VOLTAR

Contradições da agricultura brasileira

FSP, Tendência/Debates, p. A3
Autor: PINTO, Luis Fernando Guedes; PINTO, Luís Carlos Guedes
24 de Nov de 2016

Contradições da agricultura brasileira

Luís Fernando Guedes Pinto e Luís Carlos Guedes Pinto

A agricultura brasileira cresceu e se transformou nas últimas décadas, alcançando importância global. Passamos de importador de alimentos para um dos maiores exportadores de commodities do mundo devido ao aumento da área cultivada e, principalmente, a um grande aumento de produtividade.
De 1991 a 2015, a produtividade de grãos aumentou de 1.528 para 3.593 kg/ha, enquanto o valor das exportações cresceu mais de sete vezes. Já o preço da cesta básica de alimentos diminuiu 40% entre 1970 e 2010.
As políticas públicas, o empreendedorismo dos produtores e os investimentos das cadeias produtivas determinaram um ciclo de modernização da agricultura no qual a sua enorme contribuição para a economia está associada a impactos ambientais e sociais.
A maior parte da riqueza gerada pelo setor passou do campo para as etapas antes e após os cultivos. A terra, a produção e a renda são concentradas em um grupo relativamente pequeno de grandes produtores, enquanto a pobreza permanece para muitos pequenos agricultores.
Menos de 1% dos mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais produzem 51% da renda; já 66% dos agricultores têm renda inferior a um salário mínimo.
As condições de trabalho permanecem precárias para muitos trabalhadores assalariados e a violência no campo, na disputa pela terra, ainda não foi superada.
As hegemônicas monoculturas e a revolução verde contrariam o princípio ecológico da diversidade nos trópicos e exigem cada vez mais energia. Assim, passamos a ser o maior consumidor mundial de agrotóxicos, além de um dos países líderes no desmatamento e na emissão de gases de efeito estufa.
Os indicadores de resultado do setor não acompanharam a sua dinamização. Norteiam aumentos de produção e produtividade, resultando em políticas que somente incorporam as novas agendas de equidade e sustentabilidade de maneira marginal, embora elas tenham migrado para o centro da sociedade.
Há um esforço para transitarmos do predatório e precário para o responsável e sustentável, mas não sabemos o tamanho de cada situação. É urgente a realização do censo agropecuário por diversas vezes adiado.
Dessa forma, a trajetória do setor e suas políticas públicas precisam ser revistas para que a agricultura possa alcançar o seu potencial de contribuir para a geração de riqueza, conservação ambiental e equidade.
O crédito, a pesquisa e a assistência técnica devem ser atualizados e combinados com instrumentos que garantam a renda do produtor, induzam mudanças tecnológicas, fortaleçam a gestão da propriedade e resultem em uma nova geração de sistemas de produção tropical eficientes, estáveis e resilientes.
Assim, poderão fornecer serviços ambientais para uma agricultura realmente sustentável.

LUÍS FERNANDO GUEDES PINTO, engenheiro agrônomo, é gerente do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola). É membro da Rede Folha de Empreendedores Sociais
LUÍS CARLOS GUEDES PINTO, engenheiro agrônomo, é professor titular aposentado do Instituto de Economia da Unicamp. Foi ministro de Agricultura (governo Lula)

FSP, 24/11/2016, Tendência/Debates, p. A3

http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/11/1834976-contradicoes-da-ag…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.