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Clima bate recordes em 2016

O Globo, Sociedade, p. 26
20 de Jul de 2016

Clima bate recordes em 2016

Cesar Baima

O clima da Terra continua a mostrar uma tendência clara de aquecimento em 2016, com dois de seus principais indicadores batendo recordes nos primeiros seis meses do ano, informou a Nasa ontem. De acordo com a agência espacial americana, medições feitas em solo e do espaço indicam que, de janeiro até junho, todos os meses tiveram uma temperatura média global recorde para cada um deles desde o início dos registros, em 1880. O semestre como um todo também foi a metade de um ano mais quente já observada, com uma temperatura média 1,3 grau Celsius acima da do fim do século XIX e 1,09 grau Celsius superior à média do período 1951-1980.
Enquanto isso, em cinco dos seis primeiros meses de 2016 a extensão do gelo marinho no Ártico foi a menor já vista desde o início das medições regulares por satélites, em 1979. E mesmo na única exceção, março, a área do gelo no Polo Norte foi a segunda menor para o mês. Ainda de acordo com a Nasa, atualmente a extensão coberta por gelo no Oceano Ártico no auge do derretimento de verão no Hemisfério Norte é 40% menor da que se via entre o fim dos anos 1970 e começo dos anos 1980. A agência espacial lembrou também que a área mínima sazonal desta cobertura de gelo no ciclo anual, que normalmente acontece em setembro, tem caído a um ritmo de 13,4% por década.
Segundo os cientistas da Nasa, no entanto, mais do que seus valores, os resultados dos dois indicadores são sinais contundentes de um processo de décadas de aquecimento do planeta, alimentado pelas crescentes concentrações de gases causadores do efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2). Mas não é só isso que está levando a temperatura e o recuo do gelo no Ártico a baterem recordes este ano. O forte fenômeno do El Niño que influencia o clima global desde o ano passado, um dos mais intensos já registrados, também ajudou a temperatura média do primeiro semestre de 2016 a superar o recorde anterior para o período do ano, observado em 2015 e afetado por um El Niño "fraco" que teve início em 2014.
- Mas 2016 detonou (o recorde de 2015). Tudo indica que temos uma chance de cerca de 99% de um novo recorde (de temperaturas altas) em 2016 - destacou Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa (GISS), responsável por acompanhar os dados climáticos da agência, em teleconferência realizada ontem. - Embora o fenômeno do El Niño no Pacífico neste inverno (no Hemisfério Norte) tenha dado um impulso nas temperaturas globais desde outubro, é a tendência subjacente que está produzindo estes números recordes. Não interessa se temos um El Niño ou uma La Niña (seu fenômeno oposto). Quase todo aumento nas temperaturas que vemos desde os anos 1960 é devido aos gases do efeito estufa.
E se a temperatura média global está se elevando, no Ártico os termômetros estão subindo ainda mais rápido, ressaltam os cientistas. Diante disso, desde 2009 a Nasa toca a Operação IceBridge, na qual aviões especialmente adaptados para funcionarem como laboratórios aéreos sobrevoam regularmente grandes trechos dos polos Norte e Sul para validar, complementar e aprofundar as medições de seus satélites sobre as calotas de gelo do Ártico e da Antártica e como as mudanças climáticas estão alterando sua estrutura e comportamento.
- Este tem sido um ano de temperaturas recordes globais, mas a alta nas temperaturas no Ártico nos últimos seis meses foi ainda mais extrema - afirmou Walt Meier, cientista do GISS. - Este aquecimento e padrões climáticos incomuns levaram a uma queda recorde na extensão do gelo marinho.
E a situação no Ártico deve piorar mais. Na semana passada, a Nasa deu início a nova campanha da IceBridge com voos para estudar as chamadas "poças de derretimento", piscinas rasas que se formam sobre o gelo marinho à medida que ele derrete. Com sua superfície mais escura que o gelo e a neve, as poças de derretimento absorvem mais radiação solar, acelerando o processo de derretimento. Estudos recentes demonstraram que a formação destas poças no início do verão no Hemisfério Norte é uma boa previsora de qual será a extensão da cobertura de gelo no mínimo de setembro, já que quanto mais delas houver nesta época do ano, menor a capacidade do gelo em refletir a radiação solar e mais ele vai derreter.
- Embora tenhamos feito outras campanhas aéreas no Ártico, ninguém nunca mapeou em grande escala a profundidade das poças de derretimento no gelo marinho usando sensoreamento remoto - afirmou Nathan Kurtz, cientista de projeto da IceBridge e pesquisador do Centro de Voo Espacial Goddard, também da Nasa. - As informações que vamos coletar mostrarão quanta água é retida nestas poças de derretimento e que tipo de topografia do gelo marinho é necessária para limitá-las, o que vai nos ajudar a melhorar nossos modelos.
Além disso, no início deste ano pesquisadores da Nasa começaram um estudo de campo dos ecossistemas árticos no Alasca e no Canadá. Previsto para durar dez anos, o Experimento de Vulnerabilidade Ártico-Boreal (ABoVE, na sigla em inglês) vai analisar como as florestas, o chamado permafrost (solo congelado) e outros ecossistemas estão respondendo às crescentes temperaturas na região, onde as mudanças climáticas estariam mais rápidas do que em qualquer outro ponto do planeta. O estudo inclui dezenas de experimentos para avaliar, por exemplo, se o maior calor está alterando o ciclo de carbono entre solo e atmosfera pelo derretimento do permafrost e o apodrecimento de restos de plantas e animais que estavam preservados nele.

O Globo, 20/07/2016, Sociedade, p. 26

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/primeiros-seis-meses…

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