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COMUNIDADES MBYÁ-GUARANI NO RIO GRANDE DO SUL

Manifesto Mbyá contra manipulação do Cimi
25 de Jan de 2006

Cacique Geral, Grupo de Caciques, Karais, Kunhã-Karais e Xondaros.

Tekoha Anhetengua, Aldeia da Lomba do Pinheiro, 25 de janeiro de 2006.

MANIFESTO CONTRÁRIO AO ENVOLVIMENTO DOS ÍNDIOS MBYÁ-GUARANI NO ATO PÚBLICO PELOS 250 ANOS DE MORTE DO SEPÉ TIARAJU EM SÃO GABRIEL NO DIA 7 DE FEVEREIRO DE 2006

Este documento foi elaborado para manifestar contrariedade e repúdio das lideranças espirituais, religiosas e políticas das comunidades Mbyá-Guarani no Rio Grande do Sul frente ao ato público agendado para ocorrer em 7 de fevereiro de 2006 no Município de São Gabriel, em celebração aos 250 anos da morte de Sepé Tiaraju.

As lideranças Mbyá articuladas em torno do Cacique Geral José Cirilo Morinico - incluindo anciões, karais, kunhãs-karais e xondaros (guardiões das tradições) - reivindicam pleno respeito por seus direitos diferenciados e exigem o exercício integral de sua auto-
determinação étnica, a fim de valorizar o modo tradicional de ser Guarani e impedir que os membros de sua etnia sejam manipulados por interesses de religiosos da Igreja Católica, por membros do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e pelos participantes do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (MST).

Em respeito à sua tradição, os Mbyá não apóiam a realização do referido ato público, a começar pelo fato de que suas lideranças não foram consultadas para opinar sobre o uso incorreto que estão fazendo da figura de Sepé Tiaraju. Pelo contrário, tem havido a manipulação de famílias Mbyá dispersas em troca de transporte e alimentação, fazendo-as suportar as agruras de longas viagens para servirem na figuração de atos públicos dirigidos pelo princípio de "luta pela terra".

A Igreja Católica e o CIMI deveriam respeitar as formas próprias de organização das comunidades Mbyá, ao contrário daquilo que seus agentes têm realizado. Fazem a cooptação de líderes Guaranis mais aculturados pelos brancos e os financiam para servirem como joguetes de uma Comissão de Terras artificialmente criada para pressionar a sociedade nacional e internacional. Este é um princípio que não faz parte do modo de ser Guarani, segundo a tradição dos Mbyá.

Estas denúncias já foram anteriormente expressas e já se solicitou reiteradamente o término desta prática de manipulação feita pela Igreja Católica e pelo CIMI dos índios Mbyá. É necessário que o Governo Brasileiro, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e os Ministérios Públicos (Estadual e Federal) tomem providências para que tal prática seja suspensa, seguindo o preceito constitucional da autodeterminação para nossa etnia.

Os Mbyá respeitam a memória de Sepé Tiaraju e não aceitam sua utilização leviana por parte dos brancos, nem concordam com a forma de celebração pela passagem de sua morte. Os Mbyá não foram integrados efetivamente na discussão sobre a "luta pela terra" e na associação da figura de Sepé Tiaraju nesta luta dos pobres cristãos (sem terras) por um lote de terreno.

A questão da terra e sua ligação com Sepé Tiaraju não são assuntos para serem tratados pelos brancos e pelos religiosos cristãos em São Gabriel, mas são temas sim a serem legitimamente discutidos pelos próprios Mbyá, na próxima Reunião dos Karai, das Kunhã-Karai e dos Xondaro a se realizar entre os dias 10 e 15 de fevereiro de 2006 no Tekoha Yryapu (Terra Indígena Capivari).

As lideranças Mbyá alertam sobre os perigos implicados na manipulação dos índios dentro do referido Ato Público, fazendo com que crianças, mulheres, jovens e velhos fiquem vulneráveis ao confronto e à ameaça iminente de conflito entre os membros do MST e a resistência dos políticos reacionários e dos latifundiários e proprietários das terras.

As lideranças Mbyá-Guarani exigem imediatas providências para que tais problemas sejam solucionados e que se resguardem os Mbyá da manipulação numa luta que não é a legítima forma de ser Guarani.

Assinam:
José Cirilo Morinico
Cacique Geral/RS

Cláudio Acosta Augusto Duarte
Cacique de Estrela Velha Karai e Cacique TI Capivari

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