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Confronto de índios na fronteira

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Andréa Zílio & J. Guimarães
31 de Mai de 2003

Comissão de parlamentares chega ao Acre na próxima semana para investigar embate entre Ashaninkas e Amowakas

O confronto de índios Ashaninka e Amowaka, ocorrido no início desta semana, no rio Amônia, fronteira do Brasil com o Peru, resultou em três mortes e ganhou repercussão nacional na Câmara Federal. Uma comissão de parlamentares chega na próxima quarta-feira ao Estado, para investigar o fato e outras denúncias de exploração ilegal de mogno, utilização do corredor como tráfico de drogas.

Conflito - O motivo do confronto ainda é desconhecido. No relatório da Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas, consta que Teinkari Ashaninka e a mulher saíram para uma caçada de dois dias e levaram as duas filhas e a tia das meninas, Shuya, cunhada de Teinkari. O casal acampou e saiu para passear na mata, deixando as filhas com a tia. Quando o casal voltou, escutou um grito de criança. Eles encontraram uma das filhas (Iriane Ashaninka, de 4 anos), e a tia Shuya, mortas. A outra criança, estava sendo atacada a flechadas por um índio Amowaka. Teinkari, revoltado, matou a tiros de espingarda o índio. A criança ficou gravemente ferida e foi removida para a cidade de Pucalpa, no Peru.

Segundo o representante da Fundação Nacional do Índio, no Acre, Julio Barbosa, a notícia do ataque foi recebida pelos Ashaninka com revolta. Na aldeia, os homens se pintaram para a guerra e estão armados, prontos para o confronto. Eles planejam sair em expedição à procura dos inimigos. A mesma coisa estaria ocorrendo do lodo dos Amowaka. Julio conta que os Amowaka são povos ainda arredios que conservam o espírito guerreiro de seus antepassados. Os Ashaninka é uma etnia que vive em permanente contato com o homem branco, mas também guarda ódio pelos Amowaka.

Local - O confronto aconteceu em terras peruanas, cinco dias acima da aldeia dos Ashaninka, localizada no município de Marechal Taumaturgo.

Tema de discussão na Câmara Federal

A notícia do confronto logo chegou à Câmara Federal. O secretário Indígena, Francisco Ashaninka, tomou conhecimento quarta-feira à tarde, e comunicou o caso a Funai, por meio de um relatório.. Depois, ligou para a deputada Federal Perpétua Almeida (PT), que pediu uma cópia do relatório para que fosse discutido na Câmara.

Comissão - Com o requerimento aprovado na Câmara, a deputada conseguiu que a comissão de parlamentares, que está com viagem marcada ao Estado para investigar as denúncias de exploração ilegal de mogno, utilização do corredor como tráfico de drogas, e investigue também o conflito entre os índios da fronteira. A equipe contará agora com a presença do presidente da Fundação Nacional dos Índios (Funai) e irá visitar a aldeia dos Ashaninka.

A equipe de parlamentares está dividida em três comissões: a da Amazônia, a de combate ao crime organizado e ao narcotráfico e a de Relações Exteriores. Com a entrada do presidente da Funai no grupo, a viagem até a aldeia dos Ashaninka contará também com um delegado da Polícia Federal, o secretário indígena Francisco Ashaninka, um representante da Defesa e o Secretário Estadual de Segurança Pública Fernando Melo.

Deputada diz ter denunciado outros conflitos

A deputada conta que desde o início de seu mandato tem denunciado na Câmara esses conflitos. "O próprio Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça estão nesses últimos dois meses com uma presença mais eficaz na região. Como é o caso do posto do Ibama que estava fechado e será reativado. Estão viabilizando também tropa da Federal para ir para essa região. Achamos que a preocupação maior é na fronteira, porque além da questão da ameaça de internacionalização, há o tráfico de drogas e esses conflitos étnicos", explica.

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