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Combustível para a paz

O Globo, Opinião, p. 21
Autor: SENRA, Aquilino
31 de Dez de 2013

Combustível para a paz

Aquilino Senra

Há 25 anos, era promulgada a Constituição. O 21o de seus 97 artigos reza: toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional. O Brasil foi pioneiro, e ainda é, ao estabelecer na Carta Magna o uso desta poderosa tecnologia para a paz. Há 25 anos também nasciam as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), com a transformação da Nuclebras e de suas subsidiárias num corpo único, para capitanear o monopólio do urânio no país.

Neste quarto de século, o setor nuclear cresceu e se consolidou - hoje, bem estruturado, tem porte razoável e opera na formação de recursos humanos qualificados, no desenvolvimento tecnológico de ponta, domínio e uso do ciclo do combustível nuclear, regulamentação do uso da tecnologia e, principalmente, no pleno domínio das aplicações da energia nuclear, fundamentais para a sociedade em medicina, agricultura, indústria, arqueologia, meio ambiente e geração de eletricidade. Um exemplo: nos radiofármacos usados em diagnóstico e tratamentos médicos, substâncias químicas são associadas a radioisótopos produzidos em reatores nucleares; nossos profissionais estão desenvolvendo o importante projeto de um reator para produção de radioisótopos.

O Brasil busca, desde a década de 1950, dominar o ciclo do combustível: produção, beneficiamento do minério de urânio, fabricação dos elementos combustíveis e geração de eletricidade nas usinas nucleares. Faltava apenas o enriquecimento do urânio. Na virada para os anos 1990, o país desenvolveu de forma autônoma a tecnologia de ultracentrifugação para essa etapa do ciclo - tecnologia estratégica dominada por apenas nove países no mundo. A INB está transportando esta tecnologia para a escala industrial na fábrica de Resende. Mas o ciclo só se conclui se houver demanda contínua e sustentável pelo urânio.

Para avançarmos, precisamos definir a dimensão do programa nuclear para as próximas décadas, considerando-se a ampliação da participação da geração nuclear na matriz energética e a diversificação dessa matriz e atualização da tecnologia das usinas nucleares, com seus novos projetos muito mais seguros e econômicos. E é necessária a criação de uma agência regulatória independente, para evitar o atual conflito entre as atividades de produção e fiscalização, separação há muito reivindicada pela comunidade científica.

A INB tem cumprido a missão de fornecer o combustível para as aplicações da energia nuclear no país. Pode produzir mais e o Brasil poderá, no futuro, além de atender plenamente ao mercado interno, negociar o excedente no mercado mundial - mas, sempre, com valor agregado através do uso da tecnologia desenvolvida autonomamente no país. Temos, na grandeza de nossas reservas de urânio, uma das razões que justificam a existência do programa nuclear, capaz de gerar riquezas e trazer ainda mais benefícios à sociedade pelo enorme potencial energético.

O Globo, 31/12/2013, Opinião, p. 21

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