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Conselho Indigenista denuncia abandono

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: MARIA ANGÉLICA OLIVEIRA
25 de Fev de 2005

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou nota à imprensa ontem criticando a falta de políticas para os povos indígenas do Brasil. O documento, intitulado "Paz e terra aos povos indígenas", foi elaborado durante o encontro de todas as coordenações do Cimi, que está sendo realizado em Chapada dos Guimarães. De acordo com registros do Conselho, em Mato Grosso, 33 áreas estão à espera de homologação. Em todo o país, são 438.

"E nos casos onde a terra é homologada freqüentemente tem invasão por parte de madeireiros e plantadores de soja", denuncia o presidente do Cimi, dom Gianfranco Masserdovti. Entre os casos tratados como preocupantes estão a terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, a terra indígena Cachoeira Seca, no Pará, e a terra indígena do povo Myky, em Mato Grosso, próxima ao município de Brasnorte.
De acordo com uma das coordenadoras do Cimi no Estado, Maristela Torres, funcionários do conselho e outros missionários estão sendo ameaçados de morte por tentar frear a ação de madeireiros dentro da terra Myky, que acabam aliciando as lideranças. "É o dinheiro fácil. O madeireiro vai lá, leva uma cesta básica e sai com um caminhão de madeira", conta.
Além dos danos ao meio ambiente, a ação dos madeireiros tem trazido problemas aos índios. "Tem causado desestruturação na comunidade, entrada de bebida e o alcoolismo", denuncia. Segundo ela, a exploração ilegal de madeira no local começou há cerca de dez anos. Nos últimos quatro, conta, a situação piorou. A etnia possui 98 índios. Quando foram contactados, na década de 70, eram apenas 26.
O povo também reivindica duas áreas próximas à reserva (de 56 mil hectares), que ficaram de fora quando houve a demarcação, na década de 80: um tucunzal, onde coletam tucuns para fazer artesanato, e o castanhal, onde coletam castanhas usadas na alimentação.
Outra preocupação do Cimi em Mato Grosso é com o arrendamento de terras indígenas por parte de sojicultores, como já acontece com os pareci e os xavantes. Estes últimos na aldeia Sangradouro. "O Cimi parte do princípio dos direitos indígenas que o usufruto é exclusivo dos povos. Na verdade, quem lucra não são os povos, são esses grupos (de fazendeiros)", denuncia a coordenadora.

Na questão de conflitos, uma situação que coloca o conselho em alerta é a dos xavantes da aldeia Marãiwatsede, que atualmente convivem com posseiros e fazendeiros na região de Alto da Boa Vista, enquanto a justiça não decide a quem a área pertence. Maristela cita ainda os Kayabi e Apiacá, que também tiveram áreas importantes deixadas de lado durante a demarcação. "De dois anos para cá não se tem conseguido ampliação e demarcação", cutuca.

A crítica ao governo federal fica claramente expressa na nota divulgada pelo Cimi. "A Funai, em alguns lugares, se reduziu a ser uma entidade assistencial dos povos indígenas e bastante sucateada", desabafa o presidente do Cimi.

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