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Contrariado com possibilidade de sair de Raposa Serra do Sol, fazendeiro diz confiar na Justiça

Agência Brasil
Autor: Marco Antônio Soalheiro
10 de Mai de 2008

Lago de Caracaranã - Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) - Com 85 anos de idade, Joaquim Corrêa vive há pelo menos 81 em uma propriedade de 2 mil hectares às margens do Lago Caracaranã, que ficou dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol depois da demarcação em área contínua feita pelo governo federal.

Ele exibe um título de posse da área datado de 1886 que herdou dos antepassados, e se diz "contrariado" com a possibilidade de deixar a terra sem receber uma indenização que considere adequada, caso o Supremo Tribunal Federal confirme a legalidade da demarcação.

"Eu sou nativo, nasci e me criei aqui. Me sinto vítima de uma injustiça", reclama o homem viúvo, com sete filhos, 17 netos, bisnetos e até um tataraneto, que freqüentam a propriedade.

Joaquim, que se diz eleitor de Lula desde 1989, quando o então candidato visitou sua terra, chegou a enviar uma carta ao presudente há cerca de dois anos reclamando do valor oferecido pela Fundação Nacional do Índio como indenização para que saísse da reserva.

A proposta do órgão federal foi de R$ 360 mil, enquanto ele estima que o valor justo seria pelo menos R$ 1 milhão. Alega que obteve uma resposta protocolar, para que encaminhasse as queixas à Casa Civil. Fez o sugerido e recebeu outra resposta de que o assunto seria avaliado.

A mágoa foi o que restou dos contatos. "Me decepcionei. Não vou dizer que ele [ presidente da República] fez um mal governo em nível nacional, mas para Roraima foi um desastre. O pronunciamento que está vindo dele é de que não vai ceder em relação à demarcação, mas se respeitar a decisão do Supremo, já está de bom tamanho", avalia Joaquim. "Agora já passei da idade e nem tenho mais intenção de votar", acrescenta.

O lago de Caracaranã, um dos pontos turísticos mais belos de Roraima, está a 166 quilômetros de Boa Vista. Parte do trajeto é em estrada de terra, onde há muitos animais na pista. A propriedade de Joaquim Côrrea já funcionou com uma espécie de balneário, com chalés, bares e uma praia de água doce e cristalina. Mas segundo um de seus genros, o movimento caiu após a perspectiva de retirada dos não-índios da área e a colocação de uma placa dizendo que só poderia se ingressar ao local com autorização da Fundação Nacional do Índio.

Questionado se preferia receber R$ 1 milhão ou permanecer na propriedade, Côrrea disse que teria que consultar a família. Alegou temer que haja perseguição aos não-índios, caso o STF autorize a permanência deles lá , mas reiterou confiar em duas "justiças" para que se chegue a uma solução positiva para o impasse: "A primeira esperança é justiça Divina e a última justiça dos homens. Acredito que são pessoas [os ministros do STF) que tenham caráter e amor à pátria".

O relator das ações pendentes no STF que contestam a demarcação da Raposa Serra do Sol é o ministro Carlos Ayres Britto, que disse nesta semana estar com o voto praticamente concluído. Caberá ao presidente da corte, ministro Gilmar Mendes, marcar uma data para o julgamento no plenário, que pode ocorrer ainda em maio.

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