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Comunidades quilombolas mantêm tradição do congado

Rede TO - http://www.redeto.com.br
07 de Nov de 2013

Festa começou a ser realizada há mais de 300 anos

Reconhecidos como fortes redutos da cultura negra no Tocantins, os municípios de Santa Rosa, Monte do Carmo, Conceição do Tocantins, Ipueiras e Silvanópolis conservam tradições que simbolizam o sincretismo cultural e religioso do Brasil. Entre elas, os congos ou congadas, que se originaram durante o período colonial e representam a coroação de reis do Congo.

Tradicionalmente, os congos se apresentam no cortejo a Nossa Senhora do Rosário, mas em Santa Rosa, distante 140 km de Palmas, ocorrem no Dia de Finados, dois de novembro, durante os Festejos das Santas Almas Benditas, quando os cortejos formados por reis, rainhas (festeiros) e súditos (comunidade e visitantes) seguem para os cemitérios da cidade e das comunidades rurais, com destaque para a comunidade do Taperão, na Fazenda Açude, e a comunidade quilombola de Morro de São João.

De acordo com a socióloga Eliane Castro, da diretoria de Cultura da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), há informações de que a apresentação do congado em homenagem aos mortos ocorre somente no Tocantins. Segundo a comunidade local, a festa começou a ser realizada há mais de 300 anos, numa fazenda conhecida como Fazenda Engenho, mais tarde chamada Açude. Ela teria sido trazida de Portugal por um padre que formou uma família com uma negra escrava. Os descendentes teriam dado continuidade ao festejo.

"Das entrevistas que fiz no Morro de São João, não obtive essa informação de que a comunidade tenha surgido de remanescentes da Fazenda Açude. A comunidade do Açude, no entanto, afirma que o congo realizado no Morro de São João foi levado da Fazenda Açude. São ramificações de lá, segundo seus moradores, os congos de Santa Rosa, Ipueiras e Morro de São João", completa a pesquisadora, lembrando outro detalhe que diferencia o congado tocantinense dos demais: a suça, dança de origem afro-brasileira típica da região.

Localizada cerca de 10 km da cidade, a fazenda guarda vestígios da época da escravidão, como um curral de pedra em um extenso mangueiral e o cemitério, que os moradores locais apontam ter cerca de três séculos.

A festa

Neste ano, dois casais dividiram o reinado: Artur Nunes da Silva e Rosinêe Pereira, na sexta, 1, Carlos Rodrigues Bonfim e Ângela Rodrigues Bonfim, no sábado de Finados. Ambos organizaram as festas em pagamento de promessas.

"Dois reinados no mesmo dia não pode, já morreu muita gente uma vez", revela uma das mais antigas moradoras da comunidade, Severiana Nunes Cerqueira, 83 anos. Segundo ela, não é possível dar uma data para o início dos festejos no Taperão. "O povo antigo não sabia contar, só sei que quando cheguei já existia". Isso nos anos de 1950.

A presença do grupo de congado é fundamental. São 12 homens liderados por Eduwiges Fernandes Pinheiro. A batida da caixa (tambor) marca as músicas de frases simples. "A rainha veio mariada, veio com o rei de Portugal", repetem os congos em clara referência à chegada da corte portuguesa ao Brasil. "Bom tempo foi aquele que Deus nos ajudou. O bom tempo foi se embora porque se acabou", continuam.

Os congos abrem caminho para o cortejo em direção ao cemitério, em uma caminhada de 6 km. No local, sob a sombra das árvores, é rezado o terço para as almas benditas. No retorno, a suça é dançada sob a sombra do mangueiral e novo terço é rezado na capelinha de adobe, antes que o almoço seja servido.

Quilombolas

Distante 44 km da Fazenda Açude, e 34 km de Santa Rosa, neste ano a comunidade quilombola de Morro de São João enfrentou muitos desafios para realizar o festejo, a começar da desistência do festeiro, que motivado por problemas pessoais não levou a função adiante. Foi preciso uma mobilização entre a comunidade para angariar fundos para a festa.

Duas crianças do grupo, Ludmila da Silva Guimarães e Lucas Paulo da Silva, foram escolhidas para ocupar o posto de rei e rainha.

O trajeto até o cemitério da comunidade tem cerca de 3 km. Nele, os congos depositam seus adornos sobre um túmulo especial. Ali descansa um antigo mestre dos congos, Antônio Rodrigues Nogueira. Também é diante de seu túmulo que o terço é rezado.

A programação termina com almoço distribuído para toda a comunidade, quando o presidente da associação local, Carlos Eduardo, anuncia o festeiro do próximo ano, Eliseu Lira, professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT) em Porto Nacional. "Essa é a congada mais original de toda a região", afirma ele, que acompanha a manifestação na região há alguns anos.

Um dos responsáveis pela sobrevivência da congada no Morro de São João é Ornifo da Silva Guimarães, 54 anos. Aprendeu com o pai e ensinou ao filho, Alessandro, mas dá sinais de cansaço após 33 anos de congo. "A tradição está se acabando, falta apoio para dar instrumento, roupa, a mocidade está indo embora para trabalhar", conta ele, explicando o motivo pelo qual o grupo de congo só teve oito participantes neste ano, e não os 12 da tradição.

Apesar dos desafios, Ornifo não pretende parar. "Prometi pra minha mãe que enquanto pudesse conservaria o grupo, vou manter os congos enquanto aguentar", confirma.

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