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CIR denuncia ataque por encapuzados

Folha de Boa Vista
21 de Jun de 2007

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) encaminhou representação ao Ministério Público Federal em Roraima, Polícia Federal e Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República denunciando ataque às lideranças indígenas e comunidades da região de Surumu, na reserva Raposa Serra do Sol.

A denúncia contraria o que vem sendo dito pelo deputado federal Márcio Junqueira (DEM). Conforme o parlamentar denunciou na Polícia Federal, ele e o rizicultor Paulo César Quartiero teriam sido agredidos e expulsos da terra indígena.

Conforme os relatos, no dia 14, integrantes das comunidades indígenas da região de Surumu começaram a reocupar um lugar considerado por eles como tradicional, numa área chamada de Parawani. Durante a ação, eles contaram que teriam recebido ameaças de pessoas que trabalham em lavoura de arroz próxima.

No dia 17, um carro dirigido pelo tuxaua Anselmo Dionísio Filho, da comunidade do Barro, foi seguido por uma caminhonete L 200 de Cor Branca e que fazia filmagem, que para o CIR era "um claro sinal de intimidação".

"Quando a caminhonete parou, deu-se conta que os ocupantes eram o rizicultor Paulo César Quartiero (ex-prefeito de Pacaraima), Márcio Junqueira (deputado federal de Roraima), e uma equipe de Televisão", diz o documento entregue às autoridades.

Conforme o relato, o tuxaua Anselmo perguntou "o porquê daquela perseguição". Com o tuxaua estavam dois alunos do Centro Indígena de Formação, "que ficaram bastante assustados com a perseguição". "Anselmo pediu-lhes para que parassem de filmar, mas eles não atenderam. Ao contrário, o deputado Márcio Junqueira acusou os três indígenas de serem invasores e manipulados por terceiro", diz o documento.

Horas depois do incidente com o deputado, o ex-prefeito Paulo César Quartiero e ex-vice-prefeito Anísio Pedrosa teriam ido até a comunidade Parawani. Eles entraram na área em um carro L 200 de cor branca, observaram a movimentação e depois retornaram para a estrada, onde estavam estacionados dois veículos, sendo um caminhão vermelho e outro branco.

"Minutos depois, a L 200 seguida pelos caminhões invadiu a comunidade. Dos veículos desceram homens encapuzados e armados com armas de fogo, paus e terçados (facões). Eles cercaram os indígenas e disseram para ninguém correr e ordenaram que derrubassem o barracão", consta no documento.

Segundo o CIR, os encapuzados apontavam as armas para os indígenas e os ameaçavam dizendo que quem corresse levaria um tiro na cabeça. Alguns tentaram correr, porém, foram impedidos pelo disparo de arma de fogo. Uma criança de 12 anos, Lírio Andrade da Silva, correu assustada e foi dada como desaparecida.

Conforme o CIR, os índios foram obrigados a subir no caminhão branco, sob a ordem de manterem as cabeças abaixadas para não serem baleados. Os homens encapuzados quebraram o barracão, cortaram a lona, quebraram telhas, derramaram óleo diesel nos mantimentos e embarcaram as ferramentas dos indígenas no caminhão.

"Após a violência cometida, os homens encapuzados não deixaram os indígenas descerem do caminhão e os levaram para a BR que dá acesso ao Município de Uiramutã. No caminhão, os homens encapuzados derramavam os mantimentos pelo caminho, chamavam os índios de invasores e malandros".

Consta ainda no documento que eles ainda ameaçavam os índios dizendo que "se eles retornarem não iam contar mais história, que não tinham mais irmão e nem parente lá". Quando chegaram na rodovia, fizeram os índios descerem e foram embora.

"Para o Conselho Indígena, este novo ataque foi possível graças ao clima sem-lei e de impunidade que permanece na Raposa Serra do Sol, devido omissão do Estado em tomar as medidas necessárias para proteger a vida e integridade física dos povos indígenas, inclusive devido à não retirada dos invasores da área", diz nota enviada à imprensa.

"Passados mais de dois anos da homologação da terra indígena, os povos da Raposa Serra do Sol seguem impedidos de gozarem seus direitos territoriais e enfrentam dias de desumana insegurança frente às constantes ameaças e aos severos ataques de violência, perpetrados por ocupantes não-índios que se recusam a sair da terra indígena", complementou a nota.

O documento encerra dizendo: "O apoio de políticos locais e nacionais às ações de resistência e aos ataques contra os indígenas constitui sério agravante. Munidos de poder político e econômico, que lhes asseguram impunidade, além de atentarem contra as vidas de indígenas da Raposa Serra do Sol, esses indivíduos cultivam na sociedade roraimense um forte sentimento antiindígena que afeta a reputação do Estado brasileiro como estado democrático e multicultural".

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