GM, Gazeta do Brasil, p.B28
31 de Ago de 2005
Contra danos ambientais, produção será monitorada
Entidade vai receber verba de R$125 mil, da Finep, para mapear criação e analise de qualidade.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) - entidade qualificada pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, junto a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) - trabalha na implementação do Sistema de Gestão Integrada de Informação da Rede Nordestina de Pesquisa de Carcinicultura (Recarcine), que vai monitorar e planejar melhor a carcinicultura no Nordeste brasileiro. A investida conta com recursos globais de R$ 125 mil, da Finep.
No Ceará, o projeto contempla o mapeamento geo-espacial da produção, que vai coletar e analisar informações existentes, identificar áreas ocupadas com fazendas de carcinicultura e áreas de maior potencialidade para implantação de novos projetos. "Vamos estruturar uma base de dados geo-ambientais das atividades de camarão do Estado", adianta Margareth de Souza Carvalho, gerente do Departamento de Recursos Ambientais (Deram) da Funceme, para quem a proposta vai além da preocupação ambiental, pois trata de assegurar o desempenho da produção. "Vamos formar um grande banco de dados."
O trabalho realizado pela Funceme, com prazo estimado para 24 meses, envolve a atualização da pesquisa pioneira, feita pela entidade em 1989, abrangendo a região litorânea do Norte e Nordeste do País. O levantamento da época identificou uma área potencial de 6.405 hectares no Ceará, dispersos nos diversos estuários, com características favoráveis ao cultivo de camarão marinho. "Hoje dispomos de imagens de alta resolução e de técnicas modernas para atualizar esse mapeamento", explica Margareth.
Expansão da atividade
O Estado - que iniciou a expansão da atividade em 1980, quando as primeiras unidades foram instaladas próximo aos rios Acaraú, Jaguaribe e Pirangi - tem 191 produtores (fazendas), 3,8 mil hectares de cultivo e produziu ano passado 19,4 mil toneladas do crustáceo, conforme dados do Censo de 2004, da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), divulgado no inicio deste ano. No Brasil, o número de fazendas nos 14 estados produtores chega a 997 e a área cultivada 16,5 mil hectares, ainda de acordo com a ABCC. Do total de empreendimentos no País, somente 470 têm licença ambiental, informa a entidade.
A implementação do trabalho leva em conta o avanço contínuo da ocupação da terra pelo uso desordenado das planícies flúvio-marinhas e fluviais, ocupadas com a carcinicultura, adianta Margareth. "Como essas áreas são vulneráveis à degradação, o levantamento vai possibilitar o planejamento racional da atividade", afirma Margareth, ao lembrar que a atividade tem grande alcance social, gerando emprego e renda para as comunidades.
A Superintendência estadual do Meio Ambiente (Semace), responsável por liberar o licenciamento para implantação das fazendas, e que também controla e monitora os projetos, baseada em imagens de satélite, contabiliza 388 projetos. Do total, 110 ainda em processo de licenciamento, segundo informa a coordenadora, Maria Dias.
O resultado de todas as pesquisas realizadas por meio do Recarcine será reunido em um banco de dados único. A Finep pretende viabilizar base de informações científicas sobre a carcinicultura no Nordeste e manter uma rede de comunicação entre segmentos do governo, universidade e setor produtivo.
O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, observa que os empresários deveriam ser ouvidos, pois têm vivência e sabem bem onde está o conflito e quais as demandas. "Temos muitas informações, mesmo via satélite, que não ajudam em nada", diz. Só a entidade gastou mais de R$ 300 mil em um levantamento. "Estamos implantando ainda programas como gestão de qualidade, de rastreabilidade, de valor agregado, biossegurança e promoção das exportações, sem agredir o meio ambiente", afirmou Rocha.
Desvio de fluxo
Os criadores de camarão em cativeiro já foram acusados de modificar o fluxo das marés, acabando com a biodiversidade, além de causar destruição no ecossistema de manguezais e alterar e contaminar o regime hídrico. Rocha afirma que essas alegações não levaram em consideração o acervo científico de instituições como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Instituto de Ciências Marinhas (Labomar), da Universidade Federal do Ceará e a Universidade Federal de Santa Catarina sobre os ambientes costeiros, que atestam a existência de uma convivência harmônica com esses ecossistemas. Um dos estudos, realizado pelo Labomar e pela Sociedade Internacional para o Ecossistema Manguezal, aponta que a cobertura nessas nos estados do Piauí, Ceará, RN, Paraíba e Pernambuco cresceu 37,02% (16,4 mil hectares) entre 1978 e 2004.
kicker: Trabalho da Funceme tem prazo estimado para 24 meses e envolverá atualização da pesquisa feita pela entidade em 1989
GM, 31/08/2005, p. B28
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