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20 de Mar de 2023
Claudia Andujar fala sobre sua recente exposição 'A Luta Yanomami'
Em mais de 60 anos de atuação na fotografia, a decana Claudia Andujar defendeu os ianomâmis com suas lentes e seu incansável ativismo. Em entrevista exclusiva à Vogue, a fotógrafa conta mais sobre a atual mostra em Nova York e reflete sobre sua batalha
Por Nô Mello (@nomello)
20/03/2023 08h23 Atualizado há 2 horas
O Brasil e o mundo viram surgir no começo do ano estarrecedoras imagens da situação de crise sanitária, doença e desnutrição causadas pelo avanço do garimpo ilegal nas terras ianomâmis e pela completa desassistência do governo anterior. Para Claudia Andujar, que, há muitas décadas, luta pelos direitos dos ianomâmis, o cenário assustador é um alerta para todo o planeta. "O mundo precisa entender a importância do povo ianomâmi. Eles têm que ser respeitados, como uma cultura dentro de outras culturas", defende a fotógrafa, cujo trabalho ganha maior visibilidade internacional no último março graças a A Luta Yanomami, recém-inaugurada em Nova York, no recém-inaugurado The Shed . "Espero que a exposição traga um resultado positivo, que sensibilize as pessoas."
Organizada pela Fundação Cartier em parceria com o Instituto Moreira Salles (onde teve início, em 2018) e com as ONGs Hutukara Associação Yanomami e Instituto Socioambiental, a mostra reúne, ao todo, 200 imagens realizadas por Claudia, mais 80 obras feitas por artistas indígenas.
Atualmente, Claudia, aos 92 anos, vive em São Paulo, em um apartamento na região da Bela Vista, onde recebeu esta Vogue. Nascida na Suíça, em 1931, cresceu na região da Transilvânia, na Romênia, onde vivia a família do seu pai, de origem judaica. Em 1944, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a perseguição aos judeus durante o período, fugiu com a mãe para Nova York, onde trabalhou como intérprete da ONU e começou a pintar. Depois de 1955, se estabeleceu em São Paulo e foi a partir de então que começou a se desenvolver como fotógrafa, registrando - sem falar uma palavra de português sequer na época - grupos marginalizados para revistas brasileiras e internacionais.
Em 1971, um trabalho para a extinta revista Realidade sobre a Amazônia a levou até o povo ianomâmi pela primeira vez. A viagem foi um divisor de águas na sua vida e, daí para frente, as tradições e o modo de vida daquele povo se tornaram o epicentro de sua fotografia. "Levei um tempo para entender quem eles são, mas conquistei a confiança deles. Acho que eles perceberam que minha maneira de trabalhar os deixaria mais visíveis ao mundo."
Depois de aceita - para tanto, Claudia passou um ano inteiro com as comunidades locais sem fazer um clique sequer -, conseguiu fazer algumas das fotos mais íntimas dos ianomâmi vistas até hoje, registrando seu cotidiano e, por meio de seu estilo fotográfico, capturando com suas lentes o que era invisível, como as visões descritas por xamãs e seus ensinamentos sobre a natureza. Também clicou momentos de muita tristeza e destruição, como a epidemia de sarampo trazida pela implantação da Rodovia Transamazônica (BR-230), entre 1969 e 1974, que acarretou a morte de milhares de indígenas, e as subsequentes invasões do garimpo na região.
A atuação de Claudia transbordou os limites da fotografia, e a luta pela preservação deste povo indígena é até hoje a sua grande causa de vida. Durante a ditadura, participou ativamente, ao lado do missionário Carlos Zaquine (que, juntamente com o líder indígena Davi Kopenawa, é seu grande parceiro nessa luta desde então), da Comissão pela Criação do Parque Yanomami, fundada em 1978, que resultou na demarcação da Terra Indígena Yanomami, em 1992, centro da crise humanitária que vemos atualmente tomar os noticiários de todo o país. "A demarcação foi essencial para o governo entender que tem um território ali que já está ocupado, onde vivem essas pessoas. A sobrevivência delas depende disso."
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