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Congresso do CSN: primo de Chico Mendes relembra a luta em defesa da floresta

Corrêa Neto - http://www.correaneto.com.br
08 de Nov de 2012

Desde a juventude, o acreano Júlio Barbosa de Aquino conviveu com o seringueiro, sindicalista, político e ambientalista Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes.

Foi ao lado de Chico que Júlio, atuando como vice-presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), começou a lutar pelo reconhecimento da profissão e pela formação das reservas extrativistas no Brasil.

Com os movimentos chamados "empates", iniciados pelos seringueiros na década de 1970, eles se mobilizavam contra os desmatamentos e retiravam da floresta equipamentos de peões de fazendas, usados para colocar as árvores abaixo.

Em 1975, Chico Mendes iniciou sua vida de sindicalista no recém-criado Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, no Pará, onde ocupou o cargo de secretário. Dois anos depois, junto com Júlio e outros seringueiros, Chico fundou o Sindicato em Xapuri, no Acre - sua terra natal -, assumindo a liderança em 1981. Ao mesmo tempo, começou a sua breve carreira política como vereador pelo extinto partido Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

No ano de 1980, Júlio e Chico deram um passo importante na militância, ao participar da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), época em que Chico Mendes chegou a ocupar a direção da legenda no Acre.

Os momentos tensos de confronto com os fazendeiros se tornaram uma constante na vida dos seringueiros. Júlio conta que para entender a história do extrativismo na região amazônica, é necessário fazer um recorte antes e depois de Chico Mendes. O vice-presidente do CNS recorda-se de momentos marcantes que compartilhou com Chico, que já falava do conceito de sustentabilidade na década de 1980.

O Conselho Nacional dos Seringueiros nasceu pouco tempo depois, em outubro de 1985, durante o 1o Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado na Universidade de Brasília, Distrito Federal, com a participação de 130 seringueiros do Acre, Rondônia, Amazonas e Pará. Resultado do incansável trabalho de Chico Mendes à frente dos empates às derrubadas no Acre e da soma de iniciativas e esforços em defesa da floresta e da reforma agrária que estavam ocorrendo em diferentes cantos da Amazônia.

O movimento ganha forma, a partir da experiência vivida pelos seringueiros que se contrapõem ao modelo de desenvolvimento definido pelo governo federal para aquela região. O Programa do Governo Federal, idealizado de cima para baixo, objetivava a implantação de projetos agroflorestais, de mineração, madeireiros e agropecuários, cujos resultados geraram violentos conflitos, mortes, grande concentração fundiária, êxodo das populações tradicionais e devastação da região.

As especificidades dessa luta são muitas e merecem reflexão, uma delas diz respeito à questão agrária e fundiária que se impõe. A permanência na floresta exigia um modelo de ocupação que respeitasse a distribuição natural das espécies e que permitisse Assentamento Extrativista (PAEs).

Esse modelo, atendia aos anseios das populações extrativistas no tocante à sua distribuição espacial, mas, devido às suas características de reforma agrária, necessitava de tempo para a sua regularização. Comparadas as vantagens e desvantagens desse modelo, optou-se pelo novo modelo 'Reserva Extrativista' baseada nos componentes homem e natureza a fim de que ambos sejam conservados. Nesse modelo 'Reserva Extrativista' as terras pertencem à União, mas com o usufruto dos que nela trabalham ou habitam. Em 1990, os resultados da luta pela terra são atingidos.

O Conselho Nacional dos Seringueiros consegue o espaço para o reconhecimento legal do governo federal de que a área proposta para Reserva possuía interesse social, então foi criada a Reserva Extrativista Chico Mendes.

Em 1988, todos são surpreendidos com o assassinato de Chico, que foi morto na porta da sua casa no dia 22 de dezembro. Deixou esposa (Ilzamar Mendes) e dois filhos pequenos (Sandino e Elenira).

Depois de tantos anos de muita luta e persistência, frutos e avanços podem ser colhidos, graças a Chico, onde colaborou para criação de dezenas de reservas extrativistas e centenas de Unidades de Conservação na Amazônia Legal e mais as que estão no processo de legalização.

Em 2005, se reuniram mais de 400 lideranças em Manaus (AM) para comemorar os 20 anos do Conselho Nacional dos Seringueiros e desenvolver estratégias para enfrentar os desafios que estão na frente.

Em 2009, ocorre o 2o Encontro dos Extrativistas, dessa vez no Acre, mas ainda assim de forma tímida. E agora, pela terceira vez, todos se reúnem novamente, em um grande Congresso, para dar continuidade na formulação e efetivação de políticas que garantam a vida na floresta.

Pedro Ramos, aqui no Amapá, é uma dessas figuras emblemáticas, assim como Júlio e Chico são em todo Brasil. Pedro luta na defesa dos avanços em beneficio de quem vive na floresta e sobrevive da floresta.

Com toda experiência adquirida ao longo de anos de lutas, ele enxerga o Congresso com o recorte mais significativo de todos os tempos, o qual garantirá ainda mais avanços para os povos da floresta.

"Essa é a primeira vez na história de luta dos extrativistas que reunimos tanta gente importante e de peso, como ministros, governador e autoridades que demonstram uma boa vontade infinita de colaborar para o desenvolvimento e crescimento de um povo tão lutador. Agora sim, as coisas acontecem, quero poder estar vivo para colher frutos bons que estão a florescer", concluiu Pedro Ramos.

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