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Compromisso assumido na energia renovável é realista

O Globo, Opinião, p. 18
04 de Jul de 2015

Compromisso assumido na energia renovável é realista
O consumo crescerá nos próximos anos no país, e para atendê-lo será inevitável o uso também de combustíveis fósseis, que pode ser compensado por fontes mais limpas

Os combustíveis fósseis ainda respondem por 80% do consumo de energia no planeta. Nos Estados Unidos, essa relação é ainda mais alta. No compromisso assumido entre Brasil e Estados Unidos, firmado pela presidente Dilma Rousseff e por Barack Obama, há poucos dias, em Washington, o maior esforço terá de ser feito pelos americanos. No caso do Brasil, a participação das fontes renováveis (sem contar com as hidrelétricas) terá de aumentar dos atuais 28,5% para 33% no período de quinze anos.

É uma meta plausível diante dos investimentos que estão em andamento na geração de eletricidade por usinas eólicas, na perspectiva do etanol de segunda geração (celulósico) e no uso de outras formas de biomassa. Um aumento mais expressivo da participação da energia solar dependerá de avanços tecnológicos, possíveis, mas que talvez só tenham reflexos relevantes na próxima década.

Manter em patamar elevado a percentagem das fontes renováveis na matriz energética é um compromisso respeitável, considerando-se que nos próximos anos o Brasil terá também crescimento considerável na produção de petróleo e gás natural, combustíveis fósseis. A dificuldade para se construir hidrelétricas com reservatórios de acumulação torna o sistema mais dependente do regime de chuvas e isso obrigará o país a expandir seu parque termelétrico, que, ao menos parte, necessariamente queimará combustíveis fósseis (óleo ou carvão, por exemplo).

Desse modo, provavelmente a maior contribuição que o Brasil dará para redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) virá das florestas, pela eliminação total do desmatamento ilegal e/ou pelo replantio. O governo federal deve anunciar um programa de recuperação da vegetação nativa que, ao todo, abrangerá 12 milhões de hectares. A recuperação de nascentes e de matas ciliares em propriedades agrícolas certamente responderá por alguns milhões de hectares, inclusive pela obrigação de enquadramento ao Código Florestal. Mas o reflorestamento de áreas degradadas será viável se tiver igualmente uma função econômica. Há uma demanda natural por madeira nobre certificada (para a indústria moveleira, por exemplo) que pode ser atendida pelo manejo de áreas replantadas que hoje estão sem uso adequado pela agropecuária.

A economia de baixo carbono geralmente é associada ao não consumo, uma tese mais romântica do que prática. O consumo de energia inevitavelmente crescerá no Brasil com o aumento de renda da população. Tanto melhor será se as fontes renováveis conseguirem suprir a maior parcela possível desse aumento. É o que se espera também em relação ao consumo de madeira pela indústria, que deveria ser totalmente originária do manejo e do replantio de florestas.

O Globo, 04/07/2015, Opinião, p. 18

http://oglobo.globo.com/opiniao/compromisso-assumido-na-energia-renovav…

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