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Cientistas temem cidades vulneráveis às mudanças climáticas

Valor Econômico, Brasil, p. A3
Autor: CHIARETTI, Daniela
09 de Nov de 2016

Cientistas temem cidades vulneráveis às mudanças climáticas

Daniela Chiaretti

As cidades brasileiras são vulneráveis à mudança do clima, deficientes para lidar com situações de emergência e quase sem políticas de sustentabilidade. Para piorar o quadro, há falta de sintonia entre os planos nacionais e o que acontece nos centros urbanos.
Segundo a UN-Habitat, em 2020 perto de 90% da população brasileira estará vivendo nas cidades. Isso significará que as cidades responderão pelo consumo de 70% da energia disponível e por 40% das emissões de gases-estufa.
Na outra ponta, são centros vulneráveis à escassez de alimentos e água, ilhas de calor, aumento da temperatura e do nível do mar, inundações e outros impactos causados por eventos extremos.
"Vejo um grande descompasso", diz a cientista Suzana Kahn, presidente do comitê científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) e que lançou ontem na conferência do clima de Marrakesh, a CoP 22, um relatório mostrando que cidades são parte do problema da mudança do clima, mas podem ser foco de soluções.
"O objetivo deste relatório é mostrar a interconexão das cidades com qualquer plano que possa ser feito de adaptação aos impactos da mudança do clima ou mitigação dos gases de efeito-estufa", diz ela. "Mas as áreas urbanas não estão sendo consideradas na elaboração destas estratégias, que são feitas em Brasília."
O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) foi criado em 2009 pelo governo brasileiro, nos moldes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). Tal qual o IPCC, o braço científico da ONU, o painel brasileiro não faz estudos, mas analisa o conhecimento científico sobre determinado tema e produz relatórios. O atual relatório foi feito por cientistas do PBMC com analistas da KPMG.
O relatório indica que o aumento da temperatura terá impacto nos recursos hídricos criando problemas de abastecimento. Em sentido oposto, chuvas fortes causam inundações e podem prejudicar a qualidade da água dos rios. O nível de chuvas no Nordeste pode diminuir 22% até 2100. Com aumento de 28% na demanda por água nas cidades entre 2005 e 2025, os investimentos necessários serão próximos a R$ 22 bilhões.
Entre 2008 e 2012, 37,1% das cidades brasileiras foram afetadas por alagamentos. As alterações climáticas também devem sobrecarregar o sistema de saúde com o aumento de inundações e secas. Malária, dengue e problemas cardiovasculares causados pelas ondas de calor são doenças mais incidentes com as alterações climáticas, aponta o relatório do PBMC.
O consumo de energia, por sua vez, deve subir 8% acima do projetado para 2030 e, por outro lado, pode haver perda na capacidade de geração. A meta brasileira no âmbito do Acordo de Paris promete, entre outros pontos, conseguir 10% de eficiência energética até 2030.

Valor Econômico, 09/11/2016, Brasil, p. A3

http://www.valor.com.br/brasil/4770695/cientistas-temem-cidades-vulnera…

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