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Com novo governo, Conselho da Amazônia deixa de existir nos moldes atuais

O Eco - https://oeco.org.br/noticias
03 de Jan de 2023

Com novo governo, Conselho da Amazônia deixa de existir nos moldes atuais
Estrutura volta para Ministério do Meio Ambiente. Políticas de controle do desmatamento no bioma ficarão a cargo de Comissão Interministerial

Cristiane Prizibisczki · 3 de janeiro de 2023

Com a chegada de Lula à Presidência e as mudanças introduzidas pelo novo governo, o Conselho da Amazônia deixa de funcionar nos moldes empregados durante a gestão Bolsonaro. O Conselho ganhou destaque nos últimos anos pelo uso das Forças Armadas em ações no bioma, sob o comando do então vice-presidente Hamilton Mourão. A mudança foi publicada ontem (02) no Diário Oficial da União, com a revogação do decreto de Bolsonaro de 2020 que conferia poderes ao Conselho.

A partir de agora, as ações de combate aos ilícitos ambientais na floresta tropical serão realizadas no âmbito do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), que volta a vigorar na nova gestão. O Plano será coordenado por uma comissão formada por 17 Ministérios, sob o comando da Presidência da República, por meio da Casa Civil.

O PPCDAm é considerado o programa mais exitoso no combate ao desmatamento na Amazônia, tendo sido responsável por diminuir de 25 mil km² para 4,6 mil km² o desmatamento anual no bioma, entre 2003 e 2012, uma queda de 83%. Ele foi paralisado no primeiro ano da gestão Bolsonaro.

Desde 2012, a destruição da floresta tropical vem crescendo, tendo registrado aumento de 60% somente durante o governo Bolsonaro. Nem mesmo o emprego das Forças Armadas, sob o comando de Hamilton Mourão na direção do Conselho Nacional da Amazônia, a partir de 2020, surtiu efeito. Sua atuação foi considerada um fracasso.

"Eu não consegui fazer a coordenação e a integração da forma que ela funcionasse", admitiu o próprio Mourão no final de 2021.

No total, foram realizadas três operações militares na Amazônia - por meio das chamadas GLOs (garantias da lei e da ordem), em 16 meses. As Operações Verde Brasil 1 e 2 e Samaúma consumiram meio bilhão de reais do dinheiro público e não foram efetivas.

Conselho da Amazônia
O Conselho da Amazônia foi criado em 1993, durante o governo de Itamar Franco, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente. Em 1995, foi regulamentado por Fernando Henrique Cardoso e manteve-se sob o comando da pasta ambiental.

Em 2020, com o aumento intenso do desmatamento e queimadas no primeiro ano do governo Bolsonaro, o então presidente ressuscitou o Conselho que, até então, nunca havia funcionado efetivamente, como explica Adriana Ramos, assessora política do Instituto Socioambiental (ISA).

"Esse conselho foi criado com a perspectiva de ter uma instância superior para pensar políticas macro voltadas para a Amazônia. Mas ele nunca funcionou de fato", explica.

Segundo ela, a reformulação do Conselho e sua administração nas mãos da vice-presidência, além de não terem apresentado bons resultados, ainda beneficiaram a política de destruição ambiental promovida por Bolsonaro e seus ministros.

"Quando o governo transferiu a responsabilidade de cuidar dos desmatamentos pro Mourão, muita gente falou 'ah o Salles [Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente] perdeu', e na época falei: 'Não, gente, ele ganhou. Porque para o que ele pretendia fazer [desmonte do arcabouço ambiental], tudo que ele não queria era estar no holofote de preocupação em cima da Amazônia. E ele conseguiu transferir esse holofote para outro lugar, para cumprir o 'passar a boiada' dele com menos preocupação, porque a atenção passou para o Mourão", diz Adriana Ramos.

Para a assessora política do ISA, ao retomar o comando das ações de combate ao desmatamento para o PPCDAm, o governo Lula sinaliza que está apostando em iniciativas que já deram resultado.

"Ao extinguir o Conselho [Nacional da Amazônia] e recriar a Comissão Interministeral do PPDCAm, que foi a instância onde as políticas mais efetivas de redução de desmatamento foram formuladas e estabelecidas, a sinalização é: 'nós vamos dar foco nisso [resultados], não é uma coisa pra inglês ver, é para realmente colocar no chão políticas efetivas de controle do desmatamento'. E é o que importa na Amazônia no momento", defende.

O papel que o Conselho da Amazônia terá, novamente dentro do Ministério do Meio Ambiente, ainda não é conhecido.

Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College - Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow..

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