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Com a seca no São Francisco, usina de Três Marias deve parar de gerar energia

OESP, Economia, p. B1, B3
12 de Out de 2014

Com a seca no São Francisco, usina de Três Marias deve parar de gerar energia
Energia. Usina de Minas está com apenas 4,5% da capacidade de seu reservatório; Operador Nacional do Sistema diz que mantém operação para não prejudicar 'o que vem rio abaixo', como a usina de Sobradinho, que está com 27,5% de sua capacidade

ALEXA SALOMÃO, ENVIADA ESPECIAL, TRÊS MARIAS ( MG) - O Estado de S.Paulo

A seca que castiga o Sudeste e o Nordeste está próxima de fazer uma grande vítima no setor elétrico. A usina de Três Marias, construída no leito do rio São Francisco, em Minas Gerais, pode parar de gerar energia no fim de outubro ou início de novembro.
Hoje ela opera com apenas duas das sete turbinas. Com capacidade total de 396 megawatts/hora (MWh) e responsável por quase um terço de toda a geração de energia do São Francisco, Três Marias tem em sua barragem apenas 4,5% do seu volume de água. Trata-se do nível mais crítico desde a inauguração, em 1962.
A água da represa baixou tanto que hoje é possível caminhar em parte do fundo da barragem, onde o cenário é de árida desolação. Onde antes os turistas se reuniam para avistar o "mar doce", como alguns chamam Três Marias, não há uma gota d'água.
O pier flutuante que ficava na margem está encalhado na poeira, longe da costa, rumo ao que deveria ser o fundo da água. A longa cerca erguida para isolar a usina, antes oculta sob as águas, emergiu totalmente e agora tem fim.
Alerta. O risco de paralisação da Usina de Três Marias foi mencionado num documento divulgado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, entidade que monitora toda a região influenciada pelo rio. De acordo com a entidade, Três Marias tende a atingir no final de outubro, mais tardar no início de novembro, o "volume zero", ou "volume morto", como se convencionou falar.
"A represa ainda terá água, mas numa quantidade insuficiente para gerar energia", explica Márcio Tadeu Pedrosa, coordenador do comitê responsável pelo Alto São Francisco, o trecho que corta o Estado de Minas Gerais a partir da nascente.
Segundo Tadeu, o problema ocorre porque hoje a barragem, que funciona como uma caixa d'água, despeja rio abaixo muito mais água do que recebe do rio acima. Como a seca castiga o São Francisco desde a nascente, pouco mais de 30 metros cúbicos por segundo (m³/s) entram em Três Marias atualmente, mas na outra ponta estão sendo liberados cerca de 150 m³/s.
A Cemig, empresa que tem a concessão da usina de Três Marias até 2015, foi reduzindo a geração ao longo do ano, desligando uma turbina de cada vez, à medida que a seca restringia a água. A falta de Três Marias sobrecarrega o sistema elétrico e precisa ser coberta por outras usinas hidrelétricas, térmicas e eólicas.
No entanto, a produção hoje é tão pequena, que já não é considerada fundamental no atual estágio da seca. "A Cemig acredita que pode manter a geração com a água próxima de zero, mas deixou se ser relevante se Três Marias vai ou não gerar energia porque ela está produzindo muito pouco", diz Hermes Chipp, diretor geral do Operador Nacional do Sistema, o ONS, responsável pela gestão da energia no Brasil. "Operamos a usina pensando nos demais usuários e usinas que dependem da água rio abaixo."
Depois de Três Marias, o rio São Francisco continua seu curso pelo Norte de Minas e por outros seis Estados, abastecendo a agropecuária e a população de mais de 400 municípios, bem como outras cinco hidrelétricas, incluindo as de Xingó, entre Alagoas e Sergipe, o complexo de Paulo Afonso e a usina de Sobradinho, na Bahia, essenciais ao abastecimento de energia do Brasil.
O ONS defende reter um volume maior de água na barragem neste momento para que possa ter instrumentos para manter o abastecimento rio abaixo nas próximas semanas. "Para o setor elétrico, o importante é monitorar a água de Três Marias para garantir que Sobradinho chegue a final de novembro com 15%", diz Chipp. Hoje, o reservatório da usina baiana tem 27,5% de água.

Reunião tenta equilibrar uso da água
Produtores agrícolas e municípios que captam do rio alegam que redução da vazão de Três Marias puniria a região com racionamento

ALEXA SALOMÃO, ENVIADA ESPECIAL, TRÊS MARIAS (MG) - O Estado de S.Paulo

Encher, um pouco que seja, a caixa d'água de Três Marias não é uma tarefa serena. Segurar mais água em Três Marias pode complicar a vida de quem depende do São Francisco rio abaixo - e numa região onde a seca está mais severa ainda.
"Se Três Marias segurar um volume maior de água, comprometerá o abastecimento rio abaixo", diz Anivaldo Miranda, presidente do Comitê da Bacia do São Francisco. "A situação é crítica não só para o setor elétrico, mas para todos os usuários que dependem do São Francisco."
Na quinta-feira, uma reunião em Brasília tentou equilibrar esses interesses. No encontro estavam representantes de produtores agrícolas, da Cemig, empresa de energia que tem a concessão de Três Marias, do Operador Nacional do Sistema (ONS), que faz a gestão do setor elétrico, da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), empresa que responde por usinas no rio São Francisco, da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), que representa agricultores que dependem da irrigação a partir do São Francisco.
Reserva. O ONS quer reduzir a saída de água de Três Marias para 120 m³/s. É uma forma de preservar a água da barragem e criar uma reserva de água para as próximas semanas, quando o calor deve aumentar. Pelos cálculos do ONS, Três Marias ainda teria 2% de água útil até o fim de novembro, mês em que se espera que as chuvas comecem a cair. Também seria possível, neste caso, manter a geração.
A Cemig teme que os equipamentos usados possam ser danificados se forem totalmente desligados e se comprometeu na reunião a testá-los nas próximas semanas. A redução para 120 m³/s, porém, é considerada radical por outros usuários das águas do São Francisco.
Produtores agrícolas e municípios que captam água do rio para abastecer a população alegam que essa redução puniria com o racionamento milhões de pessoas e a produção agropecuária numa região pobre do País. Ficou estabelecido que Três Marias reduziria a vazão de água dos atuais pouco mais de 150 m³/s para 140 m³/s até o fim de outubro, quando nova reunião será agendada.

Sobradinho busca alternativa para liberação de água

Sobradinho já reduziu a liberação de água de 1.300 para 1.100 m3/s. Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), com a chegada dos meses mais quentes, será preciso rever esse esquema. A alternativa proposta é fazer com que Sobradinho libere diferentes volumes de água em diferentes períodos do dia. Durante a madrugada, da meia-noite às 6 horas, liberaria apenas 900 m3/s. Ao longo do dia e parte da noite, quando o consumo de energia e de água são maiores, liberaria 1.700m3/s. Haveria, então, uma oscilação diária de 800m3/s na liberação de água. O diretor geral do ONS, Hermes Chipp, diz que as mudanças poderiam atender as demandas, que oscilam ao longo do dia. A proposta, no entanto, causou estranhamento. A Agência Nacional de Águas (ANA) está examinando a proposta do ONS. /A.S.

OESP, 12/10/2014, Economia, p. B1, B3

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,com-a-seca-no-sao-francis…

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,reuniao-tenta-equilibrar-…

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