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Cientistas se reúnem em Berlim para alertar contra gases-estufa

Valor Econômico, Internacional, p. A11
08 de Abr de 2014

Cientistas se reúnem em Berlim para alertar contra gases-estufa

Por Daniela Chiaretti
De Berlim

A emissão de gases-estufa no mundo segue em forte tendência de alta e, se seguir nesse ritmo, a chance de se limitar o aquecimento da temperatura da Terra em até 2o C até o fim do século está ameaçada.
Essa pode ser uma das conclusões do evento que reúne em Berlim, nesta semana, delegações de governos e cientistas do IPCC, o braço científico das Nações Unidas. Eles discutem o sumário para formuladores de políticas públicas sobre mitigação da mudança do clima, um resumo de 30 páginas de estudos sobre o tema feitos nos últimos quatro anos por pesquisadores de todo o mundo. Os estudos estão reunidos em tomos com 16 capítulos com mais de 2.000 páginas, 262 gráficos e três anexos.
"Não estamos no caminho de se reduzir as emissões para limitar o aquecimento aos 2o C", disse Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção do Clima. "Esperamos que este momento marque o início de uma era em que as descobertas científicas saiam do papel para vir para a vida real. Os fatos falam por si."
"Prevenir a interferência perigosa no sistema climático quer dizer mitigar a mudança do clima", disse Ottmar Edenhofer, copresidente do grupo de trabalho III, que finaliza o sumário. "Com uma base científica transparente, nosso relatório possibilita o entendimento das opções que existem hoje para que se enfrente esse desafio."
Na abertura do evento, ontem em Berlim, Edenhofer disse que "apesar dos esforços de mitigação, as emissões de gases-estufa provocadas pelas atividades humanas cresceram mais rapidamente entre 2000 e 2010 do que em cada uma das três décadas anteriores."
Um dos pontos críticos do relatório, para o Brasil, pode ser a discussão de se incluir biocombustíveis no texto. Há resistência de muitos países em citar biocombustíveis como algo positivo, porque quando são produzidos a partir de milho podem afetar o mercado e a segurança alimentar. Este não é o caso brasileiro, no entanto, que produz etanol à base de cana.
"Esperamos que o sumário tenha uma linguagem forte em vários pontos", disse Jan Kowalzig, especialista em clima da Oxfam. "E que não aponte para caminhos equivocados. Temos que ficar abaixo dos 2o C e ter uma forte virada nos investimentos que nos afaste dos combustíveis fósseis. Na nossa perspectiva, o sumário tem que considerar aspectos de responsabilidades do problema, equidade e questões sociais."
O sumário tratará de exigências tecnológicas, econômicas e institucionais para lidar com a redução dos gases-estufa. Analisa os riscos associados, as tendências que podem aumentar a emissão e investiga as possíveis opções de mitigação desses gases por setor da economia. Fará ainda uma análise sobre as instituições internacionais (protocolos, convenções, fundos), que já existem ou estão sendo implantadas como resultado das negociações internacionais de clima.
Trata-se da último capítulo de um trio de relatórios feitos pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC, em inglês). O que vem sendo discutido agora é o sumário para que os tomadores de decisão possam trabalhar em políticas públicas. O resultado final só será conhecido no domingo.
O primeiro desses sumários foi discutido e lançado em outubro, na Suécia, e tratava da ciência do clima. O segundo saiu há duas semanas, no Japão, e versava sobre os impactos do fenômeno e as estratégias de adaptação. O de Berlim fala sobre a mitigação dos gases-estufa, ou seja, como pode-se intervir para reduzir as emissões.
"O mundo precisa de um documento robusto", disse Rajendra Pachauri, o economista indiano que preside o IPCC, referindo-se ao resultado final do sumário sobre mitigação, que está em discussão. "Para o benefício da humanidade e de todas as formas de vida neste mundo", concluiu.

Valor Econômico, 08/04/2014, Internacional, p. A11

http://www.valor.com.br/internacional/3509036/cientistas-se-reunem-em-b…

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