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'Compromissos precisam ser rápidos e urgentes'

OESP, Metrópole, p .A13
Autor: NOBRE, Carlos
15 de Dez de 2014

'Compromissos precisam ser rápidos e urgentes'
Para pesquisador, países devem se comprometer com patamares muito maiores de reduções de emissões de gases

Entrevista. Carlos Nobre

Fábio de Castro

Na sua avaliação, os países emergentes conseguiram uma vitória com os resultados da COP-20?
A ideia de "responsabilidade comum, mas diferenciada" é um princípio filosófico válido e foi importante mantê-lo. Os países mais pobres foram os que menos contribuíram para o problema das mudanças climáticas e, no esforço mundial para contorná-lo, pagariam um preço muito alto caso não houvesse esse princípio de equidade global e justiça. Eles precisam ter um tratamento muito especial. De certo modo, isso foi representado na concepção do Fundo Verde. Mas a ideia, importante e poderosa, precisa adquirir concretude. Temos de ver quem serão os doadores dispostos a honrar o compromisso.
As expectativas são boas para que esses avanços se tornem concretos?
No primeiro trimestre, cada país vai estabelecer seus compromissos e vamos poder avaliar melhor. O interesse que os países manifestaram em assumir compromissos, em especial com o acordo feito entre a China e os Estados Unidos, indica que vamos em uma direção positiva. Mas, se realmente há um desejo global de impedir que a temperatura média suba muito mais do que 2oC, esses compromissos precisam ser mais rápidos e urgentes, com patamares muito maiores de reduções de emissões.

Qual a expectativa na comunidade científica?
Pouquíssimos cientistas hoje diriam que estamos em uma trajetória sustentável. Mas esse prognóstico é muito mais um exercício de política do que de ciência. É difícil saber o que vai acontecer. Talvez tenhamos o início de um círculo virtuoso, já que a ciência demonstra claramente que é possível ter energia renovável competitiva. Mas é uma suposição otimista. Pode ser também que prossiga a inércia institucional que vemos há 20 anos.
A atenuação do antagonismo norte-sul nas discussões climáticas pode ajudar a evitar, em 2015, outro fracasso como o de Copenhague em 2009?
Na minha avaliação, o problema da COP de Copenhague, na Dinamarca, não foi o antagonismo norte-sul, mas a falta de um acordo entre Estados Unidos e China. Acompanhei toda a preparação da COP em 2009 e os dois países chegaram com pontos de vista completamente antagônicos. Nesse sentido, avançamos muito agora, assim como na questão do Fundo Verde, que permitirá o desenvolvimento sustentável dos países da África, por exemplo, onde a população tende a crescer muito nas próximas décadas. Mas não podemos relaxar.
CARLOS NOBRE É CLIMATOLOGISTA E PESQUISADOR DO INPE

OESP, 15/12/2014, Metrópole, p. A13

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