclo com apenas 8 aplicações

O produtor René Mariano, de Cajati, é um dos que mantêm a sigatoka negra sob controle total. Os bananais do Sítio São João, no bairro Canha, à margem da BR-116, apresentam folhas verdes mesmo no período do inverno, quando é normal o frio crestar o topo das bananeiras.

Os ajudantes de campo Lourival Batista dos Santos e José Fabiano foram treinados para identificar o avanço do fungo nas bananeiras. Os primeiros sintomas são pequenas estrias marrons na parte de baixo da folha. Com destreza, eles manejam as facas e retiram as partes contaminadas. O monitoramento é feito pelo filho do produtor, o agrônomo Fábio Mariano. Pelo menos uma vez por semana, ele confronta a tabela das planilhas amarradas com as folhas das bananeiras escolhidas como testemunhas. Se as estrias produzidas por fungos atingiram um determinado estágio, ele manda aplicar o fungicida.

"Não pulverizamos à toa, pois o custo é alto", diz René, contando que alguns bananais chegaram a ficar quase 60 dias sem pulverização. "Estamos fechando o ciclo com 8 aplicações." A produtividade de suas plantações está entre as mais altas da região, com média de 30 quilos por planta da nanica e 20 quilos por planta da variedade prata. "Nossa produção continuou crescendo mesmo depois da sigatoka negra", afirma.

A extensão dos bananais também cresce à média de 10% ao ano. As áreas mais antigas de banana nanica estão sendo reformadas. Os bons resultados permitiram que Mariano investisse também na parte ambiental. Ele retirou os bananais e plantou árvores nativas em áreas de mananciais. No entorno das casas dos empregados, as variedades nanica e prata foram substituídas pela galil 18, tolerante à sigatoka e que não precisa de pulverizações. Os sacos plásticos usados para proteger os cachos não vão para o lixo: são reciclados e transformados em mantas almofadadas, usadas para forrar as carretas durante o transporte.

O sistema de controle da sigatoka no Vale do Ribeira atrai produtores de outras regiões. Na semana passada, um grupo técnico do Estado de Tocantins visitava os bananais para conhecer as técnicas. "Já recebemos grupos de Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pará e Maranhão, e temos agendado o Paraná", conta Gilmar Gilberto Alves, da Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura.

OESP, 15/08/2007, Agrícola, p. 10-11

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