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Conferência do clima começa em impasse

FSP, Ciência, p. A21
01 de Dez de 2007

Conferência do clima começa em impasse
Apesar de momento favorável, reunião para lançar negociação do substituto de Kyoto vê resistência a corte radical de CO2
Encontro da Convenção do Clima da ONU tem início na segunda-feira evisa definir prazo e objetivo de pacto a ser fechado em 2009

Claudio Angelo
Editor de Ciência

Não há algo como uma última oportunidade quando se trata de assuntos humanos. Mas a estrutura do Protocolo de Kyoto após 2012 passa perto. As palavras do Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas definem bem o que estará em jogo a partir de segunda-feira, quando representantes de 190 países se reúnem em Denpasar, na ilha de Bali, Indonésia, para começar a negociar um novo tratado contra o aquecimento global.
O encontro, que acaba no dia 14, é chamado COP-13, a décima terceira Conferência das Partes da Convenção do Clima na ONU. A ele cabe resolver qual será e quando será concluído o regime internacional de redução dos gases de efeito estufa após 2012, quando o acordo de Kyoto expira. Para que esteja implementado a tempo, não deixando um "buraco" após 2012, o novo acordo precisa ser fechado até 2009. Muitos duvidam que dê tempo.
Do resultado depende o futuro do planeta. Se a temperatura da Terra subir mais de 2oC em relação à era pré-industrial, os mantos de gelo da Antártida e da Groenlândia podem derreter, elevando o nível do mar e inundando cidades de Londres a Recife. Secas, enchentes e furacões afetarão centenas de milhões de pessoas, em especial nos países mais pobres.
Para limitar a elevação de temperatura é preciso fazer com que as concentrações de gás carbônico na atmosfera sejam estabilizadas em 450 ppm (partes por milhão), em média (hoje elas estão em 381). Para isso, será necessário cortar as emissões de CO, em 50% a 80% até o meio do século -o que demandará um completo reordenamento da economia mundial e dos hábitos de consumo.
Por outro lado, nunca foi tão difícil cumprir as metas cada vez mais estritas de redução no uso de combustíveis fósseis. De 1990 a 2004, as emissões globais cresceram 24%. Nesta década, a taxa de crescimento do CO2, no ar subiu 35%. A Agência Internacional de Energia praticamente descartou a estabilização em 450 ppm.
O crescimento acelerado da índia e da China tem puxado o consumo de carvão mineral, o pior dos combustíveis fósseis. Nos EUA, país que rejeita Kyoto, a previsão é que em 2010 as emissões tenham subido 26%. E mesmo a Europa, principal defensora do acordo, só cumprirá suas metas por causa da quebradeira econômica do Leste Europeu nos anos 1990.
Essa desconexão tem tudo para transformar Bali em fracasso. Os maiores poluidores do planeta, Estados Unidos e China, continuam se recusando a assumir metas obrigatórias de redução de emissões.
A posição do governo George W. Bush é que metas afetam a competitividade do país. Além disso, alega, não é possível adotar compromissos sem que os gigantes do Terceiro Mundo, Índia e China, entrem na dança. Esses países não são obrigados por Kyoto a adotar metas, porque precisam emitir para se desenvolver. E devem fincar o pé nessa posição.
Os delegados americanos em Bali devem fazer de tudo para bloquear decisões sobre objetivos de redução. Como na ONU tudo funciona por consenso, essa é uma má notícia.
A boa é que o Congresso dos EUA está mandando para a Indonésia uma delegação paralela. Como foi o Congresso quem primeiro rejeitou Kyoto, a mudança da maré no Legislativo sinaliza que após as eleições do ano que vem, quando Bush será substituído, o país poderá voltar à negociação. A pré-candidata democrata Hillary Clinton já avisou que vai a Bali.

FSP, 01/12/2007, Ciência, p. A21

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