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CIR diz que sociedade local é racista

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
11 de Nov de 2003

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) está enviando e-mail para todo o país e exterior afirmando que "dificilmente os acusados pelo assassinato do índio Macuxi Aldo Mota serão condenados porque a sociedade local é racista".
Os acusados foram intimados por meio dos jornais a se apresentarem ao juiz Helder Girão Barreto. Elizel Martin e Robson Belo Gomes eram vaqueiros que trabalhavam na fazenda Retiro, ex-propriedade do vereador Francisco de Chagas. Após indenizado, ele deixou a propriedade que fica dentro da terra Indígena de Raposa/Serra do Sol.
Por falta de provas, o vereador não foi intimado. Já os vaqueiros foram denunciados pelo Ministério Público Federal por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. O corpo do índio só foi encontrado dez dias depois do crime, ocorrido em 02 de janeiro.
"Os vaqueiros vão a júri popular mas, em Roraima, júri popular para assassinos de índios tem veredicto anunciado. Dificilmente eles serão condenados porque a sociedade local, instigada por políticos, que também são grandes proprietários de terras, é racista", afirma a notícia.
Segundo o CIR, o assassinato aconteceu no momento em que foram retomadas as discussões sobre a homologação de Raposa/Serra do Sol. "Demarcada há mais de cinco anos, essa terra, onde vivem Macuxi e Wapixana é disputada também pelos faze ndeiros-políticos e empresários japoneses que já estão plantando soja", diz a informação.
A entidade indígena também afirma que a demora na homologação da área indígena deve-se a "suspeitas sobre um acordo que teria sido feito entre o ministro José Dirceu, chefe do Gabinete Civil da presidência da República e o governador do Estado, Flamarion Portela".
"Eleito pelo obscuro PSL, Flamarion aceitou se filiar ao Partido dos Trabalhadores desde que a terra indígena não fosse homologada. Os rumores dessa negociação começaram antes do primeiro turno das eleições presidenciais, e, até hoje, não foram desmentidos oficialmente pelo ministro José Dirceu", afirma o CIR, que também publicou a notícia no site www.cir.org.br.
O Conselho ainda relaciona a morte Aldo Mota na série de 23 índios assassinados no Brasil nos dez primeiros meses do governo Lula. "Em todos os casos, a luta da terra é a causa principal do crime. Entre os mortos há dois importantes líderes. Marcos Veron, cacique Guarani-Kaiowá, assassinado em plena luta pela demarcação de sua terra em Mato Grosso do Sul e Orides Belini, cacique Kaingang morto em Chapecó, Santa Catarina. Orides rejeitava todas as propostas de arrendamento da terra do seu povo".
A notícia ainda fala sobre a primeira tentativa de aliança entre índios, trabalhadores urbanos e camponeses. Segundo o site, com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Central Única dos Trabalhadores/RR (CUT), Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Conselho Indígena de Roraima (CIR), o movimento "Nós existimos" já promoveu marcha contra corrupção e fez reunião em Maturuca, principal comunidade de Raposa/Serra do Sol, Apiaú, território do povo Yanomami que ficou fora da demarcação e hoje é área de projeto agrícola e, em Boa Vista, com os sindicatos locais.
"Essa aliança é o primeiro sinal de que a manipulação política dos latifundistas roraimenses contra os índios começa a se enfraquecer", afirma o Conselho Indígena.

O CRIME - O assassinato de Aldo Mota iniciou a partir da confusão gerada quando um garrote da comunidade indígena desapareceu e Aldo Mota foi procurá-lo na fazenda de propriedade do vereador Francisco das Chagas Oliveira (Chico Tripa), não retornando mais.
Revoltados, os índios resolveram procurá-lo e cercaram o local, impedindo o acesso de trabalhadores e a entrada de policiais na área. O corpo do indígena Aldo da Silva Mota foi encontrado a cerca de 1.500 metros dentro da área da fazenda Retiro, município de Uiramutã.

O cadáver foi encontrado por dois jovens indígenas que perceberam a movimentação dos urubus nas proximidades da casa sede da fazenda. Resolverem averiguar e acharam o cadáver enterrado numa cova rasa. Aldo Mota havia levado um tiro no peito.

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