VOLTAR

Contra seca, governo deve usar usinas reversíveis

O Globo, Economia, p. 31
28 de Dez de 2014

Contra seca, governo deve usar usinas reversíveis

DANILO FARIELLO
danilo.fariello@bsb.oglobo.com. br

Modelo de geração de energia que reaproveita água e é usado em vários países já atrai interesse de empresas
A seca deste ano e a situação de escassez de água nos reservatórios das hidrelétricas fizeram o governo federal começar a discutir a instalação no país de um modelo de usinas conhecido como reversíveis. Nessas unidades, a água que passa pelas turbinas gerando energia pode ser armazenada e bombeada de volta ao reservatório principal pelo mesmo canal, para gerar eletricidade novamente no futuro. Mesmo que essas usinas não sejam tão eficientes como as convencionais, a flexibilidade pode aliviar os custos de todo o sistema no período de pico de consumo, em que são usadas as térmicas a diesel, que são muito caras.
Na Europa, América do Norte e Japão, onde a geração térmica é predominante, o volume de usinas reversíveis é grande e usada há décadas. No Brasil, empresas, como Cesp e CEEE, consultores independentes e universidades já calculam o potencial de instalação de usinas reversíveis, indicando potencial de até 200 mil MW, mas seria necessária a chancela do Ministério de Minas e Energia e da Empresa de Pesquisa Energética ( EPE) para a efetivação desses investimentos.
- Esses levantamentos já apresentados servem como um pontapé inicial para a discussão - disse Carmo Gonçalves, gerente de projeto eletromecânico de hidrelétricas da Eletronorte.
Até agora, esse modelo não era muito considerado, porque no Brasil sempre houve abundância de água nos reservatórios, com volume suficiente para suprir meses de demanda, eliminando o custo maior de geração de energia nos horários de pico. Mas, diante da recente escassez de água nos reservatórios e a intermitência da geração de energia eólica e outras fontes alternativas, o sistema reversível passou a ser cogitado para novas usinas ou mesmo na ampliação das existentes.
- As usinas reversíveis não se aplicavam ao Brasil quando tínhamos grandes reservatórios, mas o sistema sofreu uma mudança e elas se tornaram importantes, porque teremos 25% do nosso parque gerador de térmicas, além de muitas usinas eólicas, de biomassa e solar, que não funcionam o tempo todo, assim como as novas hidrelétricas da Amazônia a fio d'água. As usinas reversíveis aumentam a confiabilidade do atendimento da carga, com maior capacidade na ponta do sistema (hora de maior consumo) - disse Altino Ventura, secretário de planejamento energético do Ministério de Minas e Energia.
Em novembro, a Eletronorte promoveu um seminário sobre as usinas reversíveis. E o que era para ser um seminário para 80 participantes, acabou atraindo mais de 200 pessoas, inclusive presidentes de empresas que fornecem turbinas reversíveis.

Sistema garante mais estabilidade à produção de eletricidade
Cobrança teria que ser revista, para tornar viáveis novas usinas

Gerente de projeto eletromecânico de hidrelétricas da Eletronorte, Carmo Gonçalves afirma que as usinas reversíveis tendem a gerar energia no meio da tarde, quando o consumo é mais elevado e o custo de geração maior. Parte da água que corre pelas turbinas poderia ser armazenada em um reservatório menor, para na madrugada ser bombeada de volta ao reservatório principal:
- A usina hidrelétrica reversível pode aumentar a energia firme (garantida) do sistema elétrico, porque funciona como se tivesse grandes reservatórios.
Para Altino Ventura, do Ministério de Minas e Energia, essas usinas podem não só guardar energia durante um período e gerar no outro, como o bombeamento pode armazenar energia durante períodos úmidos para gerar mais na época de seca.
Para as usinas reversíveis se tornarem realidade, o país precisaria adotar um modelo de cobrança que diferencie seu preço ao longo do dia, acompanhando o custo de geração, que sobe nas horas de pico. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já vem trabalhando nesse modelo, conhecido como "tarifa branca". O custo de instalação de uma usina reversível, segundo Gonçalves, é um pouco superior em 10% ao de uma hidrelétrica comum e o custo de geração, cerca de 20% maior. (Danilo Fariello)

A CONTA

A PARTIR de 1o de janeiro, as contas domésticas de energia serão acrescidas de um custo extra de R$ 3 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. É APENAS uma parte do rombo provocado pela desastradas intervenções do governo federal no setor elétrico. Para o consumidor, o cenário de 2015 apresenta ainda a possibilidade de racionamento de energia. ESTE É o resultado de uma política feita com pouca, ou nenhuma, racionalidade.

O Globo, 28/12/2014, Economia, p. 31

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.