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Combate às doenças presentes nas aldeias

Kaxiana - http://www.kaxi.com.br/noticias.php?categoria=4
Autor: Romerito Aquino
18 de Abr de 2009

Uma verdadeira operação de guerra será montada na próxima quinta-feira, 23 de abril, para levar saúde às aldeias dos índios Yawanawá, do rio Gregório, no município de Tarauacá. Durante quatro dias, um pequeno e significativo exército de médicos, enfermeiros, agentes de saúde e outros profissionais do setor estará se revezando em duas aldeias daquele povo indígena para consultar, fazer exames e prescrever a medicação apropriada para todos os índios - crianças, jovens, adultos e idosos - que ali estejam doentes. Algo concreto para se comemorar mais um Dia de índio no Brasil, neste 19 de abril de 2009.

"Será a mais ampla ação de saúde a ser realizada numa área indígena do estado", prevê a coordenadora do programa Saúde Itinerante, do governo do Acre, Celene Maria Prado, escolhida pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para também coordenar a operação que pretende atender todos os 568 índios existentes na Terra Indígena do povo Yawanawá, um dos mais ricos culturalmente no estado.

Além da Funasa e do governo do estado, a operação pró-saúde indígena está contando com o apoio do gabinete do senador Tião Viana (PT-AC), médico idealizador do programa Saúde Itinerante, já com 10 anos de atuação em todo o interior do Acre, com equipes de saúde multidisciplinares atendendo periodicamente a índios, seringueiros, ribeirinhos e outros povos da floresta.

A operação desta semana em favor da saúde dos índios acrianos tem significado especial porque será a primeira a fazer um diagnóstico completo das doenças presentes em uma das muitas aldeias do estado. "Esse diagnóstico vai nos permitir fazer propostas de ações estruturantes para serem executadas, posteriormente, em todas as outras aldeias do estado em favor da saúde indígena", assinala Celene Prado, uma grande batalhadora pela melhoria da qualidade de vida da população do interior.

As propostas estruturantes, segundo explica Celene Prado, vão levar a ações concretas que devem ser executadas tanto na cura quanto na prevenção das doenças. Para isso, haverá investimentos maciços na área do saneamento básico com o objetivo de garantir nas aldeias, daqui para frente, água tratada e esgotamento sanitário, cujas ausências é o que mais contribui, de fato, para as doenças se alastrarem para dentro da floresta.

Nesse sentido, a Funasa já informou a Secretaria de Saúde do Acre, que é quem está comandando a operação pró-saúde indígena, que já foram até licitadas as compras dos equipamentos que serão levados para todas as terras indígenas acrianas para garantir o atendimento completo na área do saneamento básico.

O pequeno exército de profissionais, que pretende garantir muita saúde para o povo Yawanawá, será formado por vários médicos, enfermeiros e agentes de saúde, além de odontólogo, nutricionista, psicólogo e outros profissionais do setor. Trata-se de uma equipe multidisciplinar em saúde pública formada por 13 profissionais do estado e 16 funcionários da Funasa.

Doenças vão de sífilis a hepatite Delta

A operação de saúde na terra indígena do rio Gregório, prevista para ocorrer nas aldeias Mutum e Nova Esperança, nasceu justamente por causa de um diagnóstico feito em outubro do ano passado na aldeia Nova Esperança por uma equipe de médicas do programa Saúde Itinerante, levada pelo senador Tião Viana durante a realização do último Festival de Canto, Dança e Espiritualidade dos Yawanawá, conhecido como Yawá.

Nos atendimentos feitos na aldeia Nova Esperança, a equipe de médicas, também coordenada à época por Celene Prado, diagnosticou elevados índices de hepatite entre os adultos e de subnutrição crônica entre crianças de até um ano de idade. Publicado na imprensa, o diagnóstico acabou gerando uma reunião em Brasília, no início de março passado, entre a direção da Funasa e representantes do governo do Acre e do gabinete do senador Tião Viana, além do cacique Biraci Brasil, do povo Yawanawá.

Na reunião, que durou o dia inteiro, ficou acertada a execução de um projeto piloto para levantar as necessidades e carências dos indígenas e reestruturar todo o atendimento de saúde nas aldeias do Acre, hoje a cargo da Funasa, que delega sua execução a prefeituras do interior do estado. Além de representantes da Assessoria Especial dos Povos Indígenas e da Secretaria de Saúde, o governo do Acre esteve representado na reunião pelas assessoras Regina Lino e Magaly Medeiros, da Representação do estado em Brasília, que fazem a ponte dos entendimentos entre os governos estadual e federal em favor da melhoria da qualidade de vida dos índios acrianos.

Coordenada pelo diretor Wanderley Guenka, a pedido do diretor-executivo da Funasa, Faustino Barbosa Lins Filho, que foi convencido por Regina Lino a comprar a briga pela saúde dos índios do Acre, a reunião se iniciou com a apresentação de um power-point contendo um balanço das ações do órgão no estado. Além disso, mostrou o universo do pessoal contratado pelas prefeituras, com recursos repassados pela Funasa, para a execução de tais ações.

Os dados da Funasa demonstraram a existência de um significativo número de funcionários e de um grande volume de recursos que são repassados anualmente pelo órgão para as prefeituras garantirem a saúde de mais de 11 mil índios de 16 etnias existentes em 113 aldeias do Vale do Juruá, que é atendido por oito pólos básicos de saúde. O levantamento da Funasa indica que existem hoje nada menos que 178 servidores contratados, entre médicos, enfermeiros, agentes de saúde e outros. E os recursos chegam a quase R$ 6 milhões anuais para atender apenas aos índios do Vale do Juruá. E foi falado que se a saúde indígena vai mal é porque está havendo sérios problemas de gestão na execução do programa de saúde da Funasa.

O balanço da Funasa demonstrou, ainda, a ocorrência de uma grande variedade de doenças nas aldeias dos índios acrianos, indo desde malária, tuberculose, leishmaniose, verminose, hepatite, diarréia, subnutrição crônica e pneumonia, até doenças do aparelho digestivo e as sexualmente transmissíveis, como gonorréia e sífilis. Assessores da Funasa falaram até da ocorrência de mortes entre os índios Katukina provocadas até pela hepatite Delta, que no passado era mais conhecida como Peste Negra da Amazônia.

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