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Clima de tensão nas fronteiras

CB, Mundo, p. 33
27 de Set de 2008

Clima de tensão nas fronteiras
Instabilidade na Bolívia e pressão crescente sobre produtores brasileiros no Paraguai são apenas dois motivos de preocupação para a PF

Edson Luiz
Da equipe do Correio

A Polícia Federal está preocupada com a situação dos brasileiros residentes na Bolívia e Paraguai, onde a possibilidade de conflito pode surgir a qualquer momento. No primeiro caso, a questão é política, enquanto que no segundo, o problema é econômico. Mas a atenção se estende também a outras cinco nações com as quais o país faz fronteira. Os problemas vão de exploração de prostituição até recrutamento por narcotraficantes. E o Brasil pode fazer pouco por seus nacionais, já que a maioria das pessoas estão ilegais nos outros territórios e não há um censo preciso que mostre onde moram, quem são e em que condições se encontram.
A situação dos brasileiros do outro lado da fronteira só não é tão complicada na Guiana, onde o governo chega a recrutar pessoas de outros países para colonizar principalmente as regiões de floresta. Isso impediria uma suposta invasão venezuelana, uma eterna preocupação dos guianenses. A área próxima do Rio Cotingo, localizado atrás da reserva indígena Raposa Serra do Sol, é o local preferido dos brasileiros que muitas vezes deixam Roraima para tentar a vida nos garimpos do país vizinho. "Apesar disso, não há grandes problemas", diz o delegado Mauro Spósito, coordenador-geral de Operações Especiais de Fronteira da Polícia Federal.
Mas o perigo, pelo menos para os brasileiros, está ao lado. A rígida lei ambiental da vizinha Venezuela está expulsando brasileiros que atuam ilegalmente nos garimpos da região, principalmente no departamento de Gran Sabana, também na divisa com Roraima. Isso vem ocorrendo no Rio Siapa, onde a concentração e a repressão são mais freqüentes. No interior do país, apesar das constantes ameaças de golpe político contra o presidente Hugo Chávez, não há grandes problemas.
Um quebra-mola é a única divisão entre Tabatinga e Letícia, na fronteira entre Brasil e Colômbia.
Por isso, os problemas são semelhantes, principalmente em relação ao narcotráfico. Muitos brasileiros que trabalham do outro lado da Avenida da Amizade - que corta as duas cidades - sofrem assédio freqüente de traficantes de drogas. Muitas vezes sob ameaça de morte. Eles são recrutados para levar de barco a cocaína até Manaus, de onde a droga segue para a Europa. "Muitas vezes os moradores de Tabatinga possuem parentes em Letícia que os envolvem no negócio. Na verdade, naquela região, o problema é dos dois lados. Tanto do brasileiro que mora na Colômbia quanto o colombiano que mora no Brasil", explica Spósito.
Seduzidos pela garimpagem fácil, muitos brasileiros se mudaram para o Suriname, onde o tipo de negócio é grande na região de fronteira. Isso atraiu mulheres, principalmente do Pará. Além de exploradas no local, muitas são levadas de avião para alguns países da Europa, de onde poucas retornam. A PF detectou que isso ocorre ainda com travestis brasileiros, cujo destino é praticamente só a Holanda. Seringueiros e índios também estão sendo expulsos de suas colocações no Departamento de Ucayali, no Peru.
Madeireiros e traficantes estão amedrontando a região, uma das mais inóspitas, próxima ao Acre. A ameaça chega até a índios isolados que transitam entre os dois países.
Mas a situação mais grave está hoje em Pando o mais pobre departamento boliviano. Pelo menos 30 mil brasileiros circulam pela região e quatro se feriram em conflitos políticos ocorridos neste mês. "Além disso (dos atritos entre defensores e opositores de Evo Morales), existe a perspectiva de expulsão de brasileiros que têm propriedade no país.
Eles compraram terras de outras pessoas e hoje correm o risco de perdê-las", afirma o delegado da Polícia Federal. O mesmo problema não acontece em Beni, na divisa de Rondônia. Lá, o assédio do narcotráfico é o maior perigo.
"Situação semelhante à da Bolívia, mas no aspecto fundiário está acontecendo no Paraguai", observa Spósito. Os problemas no país vizinho são a constante briga entre os grandes plantadores de soja brasileiros e os sem-terra, que querem tomar as propriedades a todo custo. Caberá ao presidente Fernando Lugo amenizar ou agravar a crise, que já proporcionou alguns confrontos. Se adotar uma política próxima à do boliviano Evo Morales e de Chávez, aumentam as chances de novos atritos entre paraguaios e os brasiguaios. Se optar por uma linha mais moderada, mantém a situação como está, sem incentivar uma briga maior entre os dois lados.

CB, 27/09/2008, Mundo, p. 33

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