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Consultoria desaconselha hidrovia

Diário de Cuiabá-MT
Autor: JOANICE PIERINI LOUREIRO
22 de Fev de 2001

Estudo diz que corredor fluvial é um risco do ponto de vista social, ambiental e econômico

O rio Araguaia, cuja hidrovia está embargada pela Justiça Federal: crescente oposição de grupos indígenas, pequenos produtores e ongs

A Amazon Financial Information Service (Afis), um sistema de consultoria financeira com sede em Washington (EUA), divulgou no final de janeiro que a Hidrovia Araguaia-Tocantins está na lista vermelha de empreendimentos na América Latina em virtude de suas implicações sociais, econômicas e ambientais. Além da hidrovia, somente outros sete empreendimentos na América Latina são desaconselhados pela consultoria.

De acordo com a Afis, que incluiu a hidrovia na chamada red listed mês passado, os principais riscos do investimento estão no fato do projeto possuir uma crescente oposição de grupos indígenas, pequenos produtores rurais e organizações ambientais internacionais. Além disso, a Afis cita que o projeto está suspenso pela Justiça, que alegou manipulação e fraude na avaliação ambiental da licença do empreendimento. Um mandado de segurança, da presidência da 1ª Região do Tribunal Regional Federal (TRF), aguarda votação desde o final de 1999.

Os povos indígenas (11 tribos entre dois rios) e as organizações internacionais têm feito campanha contra a construção da hidrovia usando recursos legais, políticos e da mídia para parar o projeto, aponta a consultoria. A notícia foi gerada tal como uma das 2000 Histórias do Mundo da BBC (de Londres), reivindicando que o projeto arrisca se tornar um desastre, o maior do Brasil. Diversas universidades brasileiras estão se opondo ao projeto pelo fato do EIA (Estudo de Impacto Ambiental) não considerar a fragilidade da bacia do Rio de Araguaia, e que a construção do canal pode causar um desequilíbrio ao sistema regional inteiro da água, indica a Afis.

A hidrovia Araguaia-Tocantins, ou canal industrial como a denomina a Afis, propõe-se a transportar grãos, minerais e madeira, do Centro-Oeste brasileiro até o Oceano Atlântico, pelos rios Araguaia, Tocantins e das Mortes, passando por Mato Grosso, Maranhão, Goiás e Pará. Se terminado, este projeto envolveria trabalhos em 87 pontos ao longo de 1.782 quilômetros de rios. Os projetos da engenharia incluem drenagem, remoção da rocha e construção de bóias, diz a consultoria.

Sob o ponto de vista geológico, a Afis cita um estudo feito pela Fundação Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural (Cebrac), com sede em Brasília, onde o Araguaia é descrito como um rio de cheias, que captura sedimentos na terra. A remoção de diques rochosos naturais poderia causar a desestabilização dos sedimentos. A drenagem de áreas inundadas rio acima causaria sedimentação e cheias do rio abaixo, o que poderia afetar o projeto da Hidrovia.

Além das questões ambientais, a Afis aponta ainda que a chave do sucesso da hidrovia depende do desenvolvimento da extração de recursos minerais e dos projetos agrários, cujos resultados seriam transportados comercialmente ao longo dos rios. Entretanto, existem conflitos pela terra, o que pode converter-se em risco político para a hidrovia, afirma a consultoria. A Afis cita um estudo do professor da Universidade de São Paulo (USP), Ariovaldo Umbelino, segundo o qual parte significativa das terras às margens dos rios foram obtidas através de títulos ilegais em processo que envolveram matança de índios.

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