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Contra o atraso

O Globo, Panorama Político, p. 2
24 de Nov de 2003

Contra o atraso

A discussão ideologizada sobre a questão dos transgênicos pode levar o Brasil a perder o bonde da História também na área da biotecnologia. Cientistas e políticos, de diversas matizes, chegaram à conclusão que o projeto do governo favorece os interesses dos grandes monopólios da indústria química. Mantido o texto original, só multinacionais terão recursos para pesquisar no Brasil.

Depois de ter aprovado as reformas da Previdência e tributária, o líder do governo na Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), considera esta a mais dura batalha que terá pela frente. Como relator, ele não estará lutando contra fatos e argumentos, seus maiores adversários serão o medo do novo, a ignorância e o preconceito. Mesmo sabendo dos riscos que corre, decidiu que vai trabalhar para que sejam fixadas regras mais flexíveis para a pesquisa de organismos geneticamente modificados e normas mais duras para a fiscalização dos efeitos no meio ambiente da exploração comercial dos produtos transgênicos.

- Toda legislação que for exigente demais em matéria de pesquisa favorece os monopólios. Inviabilizar a pesquisa biotecnológica no país, criando sucessivos obstáculos burocráticos, é garantir o monopólio para empresas como a Monsanto (detentora da semente RR de soja) - diz Aldo.

Esta posição tem o endosso de cientistas como José Parra, Franco Lajolo, Hernán Chaimovich e Wanderley da Costa que, em manifesto de 29 de outubro, alertam sobre os riscos dos entraves burocráticos à pesquisa: "Todos esses entraves estão contribuindo para a marginalização da ciência brasileira e do país em relação aos avanços recentes, particularmente quanto às novas aplicações no agronegócio".

Mas os ambientalistas, que se articulam com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, tem outra preocupação: o eventual desequilíbrio de ecossistemas que essas plantas poderão causar. Diante desse argumento, pesquisar o que pode fazer mal é tão danoso quanto eventualmente poderá vir a ser o cultivo da soja transgênica. O tema divide o PT. Mas entre os petistas também há os que se preocupam com uma decisão que pode fazer o país perder uma nova batalha tecnológica. A assessora da área de política agrícola da bancada, Maria Pedroso, adverte: "O mundo está desenvolvendo inúmeros transgênicos e o Brasil não pode ficar para trás nesse processo, pois corremos o risco de os outros países patentearem seus transgênicos e os nossos agricultores terem que, eternamente, pagar royalties ".

O Globo, 24/11/2003, Panorama Político, p. 2

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