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Conheça negócios sustentáveis que são alternativa para preservar a Amazônia

O Globo, Economia, p. 32
27 de Set de 2020

Conheça negócios sustentáveis que são alternativa para preservar a Amazônia
Crescem as ações para fomentar atividades nas quais os ganhos dos produtores dependam da manutenção da floresta

Danielle Nogueira

RIO - Os recentes recordes de desmatamento na Amazônia e as críticas à política ambiental para a região reforçaram entre especialistas a tese de que, para manter a floresta em pé, é preciso desenvolver negócios sustentáveis. Atividades que não apenas preservem a biodiversidade, mas também gerem o desenvolvimento econômico-social das comunidades locais e incentivem a preservação.

Com esse objetivo, crescem iniciativas para fomentar pequenos empreendimentos que sirvam de contraponto ao avanço de atividades como pecuária e monoculturas de grãos, que podem incentivar o desmatamento.

A Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA) é uma dessas iniciativas. Tem um braço que funciona como uma aceleradora, ou seja, dá aquele empurrãozinho em start-ups, cooperativas ou empresas que ainda estejam engatinhando. Desde que foi implementado, no fim de 2017, 30 candidatos já foram selecionados. Alguns conquistaram até o mercado internacional.

É o caso da cooperativa de seringueiros liderada pelo paraense Francisco Samonek, a Seringô. Com cerca de 1.500 cooperados, a maioria mulheres, a organização vivia da venda de borracha para a indústria automotiva.

Por volta de 2014, Samonek passou a incentivar a produção de artesanato. A adesão de cooperados foi crescente: um quilo de borracha passou a render R$ 300 com as peças artesanais. Vendida em seu estado bruto gerava R$ 2.

Necessidade de parcerias
O passo seguinte foi montar uma fábrica para produzir sandálias e outros calçados de borracha. Samonek teve ajuda da PPA para formação de pessoal, melhoria da governança e captação de recursos.

Hoje, a fábrica, erguida em Castanhal (PA), tem capacidade para produzir quatro mil pares mensais, acaba de firmar contrato com uma trading para exportar mil pares por mês e busca financiamento para aumentar a linha de produção para 30 mil pares.

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- A ideia é remunerar melhor o seringueiro, para que ele mantenha sua identidade de preservação da floresta. Tem que ter renda aqui, para ele não desmatar para produzir - diz.

Segundo o empreendedor, cada seringueiro consegue preservar 300 hectares de floresta, área de que precisa para manter sua produção. A manutenção da mata associada à geração de renda é justamente o que a PPA busca com seu apoio a projetos. O braço de aceleração é financiado pela Usaid, agência ligada ao governo americano, Fundação Vale e Instituto Humanize, entre outros parceiros.

- O governo não vai resolver a questão da Amazônia sozinho. Nem só as ONGs. Por isso, articulamos essa convergência com o setor privado - diz Alexandre Alves, especialista em engajamento do setor privado e parcerias da Usaid, uma das idealizadoras da PPA.

O Centro de Empreendedorismo da Amazônia, organização sem fins lucrativos com sede em Belém, também fomenta pequenos empreendedores. Um de seus programas é o Amazônia Up, voltado para estudantes e recém-formados, estágio anterior à PPA.

Enquanto nesta última a maioria dos candidatos já fundou um negócio ou uma start-up, no Amazônia Up, o objetivo é transformar uma ideia em realidade. Desde 2017, quase 60 projetos foram selecionados.

- Nem todos evoluem para um negócio. Um dos principais entraves é a falta de investidores-anjo. Por isso, nosso foco agora será atrair esses investidores - diz Raphael Medeiros, diretor executivo do Centro de Empreendedorismo.

Superar o desafio da logística é um dos objetivos do Projeto Origens, criado pelas ONGs Imaflora e Instituto Socioambiental (ISA). O projeto trabalha com selos de garantia de origem e conecta uma rede de produtores da região amazônica com os centros consumidores no resto do país. Assim, viabiliza pequenos negócios na floresta.

É uma das iniciativas financiadas com recursos do Fundo Amazônia. Com a suspensão do fundo em 2019, busca parceiros privados. Desde o início do Origens, em 2016, já foram comercializados R$ 7,5 milhões na plataforma, que reúne 1.800 produtores e 22 empresas parceiras. São desde sites de e-commerce como o BemGlô, da atriz Gloria Pires, até grandes grupos varejistas, como o Pão de Açúcar.

- O projeto funciona como um sistema de garantia de origem socioambiental dos pequenos negócios. São eles que aumentam a resiliência dos povos frente ao desmatamento - diz Patricia Gomes, coordenadora do Origens.

Pedro Pereira é um dos extrativistas que integram o Origens. Filho de seringueiros da região do Xingu (PA), ele encontrou na produção de castanha e óleo de copaíba um meio mais rentável que o extrativismo da borracha.

Até aderir ao Origens, vendia a castanha para o chamado regatão, homem que passa pelas comunidades ribeirinhas comprando a produção local, impondo preços em geral muito baixos.

- Antes, a gente dependia do regatão. Ele baixava o preço no meio da safra. Agora, temos contrato de fornecimento com empresas. Isso nos dá segurança - conta Pedro

O Globo, 27/09/2020, Economia, p. 32

https://oglobo.globo.com/economia/conheca-negocios-sustentaveis-que-sao…

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