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Cimi quer ensinar profissão a índios

Jornal do Brasil (Rio de Janeiro - RJ)
27 de Fev de 2001

As oito aldeias indígenas de Minas Gerais poderão estar diante de um desafio no próximo mês de abril. Sob a coordenação do Cimi, órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, está sendo realizado um projeto que pretende capacitar profissionalmente cerca de seis mil índios no estado. A capacitação estará atenta à cultura das aldeias, mas almeja criar uma fonte de renda própria para as tribos, dentro de uma visão na qual a tecnologia e o privilégio de um nicho de mercado especial serão o carro chefe. A intenção é pleitear, pela primeira vez, recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), preferencialmente utilizado em benefício dos trabalhadores urbanos.

A idéia nasceu com técnicos da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento E Ensino de Machado (Fadema), uma entidade ligada a Escola Federal Agrotécnica da cidade de Machado, no sul de Minas. Apesar de na região não existir qualquer tribo indígena, no ano passado foram realizados cursos de agroecologia nas aldeias dos xacriabás, na cidade de São João das Missões, no noroeste mineiro, e dos pataxós, em Carmésia, na região do Rio Doce. O presidente da Fadema, Roberto Orfão, lembra que os cursos foram voltados para a organização dos índios e também a capacitação das mulheres. "Deu muito certo", diz ele.

Por isso, na semana passada, os caciques das oito aldeias do estado e membros do Cimi se reuniram na Secretaria de Estado do Trabalho, da Assistência Social, da Criança e do Adolescente (Setascad), para discutirem um projeto que alcançasse todas as tribos.

No encontro, foi formatada a proposta de se ampliar os cursos iniciados pela Fadema, criando um projeto que ressaltará o resgate da identidade e da cultura das tribos, mas que também se preocupará com implantação de um programa que dê a possibilidade de sustentação dos índios, apoiado na agroecologia. "Estamos participando do projeto como integrantes, porque os índios sabem muito bem o que querem. É impressionante a conscientização deles. Os cursos não objetivam a formação dos índios. Eles é que vão construir uma proposta", sustenta Roberto Orfão. A agroecologia - uma prática da agricultura orgânica que busca a harmonia com o meio ambiente mas também a auto-sustentação - se adapta à natureza da produção dos índios, afirma o agrônomo Sérgio Pedini, consultor da Fadem.

Pedini defende que, dentro das condições das tribos, a agroecologia é uma proposta ideal. "Os índios não têm como competir com a produção de arroz, milho ou fejão que precisa de áreas muito extensas e onde o custo é muito baixo", explica. A intenção será explorar um nicho de mercado que cresce a cada dia no Brasil e que tem sido de interesse de compradores do exterior. "Com a horta horgânica, com a piscicultura e a apicultura eles terão como produzir e competir num mercado de produtos de maior valor agregado", afirma.

Mas o programa que visa a auto-sustentação dos índios não se resume à agroecologia. Aulas de artesanato também fazem parte do projeto da Setascad. "Além de auxiliar na fabricação das peças já produzidas pelas tribos, pretendemos ensinar técnicas de acabamento e de comercialização. Queremos dar aos índios condição de trabalho para que eles possam enfrentar o mercado competitivo", explica uma das coordenadoras do projeto e superintendente da Setascad, Carmem Lúcia Teixeira. A criação de postos de venda dos produtos indígenas em todo o estado é um dos objetivos.

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