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27 de Set de 2021
Com sistema isolado, energia de Roraima custa quase R$ 5 milhões por dia
Energia de Roraima é fornecida unicamente por meio de cinco termelétricas. O projeto do Linhão de Tucuruí, que promete ligar o estado ao restante do país, está em fase de licenciamento ambiental.
Por Luciano Abreu, Rede Amazônica e g1 RR - Boa VIsta
27/09/2021
Roraima continua sendo o único estado do Brasil fora do Sistema Integrado Nacional (SIN) de transmissão de energia. Este isolamento custa, em média, R$ 8 bilhões por ano e, cerca de R$ 5 milhões por dia para abastecer os 177 mil usuários distribuídos nos 15 municípios.
Atualmente, o estado recebe energia de cinco termelétricas da distribuidora Roraima Energia. A despesa é dividida entre todos os consumidores de energia elétrica do país, por meio da Conta de Consumo de Combustível (CCC).
Com o isolamento, porém, há quedas de energia, poluição e altos preços na conta de energia. Os municípios do interior são os mais afetados.
Na vila São José, no município de Cantá, os moradores lidam com as quedas de energia com frequência. A área fica na região Norte de Roraima, a 140 quilômetros de Boa Vista.
"Estraga bastante minhas carnes, meus frangos e minhas coisas da geladeira. Eu preciso desse freezer para conservar", conta a comerciante Maria Helena Pereira da Silva, moradora da vila.
A vila, inclusive, já precisou enfrentar um apagão de dez dias e, por isso, os moradores começaram a anotar os dias e as horas que passam sem energia elétrica para manter o controle.
"A gente é muito prejudicado pela falta de energia, quase todo dia falta. A gente quer fazer as coisas e não pode", conta o produtor rural, Raimundo da Conceição.
Além de todo o estado de Roraima, há pelo menos outras 200 localidades entre pequenas cidades e vilas, a maioria também no Norte do país, que não estão conectadas ao Sistema Interligado Nacional. Mas, Boa Vista é a única capital do Brasil sendo atendida por um sistema isolado.
O sistema interligado é dividido em quatro subsistemas. Grande parte da energia é gerada por hidrelétricas. Há ainda as térmicas, as solares e as eólicas. A energia produzida viaja por 164 mil quilômetros de linhas de transmissão.
Para Ricardo Lima, consultor do Instituto Clima e Sociedade (ICS), a ausência de Roraima na linha de transmissão do Sistema Interligado Nacional promove a exclusão do estado e também prejuízo.
"É muito triste para um país como o nosso ainda ter localidades que ainda não estão conectadas ao Sistema Interligado Nacional, por várias razões. Primeiro que essas comunidade não recebem uma energia de qualidade. Normalmente, essa geração é feita com derivados de petróleo, o que também é poluente e gera ruídos. Além disso, significa uma exclusão, a medida em que limita o suprimento de energia para o desenvolvimento econômico e social dessas comunidades".
Para o analista ambiental do Instituto Socioambiental (ISA), Ciro Campos, as fumaças das termelétricas são fatores que favorecem a ocorrência de desastres naturais na localidade.
"As termelétricas lançam um volume grande de fumaça na atmosfera e essa fumaça se junta à fumaça da descarga dos veículos e dos incêndios, do desmatamento dos biomas, do metano dos reservatórios, da fumaça das indústrias e acaba acelerando as mudanças climáticas que tornam o clima cada vez mais imprevisível, causando mais secas, cheias, desastres e eventos extremos", relata.
Linhão de Tucuruí
Por 18 anos, a energia chegou a Roraima por meio do Linhão de Guri, que era vindo da Venezuela. Em 2019, depois de uma série de apagões, o linhão foi desligado fazendo com que toda a energia de Roraima dependesse apenas das cinco termelétricas.
Para conectar Roraima ao Sistema Interligado Nacional, o projeto do Linhão de Tucuruí, que ligaria Manaus ao estado por meio de 720 quilômetros de torres de transmissão, está pendente há dez anos.
Porém, 122 quilômetros do trajeto, cortam a reserva indígena Waimiri Atroari, o que causou o entrave. Os indígenas eram contra a instalação das torres, pois elas interferem na caça e alteram a paisagem. Mas, recentemente, se dispuseram a aceitar a obra sob a condição de que o Governo Federal faça compensações socioambientais.
De acordo com o advogado da Associação Indígena Waimiri Atroari, Harilson Araújo, os impactos da instalação vão ser sentidos por "várias gerações" na reserva indígena.
"São impactos que perdurarão não apenas durante a construção da linha de transmissão, mas ficarão esses impactos para o resto das gerações futuras do povo Waimiri Atroari", diz Araújo.
Por meio de nota, o Ministério de Minas e Energia afirmou que a linha de transmissão Manaus - Boa Vista, está em fase final de licenciamento ambiental e que após a aprovação as obras devem durar cerca de 36 meses.
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