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Cidade onde freira foi morta tem outras áreas em litígio

FSP, Brasil, p. A9
12 de Mai de 2008

Cidade onde freira foi morta tem outras áreas em litígio

João Carlos Magalhães
Enviado especial a Anapu (PA)

O arrefecimento do conflito agrário em Anapu (PA) após a morte, em 2005, da missionária Dorothy Stang não pôs fim às disputas por terra na região. Há pelo menos três áreas na cidade que são objeto de contendas na Justiça entre pequenos agricultores e fazendeiros. Em dois desses casos, agricultores se dizem ameaçados.
A luta para ocupar o lote 55 da gleba Bacajá, na zona rural de Anapu, foi a origem do conflito que, segundo a acusação contra Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, levou à morte da religiosa. O fazendeiro, inocentado na semana passada pela Justiça paraense, diz que ela foi morta devido a um desentendimento pessoal com Rayfran das Neves, o Fogoió, condenado a 28 anos de prisão por ter atirado seis vezes na religiosa.
Nas áreas hoje sub judice, a situação é similar à verificada no lote 55 na época da morte de Dorothy: agricultores liderados por pessoas ligadas à igreja vivendo em uma região isolada que dizem ser grilada, e os supostos grileiros pressionando para que os agricultores, que chamam de invasores, saiam. Em todas as áreas, a disputa começou no início desta década.
O lote 86 é onde os agricultores mais reclamam de uma suposta ação contínua pela sua expulsão. Lá estão cerca de 30 famílias. A área já foi considerada do Incra e agricultores começaram a receber verbas federais para construir casas, comprar ferramentas e alimentos, o que deve acelerar a produção de culturas como cacau.
As acusações são mútuas. Segundo os agricultores, as ameaças começaram há quase quatro anos. Para a família Peixoto, dona de fazenda próxima e que também reivindica para si a posse do lote, os trabalhadores destruíram uma cerca e usam, sem autorização, uma estrada vicinal que ela construiu.
Os agricultores afirmam que, a mando dos Peixoto, aviões jogaram, em 2004, 2006 e 2007, sementes de capim sobre a terra que cultivavam.
A Folha esteve no lote 86. Lá encontrou o principal líder da comunidade, Juarez Aureliano Fernandes, 61. Ele afirmou que o gado dos fazendeiros destruiu suas plantações. Para ele, a absolvição de Bida piorou a situação. "Ela [família Peixoto] pode mandar [tirar trabalhadores à força]. Com essa soltura, ficou fácil." A reportagem esteve na porteira da fazenda da família Peixoto. Estava fechada e não havia ninguém.

FSP, 12/05/2008, Brasil, p. A9

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