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Com desmate em alta, Brasil perde um Parque Ibirapuera por hora em 2020

Valor Econômico - https://valor.globo.com/brasil/noticia
11 de Jun de 2021

Com desmate em alta, Brasil perde um Parque Ibirapuera por hora em 2020
Cenário é impressionante na Amazônia, onde acontece 61% do total de derrubada e a dinâmica está se alterando - cada vez mais o desmatamento se desloca

Por Daniela Chiaretti, Valor - São Paulo 11/06/2021

O desmatamento cresceu 14% em 2020 em todo o Brasil. A velocidade diária do desmate foi de 24 árvores por segundo. O Brasil perdeu 158 hectares, ou um Parque do Ibirapuera, localizado em São Paulo, por hora em 2020. O cenário é impressionante na Amazônia, onde acontece 61% do total de derrubada e a dinâmica está se alterando - cada vez mais o desmatamento se desloca das margens e avança pelo interior da floresta. Do total de alertas, 99,8% têm indícios de ilegalidade, mas só 2% foram atendidos pelo Ibama. "É visível o avanço do desmatamento da Amazônia no Pará e entrando pelas estradas e ao longo do rio Amazonas", diz Marcos Rosa, doutor em geografia pela USP e coordenador técnico do MapBiomas, que acaba de lançar o relatório inédito com dados de desmatamento em todo o país.

Até há pouco, o desmatamento ocorria no chamado "arco do desmatamento", expressão histórica que indica o avanço da degradação nos municípios que fazem fronteira com a floresta. "O arco do desmatamento está consolidado com produção de soja. O que vemos é a internalização do processo para dentro da floresta", diz o pesquisador. Pelos dados do MapBiomas Alerta, a derrubada nos seis biomas brasileiros alcançou 13.853 km2, uma área nove vezes maior que a cidade de São Paulo. A análise foi feita em 74.218 alertas de desmatamento no território nacional. Houve desmatamento em todos os dias de 2020. O dia 31 de julho foi o mais crítico do desmatamento em 2020. Foram desmatados 4.968 hectares, quase 575 m2 por segundo. O país perdeu, em um dia, uma área maior do que a de 80 cidades brasileiras, mostra o estudo. A maior parte do desmatamento ocorreu em áreas registradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Houve desmatamento em 2020 em 52.766 imóveis rurais registrados com CAR. Contudo, isso representa apenas 0,9% dos imóveis registrados no país.
"Dos cerca de 5,5 milhões de propriedades rurais registradas no CAR, apenas em 0,9 % vimos desmatamento", diz Rosa. "Isso quer dizer que 99,1% dos proprietários não desmataram no Brasil. A grande maioria dos proprietários rurais está trabalhando corretamente. O problema é que o 1% que desmata é muito barulhento e luta pelo desmonte ambiental", continua. "É ruim porque a grande maioria dos produtores é parceiro da conservação." O desmatamento cresceu 9% na Amazônia, 6% no Cerrado, 43% no Pantanal e 99% no Pampa. Na Mata Atlântica, considerado o bioma mais ameaçado do país, o índice explodiu, subindo 125%. Na Caatinga, foi de 405%, mas talvez isso decorra do fato de o bioma ter um novo sistema de detecção de desmatamento. O índice de provável ilegalidade é mais baixo no Cerrado. É baixo o número de alertas de desmatamento que tiveram alguma resposta do governo federal. O relatório mostra que só 2% dos alertas e 5% da área desmatada entre 2019 e 2020 receberam multas ou embargos pelo Ibama. Nos 11 municípios definidos pelo Conselho da Amazônia como prioritários para conter o desmatamento, 3% dos alertas e 12% da área desmatada foram multados ou embargados. No caso dos 52 municípios tidos como críticos pelo Ministério do Meio Ambiente, apenas 2% dos alertas e 9,3% da área desmatada sofreram alguma punição. O Pará é o Estado com mais desmatamento no país - 33% dos alertas e 26% da área desmatada. Altamira foi pelo segundo ano consecutivo o que registrou o maior desmatamento. É o maior município do Brasil e onde fica a hidrelétrica de Belo Monte. Um único alerta em Altamira foi de 6.649 hectares. Vale apontar que 49% da área desmatada no Brasil se concentrou em 50 municípios, sendo 14 deles no Pará. Balsas, no Maranhão, registrou o maior desmatamento detectado - 5.987 hectares. Fica no Matopiba, a região nos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia onde se expande a fronteira agrícola. Mais de um terço dos desmatamentos em 2020 teve sobreposição com áreas de Reserva Legal, Áreas de Preservação Permanente (APPs) ou nascentes, todas protegidas pelo Código Florestal, diz o texto dos dados principais do relatório. As unidades de conservação continuam sob pressão: 337 das 2.060 unidades de conservação federais e estaduais sofreram desmatamento. O índice é de 12,4% do desmatamento total acontecendo nas unidades de conservação. Nas terras indígenas, o desmatamento cresceu 31% em relação a 2019. O relatório diz que 297 das 573 terras indígenas sofreram com a degradação. O estudo indica também que os Estados começaram a atuar no combate ao desmatamento, embora as informações sejam escassas. Só O Mato Grosso e São Paulo publicam dados completos e atualizados online.

O Pantanal, que foi devastado por incêndios em 2020, sofreu alta do desmatamento. Foi o bioma com maior média de área desmatada por alertas - 119,5 hectares. "Tivemos o cuidado de colocar apenas os dados de áreas que queimaram e depois limpas e transformadas em pasto", explica Rosa. "Infelizmente, o desmatamento cresceu em todos os biomas e o grau de ilegalidade continua muito alto. Para enfrentar o desmatamento é necessário que a sensação de impunidade seja desfeita. Para isso, é preciso garantir que o desmatamento seja detectado e reportado e que os responsáveis sejam devidamente penalizados e não consigam aferir benefícios das áreas desmatadas", diz Tasso Azevedo, coordenador-geral do MapBiomas, em nota à imprensa. "Em mais de dois terços dos casos, também é possível saber quem é o responsável. É preciso que os órgãos de controle autuem e embarguem as áreas desmatadas ilegalmente e as empresas eliminem essas áreas de suas cadeias de produção", segue Tasso Azevedo. O MapBiomas é um projeto que mapeia o uso e a ocupação de solo do país de 1985 até hoje. Dá a visão a histórica da expansão da agricultura e pastagens, mineração, áreas urbanas e permite a gestão do território com análise de áreas que podem, por exemplo, ser protegidas com a criação de corredores de biodiversidade. Em 2018, surgiu o MapBiomas Alerta. Usa dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o SAD do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o SAD Caatinga, da Universidade Estadual de Feira de Santana e Geodatin, o GLAD, da Universidade de Maryland e o Sirad, do Instituto Socioambiental. O MapBiomas cobre todo o território nacional e valida os alertas de desmatamento do Inpe e de outros quatro sistemas de detecção. São analisados com imagens em alta resolução e auxílio de inteligência artificial. O sistema é público, aberto e transparente. A análise é feita com cruzamento de dados com recortes fundiários (como o Cadastro Ambiental Rural, unidades de conservação e terras indígenas), territoriais (biomas, Estados e municípios) e administrativos (existência de autorização para desmatar, autuação ou embargo). O sistema se conecta com dados do Ibama, para ver se há ou não autorização de desmatamento. Dados das autorizações estaduais nem sempre são informados, contudo. "É por isso que falamos em indícios de ilegalidade, mas não se pode dizer que todo o desmatamento é ilegal", diz Rosa. O relatório completo está em http://alerta.mapbiomas.org

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