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Confronto a qualquer hora

JORNAL DE BRASILIA - DF
15 de Jul de 2009

Ministro prevê embate entre fazendeiros e índios em Mato Grosso do Sul

O ambiente tenso entre fazendeiros e índios de Mato Grosso do Sul, acirrado no final do ano passado com a demarcação de terras indígenas em 26 municípios do estado, pode resultar em conflito entre as duas partes. A possibilidade foi comentada ontem pelo enviado especial do presidente Lula, general Jorge Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.

"Sabemos que aqui existe risco de conflito, embora essa possibilidade seja menor agora do que há um ano, quando as primeiras portarias foram publicadas", disse o ministro em entrevista coletiva realizada no quartel da 4a Brigada de Cavalaria Mecanizada. Depois esclareceu estar em Dourados para "desarmar os espíritos, tanto de índios quanto de produtores rurais".

Para o general, "o clima está mais tranquilo, próximo de um entendimento. A possibilidade de uma conciliação é cada vez maior, e não haverá necessidade do Exército dar sustentação ao trabalho de demarcação que será iniciado no próximo dia 20. Se houver necessidade, estaremos prontos, inclusive com apoio logístico".

Ele recebeu 15 caciques de aldeias de Dourados e região, além da delegada regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Margarida Nicoletti. Os jornalistas não tiveram acesso aos dois encontros realizados a portas fechadas.

REAÇÃO

Em Ponta Porã, extremo sul do estado, na divisa com o Paraguai, o presidente do sindicato dos produtores rurais, Ronei Silva Fuchs, fez reunião pela manhã com fazendeiros para discutir a questão. Falando em nome de todos os quase 150 ruralistas presentes, destacou que ninguém venderá terras ao governo para criação de aldeias indígenas. "O governo que procure outras áreas ou fazendas para comprar", afirmou Ronei Silva Fuchs.

Para o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, Ademar Silva Júnior, primeiro é indispensável saber se os produtores rurais concordam com os estudos antropológicos que antecedem as demarcações de áreas indígenas. Ele defende ainda outra condição para se chega a um acordo.

"Tem que haver garantia de indenizações justas para compensar as benfeitorias feitas nas fazendas visadas pela demarcação", argumenta Ademar Silva Júnior. Ele não acredita que a demarcação resolverá a situação difícil dos indígenas em MS. Citou como exemplo a área dos Kadiwéu no município de Bodo-quena, no Pantanal.

"São 538 mil hectares para 3 mil índios, que vivem a mesma aflição das pequenas aldeias. Parte dessas terras está ocupada por fazendeiros, através de arredamentos", diz Ademar Silva Júnior. Ele acrescenta que "atualmente, o valor da área kadiwéu está em torno de R$ 5 bilhões", e que os índios não estão bem: "eles vivem apertados como se tivessem pouca terra".

ANÁLISE

Quando o general Augusto Heleno, ex-comandante militar da Amazônia, disse que a política indigenista do governo era "lamentável e caótica", muitos setores do Executivo se ofenderam. Não dizia nada que ninguém jamais soube, mas como havia o engajamento pela demarcação contínua de Raposa Serra do Sol, ficaram escandalizados como se vestais fossem. Agora, o general Jorge Félix constata a mesma coisa, no Mato Grosso do Sul. Vão tirá-lo do Gabinete de Segurança como fizeram com Heleno, ao sacá-lo da Amazônia?

Passeata pela reforma agrária

Com chapéus de palha e portando faixas pedindo reforma agrária e a criação de uma secretaria estadual para tratar exclusivamente da agricultura familiar, camponeses ligados à Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape) fizeram passeata, na ontem, pelas ruas centrais do Recife, até o Palácio do Campo das Princesas, no Grito da Terra Pernambuco. De acordo com a Casa Militar, 1,5 mil pessoas participaram da manifestação. Segundo a Fetape, foram 5,7 mil que vieram em 142 ônibus de todas as regiões do estado.

Com o apoio da Central Única de Trabalhadores (CUT), Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Articulação do Semiárido (Asa) e cooperativas agrícolas, o Grito da Terra defende uma política de desenvolvimento do interior do estado. "A maioria dos municípios pernambucanos têm como principal atividade a agricultura familiar, mas a política de desenvolvimento estadual se concentra na região metropolitana", afirmou o presidente da federação, Aristides Santos, que avaliou de forma positiva a receptividade do governador Eduardo Campos (PSB) à proposta dos trabalhadores. Pela manhã, eles haviam feito uma ocupação pacífica da sede do Incra.

A aproximadamente 50 quilômetros da capital, no Município de Paudalho, cerca de 150 trabalhadores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) interditaram com pneus queimados, por cinco horas - das 7h ao meio dia -, o quilômetro 86 da BR-408, provocando um engarrafamento de quase sete quilômetros em cada direção, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal. Em Ipojuca, houve a ocupação do Engenho Amazonas por cerca de cem manifestantes.

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