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Começa a corrida para tentar um futuro melhor

O Globo, Especial, p. 8
13 de Jun de 2012

Começa a corrida para tentar um futuro melhor
Biodiversidade e clima, temas de muita discórdia internacional, continuam a ser obstáculos à negociação. Não há consenso sobre dois terços do texto de 200 parágrafos

Roberta Jansen
roberta.jansen@oglobo.com.br

As negociações diplomáticas que começam hoje no Riocentro - com a abertura oficial da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ou, simplesmente, Rio+20 - têm o nobre objetivo de estabelecer metas para que os países continuem crescendo sem que os recursos naturais do planeta sejam completamente esgotados. Parece relativamente simples, mas não é. Dos cerca de 200 parágrafos do documento final, dois terços permanecem em aberto. A criação de uma Organização Mundial do Meio Ambiente e a definição de economia verde estão entre os principais pontos de desacordo.
- Há problemas em praticamente todos os parágrafos - afirma o cientista político Sérgio Abranches. - O fato é que a agenda é muito ampla, cobrindo vários aspectos de outras convenções, e o tempo de negociação é curto. E quando chegam a temas de outros acordos, como biodiversidade e clima, os países ficam querendo reabrir discussões antigas.
Até o fim da próxima semana, diplomatas e chefes de Estado dos países reunidos no Riocentro vão tentar reduzir tal discrepância e apresentar ao mundo um documento final à altura do evento, o maior já realizado pela ONU. A ideia é ter um texto final que reafirme princípios de desenvolvimento sustentável já estabelecidos em outras convenções, e, a partir daí, acordar maneiras de manter e ampliar o desenvolvimento econômico - reduzindo fome e pobreza, e aumentando a equidade social - sem agredir o meio ambiente. Ou agredindo o mínimo possível.
O desafio de alimentar 9 bilhões em 2050
Já é um consenso entre os cientistas que, se a Humanidade mantiver os padrões atuais de crescimento, o planeta não suportará o tranco. O aquecimento global decorrente das emissões de gases-estufa, a falta de água doce e a escassez de alimentos são apenas alguns dos graves problemas que o homem terá de enfrentar se continuar a degradar o meio ambiente como faz atualmente. Vale lembrar que, se hoje somos 7 bilhões, até 2050 seremos 9 bilhões - o que demanda um aumento de 70% na produção de alimentos.
Para encarar tal desafio, o foco das discussões oficiais vai girar em torno de dois principais temas: a criação de uma economia verde como forma de garantir o desenvolvimento sustentável capaz de tirar as pessoas da pobreza e ampliar a equidade social; e a definição de como ampliar a chamada governança global (ou, em outras palavras, o desenvolvimento de estruturas internacionais) para garantir que isso aconteça. Ambos são extremamente polêmicos e permanecem em aberto.
Políticos, cientistas, ambientalistas e economistas não se entendem sobre o que é economia verde e é pouco provável que os diplomatas o façam. Basicamente, trata-se de uma economia com baixa emissão de CO2 e uso mais eficiente de recursos naturais - o que implicaria um investimento alto de dinheiro para a transição do atual modelo.
- O mais provável é que a conferência termine com uma definição bem vaga sobre o que é economia verde - explica o professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
A criação de uma Organização Mundial do Meio Ambiente, uma agência da ONU mais forte que o atual Programa de Meio Ambiente (Pnuma) é um outro ponto polêmico. A União Europeia quer o fortalecimento da estrutura, mas os EUA e os Brics são contra.
- É uma questão de soberania - diz Viola. - O mundo precisa de uma governança que coordene e integre os regimes ambientais, que tenha capacidade normativa e, ao mesmo tempo, dentes para dissuadir comportamentos fraudulentos dos países, mas isso envolve a soberania.
Especialistas tampouco acreditam que sejam determinadas metas para o desenvolvimento sustentável. Para eles, o mais provável é que sejam definidos os temas e um cronograma de definição dos objetivos para a transição do modelo econômico.
- Acho que estabelecer um processo com o horizonte de 2015, que coincide com as novas metas do milênio e com a agenda das negociações do clima, é mais importante - afirma o economista Sérgio Besserman.

O Globo, 13/06/2012, Especial, p. 8

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