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Composição do ar afeta a Amazônia

JB, Internacional, p. A12
11 de Mar de 2004

Composição do ar afeta a Amazônia
Cresce disputa por luz, água e nutrientes

LONDRES - Partes primitivas da Amazônia, que acreditava-se tinham escapado dos danos causados pelo homem, mudaram dramaticamente nos últimos 20 anos, segundo descobriram cientistas brasileiros e americanos.
Árvores pequenas, de lento crescimento, estão perdendo espaço para as mais altas, que se desenvolvem mais rápido. Segundo os cientistas, o desequilíbrio ocorre porque a Amazônia está sendo artificialmente ''fertilizada'' pelos altos níveis de emissão de dióxido de carbono na atmosfera.
O resultado são mudanças na composição das árvores, podendo interferir no papel vital da Amazônia de absorção de dióxido de carbono, aponta o estudo, na revista Nature.
De 1980 a 2000, os cientistas rastrearam o crescimento de 14 mil árvores em 18 diferentes pedaços de terra, dispersos numa área de 310 km². Os terrenos tinham que ser remotos e estar longe de qualquer ocupação humana.
Das 115 espécies estudadas, 27 (23,4%) registraram mudanças importantes em sua densidade populacional e em sua extensão territorial. Treze (11,3%) aumentaram sua densidade de população e 14 (12,1%) diminuíram. Quanto à extensão territorial, 14 espécies (12,1%) aumentaram e 13 (11,3%) cederam terreno.
A concentração de dióxido de carbono provoca uma competição mais acirrada por luz, água e nutrientes, apontam os cientistas. Assim, as árvores mais altas são favorecidas em detrimento das menores.
- O declínio de árvores pequenas é intrigante, já que tendem a ser muito especializadas - vivem no interior da floresta, debaixo das copas das mais altas, e só na sombra se reproduzem - disse o pesquisador Henrique Nascimento.
- Se há alteração nas árvores, outras espécies, até animais que se alimentam delas ou as polinizam, mudarão - disse William Laurance.
Além disso, as modificações observadas podem ter graves repercussões no clima. A Amazônia desempenha o papel de ''filtro'' do planeta, ao armazenar dióxido de carbono nas árvores em crescimento durante o processo de fotossíntese.
''Este armazenamento diminuiria se houvesse uma tendência futura das árvores mais altas de reduzir sua densidade territorial, enquanto aumentam o tamanho e a velocidade de crescimento'', afirmam.

JB, 11/03/2004, Internacional, p. A12

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