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Compromisso climático do Brasil quebra tabu

Valor Econômico, Opinião, p. A12
Autor: CARLUCCI, Alessandro
29 de Out de 2015

Compromisso climático do Brasil quebra tabu
Brasil cria caminho de crescimento que separa o desenvolvimento econômico das
emissões de carbono

Por Alessandro Carlucci

Em 27 de setembro, o Brasil apresentou formalmente sua "contribuição nacionalmente determinada pretendida" (ou INDC1) à Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Isso significa que três quartos das nações do mundo, responsáveis por quase 90% das emissões globais, já se comprometeram2 a agir sobre o aquecimento global antes mesmo do acordo climático de Paris agora em dezembro.
No entanto, nesse mês que se provou um verdadeiro marco na ambição que podemos ter sobre clima - na qual tivemos compromissos sem precedentes de empresas3, governos4 e líderes religiosos5 - o plano do Brasil se destacou. Isso porque o Brasil é o primeiro país emergente a prometer reduções absolutas dos gases de efeito estufa (GEE), quebrando um tabu político de longa data dentro das negociações sobre clima, nas quais os países industrializados prometeram reduzir as emissões absolutas e as economias emergentes se comprometeram a diminuir a intensidade das emissões por unidade de produção.
Ao comprometer-se com uma meta de 37% de diminuição absoluta até 2025, em relação aos níveis de 2005, e uma queda de 43% em 2030, o Brasil está demonstrando um compromisso sem precedentes para a ação coletiva e está fazendo avançar a noção de que à medida que os países se desenvolvem, eles vão avançar de metas de redução de emissões em relação ao PIB, ou cenários "business as usual", para reduções absolutas. Com o seu próprio compromisso, o Brasil agora lidera pelo exemplo.
Para um país fortemente dependente da agricultura, mineração, manufatura e exportações de commodities, esta é uma oferta significativa de ambição para a comunidade internacional. Ele também envia uma mensagem a outras economias do Brics6 e aos mercados emergentes: que a busca do desenvolvimento, competitividade e a ambição climática podem se reforçar mutuamente.
Como parte deste compromisso, o Brasil definiu algumas metas e medidas específicas que ajudarão o país a cumprir o seu plano de redução de GHG, incluindo: elevar a quota das energias renováveis para 45% do total de energia até 2030; aumentar a quota de energia solar, eólica e biomassa para 23% da produção de eletricidade até 2030; eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030; e restaurar 12 milhões de hectares de floresta até 2030.
O plano reforça o compromisso do Brasil para a "descarbonização da economia global até o final deste século". Este é um sinal político importante sobre a questão mais crítica que os líderes mundiais enfrentam na próxima CoP-21 em Paris7 - nominalmente, como clarificar e operacionalizar um compromisso de longo prazo para manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2o C. As opiniões estão divididas8 sobre a melhor forma de operacionalizar esta meta comum para a ação coletiva e a ambição do Brasil deve ser aplaudida.
Para as empresas que atuam no Brasil, essas medidas representam uma oportunidade significativa. Pesquisa realizada pela coalizão We Mean Business9 em 2014 descobriu que as empresas latino-americanas estão alcançando uma média anual na taxa interna de retorno (TIR) de 17% em seus investimentos em baixas emissões de carbono. Desde grandes usuários de energia, como a empresa química brasileira Braskem, até minha própria antiga empresa e uma das maiores no segmento de cosméticos, a Natura, baixas emissões de carbono muitas vezes significa retornos elevados. Essa pesquisa10 também identificou as políticas de energias renováveis como catalisadores-chave para investimentos de maior porte e ambição na redução de emissões.
Não há dúvida de que o empresariado terá de ser um parceiro-chave na execução deste plano durante a próxima década e por isso o governo brasileiro deveria estudar formas de aprofundar a colaboração com o setor privado. Uma coalizão de negócios no mercado interno em favor de uma ação climática já está emergindo. Além de Braskem e Natura, a CPFL Energia, a Key Associados e a Visão Sustentável estão todas apelando pela precificação do carbono. Os líderes dessas empresas entendem que o compromisso de descarbonização incentiva a inovação e fomenta a competitividade econômica.
Com estes compromissos, o Brasil está criando um caminho de crescimento que separa o desenvolvimento econômico das emissões de carbono. Ao definir uma direção de longo prazo, eles fornecem aos negócios a certeza da política necessária para fazer investimentos de longo prazo.
Ao assumir reduções de emissões absolutas, o Brasil envia um sinal positivo para as economias emergentes de que elas podem evitar os erros que os países industrializados historicamente cometeram em seu próprio desenvolvimento. Em junho, a BSR destacou11 que uma importante mudança estrutural para longe do desenvolvimento intensivo em carbono estava em andamento na China. A promessa do Brasil mostra que esta mudança estrutural está começando a se tornar verdadeiramente global.
1 - www.bit.ly/1O4ZiMK
2 - www.bit.ly/1AAyvjS
3 - www.bit.ly/1RKoA1U
4 - www.bit.ly/1O7Wn6m
5 - www.bit.ly/1Wi1F3I
6 - www.bit.ly/1Wi1QMj
7 - www.bit.ly/1DtsMef
8 - www.bit.ly/1P0Wb7Y
9 - www.bit.ly/1q7xlbS
10 - www.bit.ly/1GJNjBM
11 - www.bit.ly/1KozojB

Alessandro Carlucci é presidente do Conselho da BSR e ex-CEO da Natura

Valor Econômico, 29/10/2015, Opinião, p. A12

http://www.valor.com.br/opiniao/4291894/compromisso-climatico-do-brasil…

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