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Combustível vegetal

CB, Veículos, p. 3
17 de Ago de 2006

Combustível vegetal
A Unb é pioneira na pesquisa do bioóleo e vai implantar uma usina-piloto em Planaltina de Goiás até o final do ano. Quimicamente parecido com o diesel, ele pode ser usado para abastecer motores

Laís Garcia
Da equipe do Correio

Um combustível desenvolvido no Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB) pode ser capaz de dar a pequenas propriedades rurais do Brasil a auto-suficiência no abastecimento de seus veículos e máquinas agrícolas movidos à diesel. A UnB é a pioneira entre as universidades brasileiras a produzir o bioóleo, feito a partir do óleo obtido de vegetais brasileiros - como a soja, o girassol, o buriti e o dendê - e poderia ser considerado o correspondente renovável do diesel, derivado do petróleo que se torna cada dia mais escasso (e, por isso mesmo, mais caro) e muito difícil de encontrar em regiões remotas do país. Ao contrário do biodiesel (que já está sendo comprado pela Petrobrás), o produto desenvolvido pela UnB não leva álcool em sua composição. É obtido pelo processo de craqueamento (quebra de uma substância em moléculas menores pela exposição a altas temperaturas), enquanto o biodiesel combina álcool e óleo vegetal e passa por um processo diferente, a transesterificação. Os motores abastecidos com o bioóleo têm a mesma eficiência que teriam se alimentados com diesel, e sua queima não libera enxofre na atmosfera, o que o torna menos poluente que seu correspondente não-renovável.

"O bioóleo é tão parecido com o diesel que usamos o mesmo padrão referencial, definido pela Agência Nacional de Petróleo , para avaliar as duas substâncias", explica Juliana Retrocchi Rodrigues, aluna de mestrado do Instituto de Química da UnB. Por isso, ele pode ser usado como substituto do diesel nos motores, sem necessidade de ser misturado a outras substâncias. "Já o biodiesel só pode ser usado se for misturado ao diesel, numa proporção de até 20%", explica a pesquisadora.

"O combustível é ideal para abastecer comunidades afastadas, que teriam dificuldade em obter o diesel", esclarece Paulo Suarez, um dos coordenadores do Laboratório de Materiais e Combustíveis, onde está sendo realizada a pesquisa. As espécies vegetais de onde se poder tirar o óleo, matéria-prima para a produção do biocombustível, podem ser cultivadas pela própria comunidade, de acordo com a vocação natural da localidade onde ela estiver. Por isso, o óleo de soja deverá ser usado para abastecer a segunda usina-piloto que será implantada na região de Planaltina de Goiás até o fim do ano. "O próximo passo será construir uma usina numa comunidade realmente isolada na Amazônia", explica Juliana.

A usina-piloto fica na UnB e tem capacidade para produzir 100 litros de bioóleo por hora e não comercializará o combustível, mas servirá de modelo para a construção de réplicas em comunidades rurais de todo o Brasil.

Para estar apta a lidar com um usina de bioóleo, a comunidade deve ser treinada para cumprir, com segurança, todas as etapas de produção. Primeiro, é necessário obter o óleo da semente, por meio da prensagem. A seguir, o óleo deve ser colocado no reator em que será realizado o craqueamento: o material é aquecido até 400 graus e suas moléculas serão quebradas em unidades menores. Além do bioóleo, o processo dá origem a outros gases combustíveis que podem ser aproveitados para aquecer o próprio reator da usina. As cascas das sementes também servem de adubo para o solo e de alimento para o gado.

A usina custou cerca de R$ 30 mil e as máquinas para obtenção do óleo, R$ 25 mil. Ela ainda passará por adaptações e não se sabe ainda quanto será necessário para construir unidades em outros locais. A expectativa dos pesquisadores é elaborar um sistema simplificado de análise do combustível, para que as próprias comunidades possam monitorar a qualidade do produto final. São parceiros do projeto a Fundação Banco do Brasil, Embrapa, o Ministério da Ciência e Tecnologia e Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Energia alternativa

Da Redação

Entre os projetos desenvolvidos no galpão da via L3 Norte, onde está localizado o Laboratório de Energia e Meio Ambiente (ligado ao Departamento de Engenharia Mecânica da UnB), dois estão relacionados à aplicação de fontes alternativas e renováveis de energia. Biomassa e associação do biodiesel com álcool são outras possibilidades de mais economia e desenvolvimento para áreas de acesso difícil.

"Quando se tem de transportar diesel para algumas regiões na Amazônia, por exemplo, o custo é muito grande: gasta-se quase um litro de combustível para cada um que chega lá. E o projeto de aproveitar a queima da biomassa (como o talo da mandioca, por exemplo) pode resultar numa redução de 80% no consumo de diesel", afirma o professor do Departamento de Mecânica, Alessandro Oliveira. Nessa experiência, a matéria-prima vegetal disponível no local é usada para criar um gás que colabora na combustão e diminui a poluição.

Os projetos chefiados pelos professores do Departamento de Mecânica - Armando Caldeira, Carlos Gurgel e o próprio Alessandro -, atraem o interesse de empresas públicas e privadas, como a Fiat e a Eletronorte que firmaram acordos com o labortório. Além de mudanças na estrutura universitária, Alessandro lembra que só a pesquisa não resolve: é preciso vontade política para criar um novo plano energético que aproveite os resultados. "Programas como o Pró- Álcool foram muito importantes. Mas não se criou uma reserva para manter o preço estável e a distribuição, por exemplo", lembra Alessandro.

CB, 17/08/2006, Veículos, p. 3

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