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Construção de usina não afasta risco de apagão

OESP, Economia, p. B7
27 de Jun de 2007

Construção de usina não afasta risco de apagão
Sistema pode ter problemas antes da entrega de Angra 3, que, para especialistas, apenas permite o planejamento de novos investimentos

Renée Pereira

A entrada em operação de Angra 3, em 2013, dará mais fôlego à expansão do setor elétrico brasileiro, mas não afasta o risco de racionamento no curto prazo. Segundo cálculos de especialistas e entidades do setor, o sistema elétrico começará a dar sinais de vulnerabilidade em 2009. 'A partir daí passaremos a depender das chuvas, do humor de Evo Morales (presidente da Bolívia) e do grau de crescimento do País', afirma o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires.

Segundo ele, se tudo isso ajudar não teremos restrições em 2009, 2010 e 2011. 'A construção de Angra 3 não mexe em nada nesse período, apenas dá às empresas eletrointensivas a sinalização de que haverá energia no longo prazo. Portanto, permite o planejamento de novos investimentos no País', diz o executivo, referindo-se à reclamação do presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, sobre as incertezas de expansão no setor.

O presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, argumenta que para evitar um racionamento o governo terá de assegurar que não haja atraso no cronograma de entrada de operação das usinas. Fato que não tem ocorrido com as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo Sales, até agora 9 dos 25 empreendimentos previstos no programa estão em atraso.

Além da entrada dessas usinas, um caminho para diminuir os riscos de desabastecimento são as fontes alternativas, como a biomassa. Para Sales, esse potencial poderia ser melhor explorado, tendo em vista a enorme capacidade do setor sucroalcooleiro, com a expansão da produção de açúcar e álcool. Ele completa que não se pode descartar as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que poderiam ficar prontas em menos tempo, em torno de três anos.

O País também dependerá das negociações da Petrobrás para a compra de gás natural liquefeito (GNL) para abastecer as térmicas. 'Mas não temos certeza de que vamos conseguir comprar o combustível. No curto prazo, a Petrobrás terá de comprar GNL no mercado à vista. Contrato firme só a partir de 2012', diz Pires. Ele destaca que isso significará aumento de custo da energia, já que o preço do GNL por contrato firme está entre US$ 6 e US$ 7 por milhão de BTU (unidade térmica britânica).

No mercado à vista fica entre US$ 10 e US$ 15. 'Estamos numa roleta-russa.'

Outro especialista que não está nada otimista com o futuro do setor é o coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa. 'Se o País crescer mais de 5% ao ano e tivermos algum problema hidrológico, podemos ter problemas já em 2009.' Em relação à Angra 3, ele não acredita que a usina seja opção nem para 2013. 'Angra 2 demorou 25 anos para sair do papel. Não acredito que seja fácil construir Angra 3.'

Não só o Brasil pensa em nuclear
Jamil Chade
As principais economias emergentes começam a olhar para a energia nuclear como um dos ingredientes para solucionar a demanda por energia nos próximos anos. Segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Brasil não é o único que volta a pensar seriamente em seus projetos atômicos.

No total, quase 20 países estão em consultas com a agência para a construção nos próximos anos de reatores, entre eles Turquia, Tailândia e Indonésia.

Atualmente, existem cerca de 438 usinas de geração de energia nuclear no mundo, um quarto delas nos Estados Unidos. Outras 31 estão em construção, número que deverá explodir a partir de 2010 se todos os projetos iniciados pelos países emergentes forem concretizados.

OESP, 27/06/2007, Economia, p. B7

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