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Com poucos recursos, ele faz a diferença

O Eco - http://www.oecoamazonia.com/
Autor: Pedro da Cunha e Menezes
13 de Set de 2011

Quem vem de Belém para Macapá de barco chega junto com a alvorada. Após cinquenta horas de viagem deslizando sobre o Amazonas, a capital amapaense aparece enorme, guarnecendo a boca do rio, com a ajuda da imponente fortaleza de São José, construída pelos portugueses ainda no período colonial. Ali, junto à foz, o Amazonas é um mar desabrido. Para ver a margem oposta é preciso esticar os olhos. Difícil não se deixar impressionar.

Já no cais, fui recebido por Christoph Jaster, Chefe do Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque (PNMT), entre Amapá e Pará. Jaster nasceu na Alemanha, mas é tão ou mais brasileiro quanto qualquer ente parido em terras tupiniquins. Tem um sorriso largo, simpatia contagiante e um bom humor digno de nota. Soube, entretanto, temperar sua inequívoca brasilidade com uma seriedade profissional de fazer inveja a muitos germânicos.

Ainda bem para o Instituto Chico Mendes! Pois só muito amor ao trabalho e força de vontade seriam capazes de fazer alguém aceitar a tarefa que foi depositada sobre Jaster. O que lhe sobra em dedicação falta em tudo mais. Instalações físicas, orçamento, equipamentos e pessoal são para lá de insuficientes.

O Exército de Brancaleone que comanda alista quatro servidores. Sua missão: proteger quase quatro milhões de hectares de floresta. Não, não é piada. É verdade pura, nua e crua. Qualquer ser humano normal já teria jogado a toalha. Jaster é estóico. Sabe que o problema é epidêmico. "O Brasil ainda não acordou para o fato de que é preciso mais gente para fazer uma política de conservação minimamente decente", diz. Briga como pode.

A sede da Unidade de Conservação, em Macapá, é uma pequena sala cedida pela Universidade Federal do Amapá. Divide o espaço com praticamente todas as outras áreas protegidas federais no estado. É bem apertado, mas Jaster e seus companheiros fazem do limão uma limonada. Atuam como um mosaico. Compartilham recursos, combustível, automóveis e, sempre que necessário, gente. O resultado é uma gestão de qualidade muito superior ao que poderia se esperar, dadas as precárias condições existentes.

Jaster vai além. Construiu uma bem azeitada relação com a 1ª Companhia Especial de Fronteira do Exército Brasileiro, cujo quartel fica em Clevelândia do Norte, na entrada do parque. Informalmente a tropa atua como guarda-parque coibindo o garimpo, a caça e evitando o crescimento ilegal das duas vilas existentes dentro dos limites da área protegida. O mesmo vale para a Polícia Federal, cujos ouvidos doem de tanto ouvir os gritos de socorro de Jaster. Para calar o chefe do parque, o ajudam no patrulhamento e controle do desmatamento, sobretudo no que tange à construção de pistas de pouso piratas em meio à unidade de conservação.

Nada disso, contudo, é suficiente. Segundo os cálculos do próprio parque, ainda há muitas atividades ilegais dentro da Unidade de Conservação. Não é de espantar. Estudo acadêmico realizado pelo Procurador do Meio Ambiente do Amapá, Milton Ferreira do Amaral Junior, usando a ferramenta Sistema de Investimento Mínimo em Conservação-IMC, calculou que o PNMT necessita de 176 servidores para cumprir as funções determinadas em seu plano de manejo. Nesses termos, se não houver uma séria guinada de política ambiental em Brasília, o Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque sempre estará correndo atrás do prejuízo.

Enquanto isso não ocorre, entretanto, Jaster não está parado. Agora sonha em criar e propor à população uma alternativa de renda a partir do parque, de modo a fazer com que Tumucumaque, ademais de proteger a natureza, também possa oferecer oportunidades de emprego legais. Para ele, só assim os habitantes do entorno migrarão de atividades impactantes para uma relação sustentável com o parque. Se depender da macro-política ambiental do Brasil, emanada de instâncias acima do próprio Instituto Chico Mendes, Jaster pode esperar sentado. Tendo conhecido o sujeito pessoalmente, todavia, posso garantir que ele não fará uso de cadeira ou poltrona. Enquanto Jaster estiver à frente do Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque, a natureza vai resistir. Temo apenas (e espero estar errado) que seja um esforço vão, que sirva somente para retardar uma morte anunciada. Seja como for, tenho certeza de que, se e quando cair, cairá de pé e atirando.

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