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Combustíveis fósseis devem ficar 'intocados'

O Globo, Sociedade, p. 24
08 de Jan de 2015

Combustíveis fósseis devem ficar 'intocados'
Limitar exploração de reservas é única forma de manter aquecimento abaixo dos 2 graus

RENATO GRANDELLE
renato.grandelle@oglobo.com.br

Manter a temperatura do planeta nos eixos vai custar caro. Em um estudo publicado ontem na revista "Nature", pesquisadores da Universidade College London determinaram quais devem ser os limites da exploração dos combustíveis fósseis, os principais motores da economia mundial. Segundo o cálculo, um terço das reservas de óleo, metade das reservas de gás e mais de 80% das reservas atuais de carvão devem permanecer intocadas.
- Sabemos qual é a quantidade e a localização dos combustíveis fósseis cuja exploração deveria ser proibida, para que a temperatura global não ultrapasse os 2 graus Celsius, em relação aos níveis préindustriais - destacou o pesquisador Christophe McGlade, do Instituto de Recursos Sustentáveis da UCL. - Ainda existe uma disposição dos governos de se desenvolverem a qualquer custo. Queremos mostrar o descompasso esta postura e a necessidade de cortar emissões.
A proposta de McGlade mexe nos brios dos países mais poderosos. China, Rússia e EUA precisariam abandonar seus depósitos de carvão - o mais sujo entre os três principais combustíveis fósseis -,e o Oriente Médio teria de deixar para trás o equivalente a 260 bilhões de barris de óleo.
Também é recomendável que o Canadá desista de sua nova política de produção de petróleo. As nações que disputam os recursos do Oceano Ártico, como Rússia e Dinamarca, estariam proibidas de investir na exploração de petróleo e gás na região.
- Todos os países precisam fazer sacrifícios. O Brasil, por exemplo, deve administrar melhor os processos industriais que levaram ao desmatamento da Amazônia - destaca McGlade. - Se todos os recursos analisados permanecerem inexplorados, podemos ter, pelo menos, 50% de chances de evitar o aquecimento global. Sinceramente, não acredito que o aumento da temperatura será inferior a 2 graus Celsius. Mas podemos evitar cenários mais caóticos.
Luiz Serrano, especialista em mudanças climáticas e economia de baixo carbono, acredita que o estudo pode trazer implicações políticas, fomentando o debate da Conferência do Clima de Paris, no fim do ano.
- Só discordo quanto à recomendação para proibir a exploração de novas reservas no mundo - comenta Serrano, que é gerente de sustentabilidade do escritório KeyAssociados. - Acho que isso deve continuar, porque essas iniciativas levam ao desenvolvimento tecnológico, que já permite técnicas como a captura e o estoque de carbono.

O Globo, 08/01/2015, Sociedade, p. 24

http://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/metade-do-petroleo-do-mundo-d…

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