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Contrabando silvestre

CB, Brasil, p. 12
11 de Mai de 2006

Contrabando silvestre
Ibama e Polícia Federal enfrentam dificuldades no combate ao comércio ilegal de animais. Técnicos reclamam que a lei é branda e não diferencia bandidos de criadores domésticos

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

Uma mulher de 30 anos foi presa no Aeroporto Internacional de Manaus (AM) tentando embarcar para a Venezuela com dois espécimes de mico-leãozinho. Como o bicho mede poucos centímetros, a traficante de animais conseguiu esconder um deles sob o cabelo e outro embaixo da saia. Na hora do embarque, o animal se desembaraçou da cabeleira da mulher e saltou no chão, chamando a atenção dos agentes da Polícia Federal que faziam plantão. A traficante correu ao banheiro, tirou o segundo animal vivo da saia e o jogou no vaso sanitário. Deu a descarga em seguida.

O relato acima é de José Lalane Barroso, analista ambiental do Instituto Brasileiro de Recursos Naturais e Renováveis (Ibama) do Amazonas. Ele conta que a cena ocorreu há uma semana e é corriqueira nos aeroportos de todo o país. Na última segunda-feira, a polícia apreendeu 352 pássaros silvestres na cidade de Cajatí, no Vale do Ribeira (SP). Entre os pássaros haviam espécimes de sanhaço, tuim, bico-de-pimenta, tiê-sangue, picharro e sabiá. Segundo o Ibama, os pássaros foram capturados em arrozais da região e seriam vendidos em um único lote por R$ 5.300. Outro alvo da quadrilha era o exterior, onde cada espécie chega a custar US$ 500.

Lalane catalogou todos os animais silvestres da fauna brasileira que são cobiçados no mercado internacional. "A arara-azul-de-lear é a mais cotada", ressalta. Na Europa, essa ave é vendida, em média, por US$ 30 mil. Na Ásia, um exemplar jovem e sadio chega a custar US$ 150 mil. No segundo lugar do ranking internacional está o galo-da-serra, que chega a ser vendido por US$ 120 mil pela internet e nos pet shops clandestinos nos Estados Unidos.

Ele relata que o Ibama conseguiu recuperar com vida os dois micos-leãozinhos de Manaus que seriam vendidos. A mulher foi presa e solta no mesmo dia. "A pena para quem trafica animais silvestres no Brasil é muito branda", destaca o chefe de Fiscalização da Divisão de Fauna do Ibama, Roberto Cabral. "Quem é flagrado tentando embarcar animais para o exterior, por exemplo, comete o mesmo crime de quem cria um papagaio em casa. Ou seja, pode pegar só entre seis meses e dois anos de prisão e pagar multa. Mas raramente alguém fica preso por mais de um dia", lamenta.

Projetos
O Ibama e a Polícia Federal enviaram ao Congresso no final do ano passado duas propostas para alterar a legislação e deixar mais severa a pena para crimes de tráfico de animais. No entanto, não há sinal de modificação até o momento. Pelo contrário. "A Justiça brasileira está passando por cima da administração pública em alguns estados, facilitando o tráfico de animais", acusa Cabral. Ele se refere a uma decisão da Justiça do Rio Grande do Sul que determinou ao Ibama devolver a um senhor de 60 anos um macaco-barriga, que havia sido capturado na Amazônia, seu habitat natural, e vendido em Porto Alegre. O Ibama apreendeu o animal, mas o senhor que se dizia dono do bicho entrou na Justiça alegando que estava dependente emocionalmente do macaco e que precisava dele para sobreviver. O homem ganhou a causa e teve o macaco de volta.

Outro problema é a falsa legalização de aves silvestres. O golpe é simples. Criadores credenciados pelo Ibama que têm aves com anilhas estão retirando o selo de metal dos pés de aves regulares e pondo nas aves capturadas. Os traficantes usam a internet para vender os anéis, que chegam a custar R$ 5 mil. Para por a anilha no pé do animal sem violar o lacre, os criadores dão preferências para aves recém-nascidas. Alguns criminosos chegam a mutilar o animal para enfiar o anel à força. Existem no país 1,2 milhão de anilhas e mais de 170 mil criadores regularizados. "Vamos começar a fazer uma revisão de todas as anilhas para tentar barrar esse crime", avisa Cabral.

CB, 11/05/2006, Brasil, p. 12

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