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Comunidade indígena de RR pede audiência em Brasília após migração de índios venezuelanos

G1 https://g1.globo.com
19 de Mar de 2019

A migração de índios venezuelanos da etnia Pemón para o Brasil fez lideranças indígenas da região de São Marcos, no município de Pacaraima, fronteira com a Venezuela, recorrerem à Comissão de Relações Fronteiriças da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) para pedir apoio para uma reunião com o governo federal em Brasília.

A comunidade viu o número de habitantes saltar de 248 para 836 após os conflitos na Venezuela entre indígenas e homens do Exército ocorridos no final de fevereiro, conforme informou Aldino Alves, tuxaua de Ta'rau Pau.

Em reunião realizada na tarde desta segunda-feira (18), ficou acordado que os parlamentares intermediarão a audiência pública para buscar uma solução imediata.

Nesta terça (19), pelo 26o dia consecutivo, a fronteira entre Brasil e Venezuela por Pacaraima, amanheceu fechada. O bloqueio é feito por homens da Guarda Nacional Bolivariana na BR-174, que liga Pacaraima a cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén.

Na reunião dessa segunda (18), a presidente da Comissão, deputada Ione Pedroso (SD), afirmou que as lideranças relataram a situação e pediram ajuda.

"Vamos tentar uma audiência pública com o presidente da República, Jair Bolsonaro [PSL], com os deputados federais, a Funai [Fundação Nacional do Índio] e com a ONU [Organização das Nações Unidas], para que possamos trazer uma resposta para essa crise no estado."

Aldino Alves, tuxaua de Ta'rau Pau, comunidade a aproximadamente 1,2 quilômetro da fronteira entre Brasil e Venezuela, contou que os índios venezuelanos chegaram em massa na comunidade no dia 23 de fevereiro, um dia após o primeiro conflito no território vizinho.

"Estamos com 836 indígenas, bastante criança e idosos hipertensos. Estamos tendo dificuldade com a logística e a alimentação, o que tem afetado a nossa comunidade. Com o inverno chegando, a preocupação é como acomodar esses refugiados. Quem puder, ajude-nos levando lona ou telha para cobrir o barracão e acolher os nossos 'parentes'", pediu.

Com a chegada do inverno o tuxaua afirma que a comunidade pretende construir seis barracões para abrigar esses indígenas.

Além da infraestrutura precária para receber os indígenas, a maior preocupação dele que a comunidade sofra represálias de grupos paramilitares ligados ao governo de Nicolás Maduro.

"O medo hoje é que pior possa acontecer porque moramos próximo da fronteira, principalmente à noite, dos militares [venezuelanos] invadirem junto com os refugiados ou até atacarem os próprios indígenas que estão fugindo para o Brasil", afirmou o Aldino Alves.

Segundo ele, os guardas indígenas territoriais ficam 24 horas vigiando a fronteira. "Temos as polícias Militar, Federal e o próprio Exército, mas como a demanda é grande e não tem condições de dar segurança 24 horas, a maior parte desta segurança é feita pelos índios brasileiros. A cada seis horas o Exército faz o patrulhamento", explicou.

Também na reunião foi discutida a possibilidade de ser criado um Fundo Internacional de ajuda humanitária para auxiliar o estado. A ideia inicial é que seja gerido pelo Exército, para que vários países possam ajudar a Venezuela e Roraima.

O prefeito de Gran Sabana, Emílio González, ressaltou que a realidade da crise está mudando com imigração da etnia Pemón, que no Brasil é a etnia Taurepang.

"São aproximadamente mil indígenas que saíram da Venezuela por descaminhos, fugindo da guerra, e estão alojadas nas comunidades mais próximas. Não temos como receber esses indígenas sem a ajuda do Governo Federal", disse.

Motivo dos conflitos

Com o fechamento da fronteira com o Brasil, o presidente venezuelano Nicolás Maduro proibiu a população de receber a ajuda humanitária internacional, solicitada pelo opositor, o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó. Maduro vê a oferta de países como o EUA e o Brasil como uma interferência externa.

A atitude gerou conflitos internos entre a população e a Guarda Nacional Bolivariana (GNB). Alguns dos feridos nesses confrontos foram trazidos para Roraima, com permissão de atravessar a fronteira.

No chamado "Dia D", dois caminhões com alimentos e medicamentos partiram da Base Aérea de Boa Vista para Pacaraima com o intuito de entregar a ajuda, mas foram impedidos de atravessar, gerando uma confusão generalizada na fronteira.

No lado brasileiro, venezuelanos atiraram paus e pedras contra a Guarda Nacional Bolivariana que impediram a passagem dos caminhões e também proíbem o livre tráfego entre os dois países. Os militares revidaram com pedras e bombas de efeito moral. Uma base militar chegou a ser incendiada pelos manifestantes.

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2019/03/19/comunidade-indigena-…

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