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Com promessa de recursos, fundo engata retomada

Valor Econômico, Especial Agenda Agroambiental, p. F2
03 de Mai de 2023

Com promessa de recursos, fundo engata retomada
BNDES vai concentrar desembolsos no combate ao desmatamento e no reforço ao atendimento de populações indígenas

Por Andrea Vialli - Para o Valor, de São Paulo

Praticamente congelado durante a gestão de Jair Bolsonaro, o Fundo Amazônia voltou aos holofotes este ano. Teve a governança restaurada, uma exigência dos doadores, e, em abril, foi anunciada a entrada dos Estados Unidos, com a promessa do presidente Joe Biden de contribuir com US$ 500 milhões. A verba deve ser aplicada em ações de combate ao desmatamento na Amazônia e em outros biomas, na transição energética e no combate às emissões de metano, um dos principais gases de efeito estufa.
A retomada do Fundo Amazônia foi oficializada por um decreto editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro dia de governo. Em fevereiro, foi restaurado o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (Cofa), principal instância de governança do mecanismo, formado por membros do governo federal, representantes dos governos dos Estados da Amazônia Legal e da sociedade civil. Foi o primeiro encontro do comitê desde 2018, já que o fundo foi paralisado no ano seguinte devido a divergências entre os governos da Noruega e Alemanha, principais doadores, e o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Na retomada, o comitê decidiu concentrar o apoio inicial do Fundo Amazônia para o enfrentamento do desmatamento da região, que segue alto, e à crise humanitária e sanitária de populações indígenas e comunidades tradicionais, com ações intersetoriais em alimentação, saúde e educação. Também houve a retomada imediata do processo de análise dos 14 projetos que haviam sido paralisados em 2019 e o restabelecimento do Comitê Técnico (CTFA), formado por membros da comunidade científica.
Desde 2009, o fundo já recebeu R$ 3,4 bilhões, sendo 93,8% provenientes do governo da Noruega, 5,7% do governo da Alemanha, além de 0,5% da Petrobras. Em dezembro de 2022, o governo alemão formalizou com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), gestor do Fundo Amazônia, uma nova doação de € 35 milhões, que devem ser injetados ao longo de 2023.
Segundo o BNDES, o mecanismo contribuiu, ao longo dos anos, para a manutenção da floresta em pé e foi responsável pela condução de mais de 1.700 ações de fiscalização, que permitiram a inscrição de 1,1 milhão de propriedades rurais localizadas na Amazônia Legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Na área de fomento a atividades produtivas sustentáveis, foram beneficiadas 200 mil pessoas; os projetos apoiados pelo fundo promoveram intervenções em 190 Unidades de Conservação (UCs) e 101 Terras Indígenas (TIs), alcançando 59 mil indígenas.
A retomada da análise dos projetos tem sido célere, segundo Adriana Ramos, especialista em políticas ambientais do Instituto Socioambiental (ISA) e membro do Cofa. "É muito animadora a retomada do fundo. Há pressa de fazer o fundo voltar a funcionar o mais rápido possível, considerando a importância dele para apoiar os órgãos públicos", afirma.
A participação dos EUA também deve dar novo impulso aos projetos, uma vez que ficou acordado que os recursos vão seguir as normas definidas pelo Brasil, e não pelos EUA, como é de praxe. "Esse anúncio é bem-vindo porque fortalece o fundo e faz com que a cooperação americana reconheça as diretrizes e prioridades do governo brasileiro", diz a conselheira.
Assinado em dezembro de 2018, o projeto Legado Integrado da Região Amazônica (Lira), operado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), escapou por um triz de ser inviabilizado no governo Bolsonaro. Conta com recursos de R$ 61 milhões a serem gastos até 2024, sendo R$ 40 milhões do Fundo Amazônia e o restante investido pela Fundação Gordon e Betty Moore, criada pelo fundador da Intel.
O projeto abrange 34% do território das áreas protegidas da Amazônia e atua como articulador e gestor técnico-financeiro da rede de parceiros e também como executor direto de ações no território, que incluem fomento a 13 cadeias de produtos extrativistas da região, que totalizam 44 negócios de base comunitária.
Fabiana Prado, coordenadora do Lira, diz que os recursos do fundo custeiam os projetos mais robustos e que envolvem a construção de infraestrutura e equipamentos para processamento de matérias-primas amazônicas; e também o fortalecimento das instituições da região, o que inclui a formalização de cooperativas. No entanto, como o processo de análise do BNDES é bastante rigoroso, acaba barrando projetos que poderiam ser efetivos para as comunidades.

Valor Econômico, 03/05/2023, Especial Agenda Agroambiental, p. F2

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