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Como a ciência pode salvar os pobres do mundo

OESP, Geral, p. A12
Autor: TAVERNE, Dick
05 de Mar de 2004

Como a ciência pode salvar os pobres do mundo

Dick Taverne
The Guardian

Muitos ambientalistas se opõem aos produtos agrícolas geneticamente modificados (OGMs) por princípio. É difícil entender qual é o princípio, uma vez que eles não fazem campanha contra a produção de drogas por modificação genética. Mas a mesma técnica é usada para transferir um gene de uma espécie a outra a fim de produzir insulina humana para diabéticos, por exemplo, e para modificar uma safra transgênica.
Segundo qual princípio é certo fazer drogas melhores para nos proteger da doença, mas não é certo modificar plantas para torná-las resistentes a pragas? Por que há uma reação tão violenta contra a modificação genética das plantas? O argumento mais forte a favor do desenvolvimento de safras transgênicas é a contribuição que eles podem dar à redução da pobreza, da fome e da doença no mundo.
O notável na aplicação da biotecnologia em plantas é a rapidez com que ela foi adotada e o benefício que já mostrou nas partes mais pobres do mundo.
No ano passado, safras de OGM foram cultivadas em 70 milhões de hectares em 18 países. Quase 5 milhões de pequenos agricultores na China, Índia, África do Sul, Brasil e México hoje plantam algodão geneticamente modificado para proteção contra o bicudo. Na China, isso representa para os agricultores uma economia de até US$ 500 por hectare, principalmente por meio de uma redução de 60% a 80% do uso de pesticidas. Na Índia, quando uma infestação de lagarta devastou a colheita de algodão, exceto onde os produtores haviam plantado (ilegalmente) algodão transgênico, os agricultores marcharam em Nova Délhi exigindo que o produto transgênico fosse licenciado, o que ocorreu em 2002.
A história do algodão mostra verdadeiro benefício financeiro, principalmente para pequenos agricultores, ao contrário da alegação de algumas ONGs de que a biotecnologia promove apenas a agricultura industrial.
Mas a maior contribuição da biotecnologia ainda está por vir. A China gasta mais de US$ 100 milhões por ano em pesquisas na área e desenvolveu 141 tipos de plantas transgênicas, 65 das quais já estão em testes em campo. A pesquisa dessas plantas trará benefícios particularmente à saúde. Alguns já foram obtidos pelo uso reduzido de pesticidas.
Mais benefícios virão com o desenvolvimento de vacinas, anticorpos e outras proteínas farmacêuticas em plantas. Vacinas extraídas de batatas transgênicas contra hepatite B e bactérias e vírus causadores de doenças diarréicas já estão sendo testadas. Mesmo assim, algumas ONGs que atuam no mundo em desenvolvimento, como o Greenpeace, ignoram esses potenciais benefícios. Elas até se opõem ao "arroz dourado" - que contém provitamina A e, como parte de uma dieta básica, poderia ajudar a reparar a deficiência de vitamina A associada à morte de mais de 1 milhão de crianças por ano, segundo a Organização Mundial de Saúde. Essa deficiência é também a causa isolada mais importante de cegueira em cerca de meio milhão de crianças.
A oposição cega aos produtos transgênicos é o triunfo do dogma sobre a razão.

OESP, 05/03/2004, Geral, p. A12

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