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Cinzenta previsão

O Globo, Ciência, p. 30
13 de Mar de 2009

Cinzenta previsão
Céu fica mais opaco a cada dia devido a poluentes

O céu não está chorando, como dizem os poetas, mas está ficando pálido e perdendo o viço. A razão, dizem os cientistas, são poluentes presentes no ar, que fizeram com que a visibilidade em dias claros se reduzisse desde os anos 70, principalmente em Ásia, América do Sul e África. Na Europa e na América do Norte, essa redução, causada pelo bloqueio dos raios solares pelos aerossóis (partículas presentes na fuligem), não é tão sentida, revela um estudo feito por pesquisadores das universidades do Texas e de Maryland, publicado na revista "Science". O estudo também pode ajudar a entender a relação entre poluição do ar e as mudanças climáticas.

Para realizar a pesquisa, os cientistas compilaram dados e medidas sobre visibilidade - a distância através da qual podemos enxergar em dias claros - extraídos de mais de três mil estações meteorológicas espalhadas pelo mundo, entre 1973 e 2007.

- Criar esse banco de dados foi um grande passo para que possamos entender a correlação entre o aquecimento global e a poluição presente no ar - afirma Kaicun Wang, da Universidade de Maryland, que participou do estudo. - Essa também foi a primeira vez em que reunimos dados globais sobre os aerossóis sobre a terra, que serão adicionados às informações que já temos sobre a suas medidas sobre os oceanos.

De acordo com os pesquisadores, os aerossóis, resultantes da queima de combustíveis fósseis (como o carvão), seja pela indústria, veículos ou queimadas, podem não apenas gerar poluição nociva à saúde, mas também agir sobre o clima. Outros gases que atuam sobre o clima, como o CO2, o principal causador do aquecimento global, são transparentes e não atrapalham a visibilidade.

As partículas de aerossol alteram o balanço de energia da Terra ao refletir e espalhar a radiação solar de volta para o espaço, reduzindo a quantidade dessa radiação que atinge a superfície terrestre.

Alguns tipos de aerossol, porém, são potentes absorvedores de radiação e, além de resfriar a superfície planetária, aquecem a troposfera (camada que vai até uma altitude média de 10 km) em níveis médios. Essa variação também atua sobre as propriedades das nuvens e os padrões de precipitações.

Os autores do estudo acreditam que o aumento da atividade industrial em países como China e Índia possam estar contribuindo para o fenômeno de redução de visibilidade dos céus. Ao mesmo tempo, o controle da qualidade do ar, feito a partir da segunda metade dos anos 80, seria o responsável pela visibilidade pouco alterada nos céus da Europa e Estados Unidos.

Segundo Wang, estudos sobre a relação entre os aerossóis e as mudanças climáticas têm se revelado pouco conclusivos até agora. Com os dados obtidos pela nova pesquisa, porém, os cientistas poderão comparar tais valores com dados já conhecidos sobre temperatura, precipitação e cobertura de nuvens, que foram recolhidos nas últimas três décadas.

Aerossóis têm um tempo de vida curto na atmosfera - em geral, alguns dias - se comparados com os gases de efeito estufa, que podem permanecer lá por décadas. Por causa disso, explicam os cientistas, os efeitos dos aerossóis no clima foram colocados em segundo plano durante muito tempo.

As alterações no padrão de cobertura de nuvens e de precipitação promovidos pela presença dos aerossóis na atmosfera há décadas são reconhecidas como um fator importante, inclusive na dinâmica de circulação atmosférica, afirmam os pesquisadores.

Em Copenhague, Dinamarca, durante um encontro sobre o clima, o renomado economista Nicholas Stern, autor de um dos mais influentes trabalhos sobre as mudanças climáticas, afirmou que ele mesmo subestimou o impacto do aquecimento global.

- É preciso dizer muito claramente às pessoas como vai ser devastador um aumento de temperatura de quatro graus Celsius ou até mais - afirmou Stern.

O Globo, 13/03/2009, Ciência, p. 30

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