VOLTAR

Conflitos acompanham história da região

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
18 de Jan de 2004

Hoje, moradores de Uiramutã, o ponto mais alto ao norte do País, se dizem confusos

- É no município de Uiramutã que está localizado o ponto mais ao norte do Brasil. Desde o fim dos anos 80, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra que o Monte Caburaí está 84,5 quilômetros acima do Oiapoque, no Amapá, ponto que até então considerado o extremo setentrional do País. A história dessa região é marcada por violentos conflitos envolvendo brasileiros e ingleses que colonizaram a Guiana.

Filho do primeiro branco a entrar na terra dos macuxis e se casar com uma índia, o agricultor aposentado Olavo Pereira da Silva, de 83 anos, participou de uma expedição chefiada pelo Marechal Cândido Rondon para demarcar a fronteira, nos anos 20, quando ainda era criança.

Delegado - Severino Mineiro, pai de Olavo, foi nomeado delegado do hoje extinto Serviço de Proteção aos Índios e guardião da fronteira até morrer, em 1950. "Na época da pátria amada (andar a pé) havia mais harmonia", diz Olavo.

Aos 85 anos, a macuxi Miquilina de Queiroz assiste à briga entre os próprios filhos. José Novaes é o vice-prefeito de Uiramutã e é contra a reserva; o outro, o tuxaua (cacique) Orlando, é a favor do território indígena.

Miquilina diz ter saudades da época de menina.

Ela também atuou na expedição chefiada por Rondon. Era encarregada de levar as bolachas do grupo. "Não quero encrenca. Não quero irmão brigando com irmão. Eu quero terreiro em paz", diz, em tom exaltado.

Confusão - Neta de Miquilina, Jordelina Rodrigues da Silva, de 17 anos, admite estar "muito confusa" com o conflito. "Em que lugar vamos morar? Onde vão nos encaixar?", questiona. "Não quero viver isolada." Já a índia e garimpeira Maria Joanita Pereira da Silva, de 44 anos, diz que o isolamento da área já existe. Sobrevivendo da extração ilegal de ouro no igarapé Urucá, avalia que o motivo de tanta briga é a riqueza do lugar.

Com amigos e parentes, Joanita consegue garimpar em certas épocas até 3 gramas de ouro por dia. Vende cada grama por R$ 27. Ao contrário dos garimpeiros que agiam antes na região, ela e seu pessoal não usam mercúrio, metal altamente tóxico, para separar o ouro dos resíduos. O ouro é limpo apenas nas bateias, vasilhas afuniladas usadas para retirar cascalho e areia. (L.N.)

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.