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Chocolate da Mata Atlantica

GM, Opiniao, p.A3
Autor: ATHAYDE, Eduardo
27 de Mai de 2004

Chocolate da Mata Atlântica
Cacau brasileiro ganharia mercado com rotulagem ambiental. O Brasil produz cerca de 5% do cacau do mundo. Na região cacaueira da Mata Atlântica está uma das áreas mais ricas de todo o bioma, chamada hot-spot (áreas de maior concentração de biodiversidades do planeta em alto risco de extinção). Quanto vale, como laboratório, para as indústrias da biotecnologia e farmacêutica? Como políticas públicas podem atuar nesse cenário? Governos estão investindo em programas de incentivo à rotulagem ambiental, levando o mercado consumidor a privilegiar os produtos ecorrotulados. O governo alemão lançou em 1977 o programa de rotulagem ambiental, chamado de Blue Engel, para estimular a ecoeficiência nas empresas; em 1988 o Canadá lançou o Environmental Choice, logo seguido pelo Japão, com o Ecomark; pela Noruega, Suécia e Finlândia, com o Nordic Swan, e pelos EUA, com o Green Seal. Hoje, mais de duas dezenas de países conduzem programas de rotulagem ambiental, formando o GEN (Global Ecolabelling Network) - Rede de Ecorrotulagem Global. Reconhecendo a importância da ecoeficiência para a geração de empregos e riquezas, o governo brasileiro pode promover o "chocolate da Mata Atlântica" (Atlantic Forest Chocolate), ecorrotulado, emitindo sinais da vocação como ecopólo, voltado à biotecnologia e à preservação da biodiversidade. O que ainda teimamos em chamar de floresta os países industrializados, com a ampliação da percepção da realidade impulsionada pela ciência e tecnologia, chamam de bancos de germoplasma. Quando recebemos as bem-vindas "doações" externas para a criação dos corredores ecológicos, precisamos estar atentos em como transformar essa preservação - uma imperiosa necessidade - em negócios. Junto com as doações chegam os interesses da indústria farmacêutica e de biotecnologia que, juntas, movimentam US$ 800 bilhões/ano para pesquisar as áreas que querem preservar. Nossos ecossistemas são ativos ambientais, oportunidades de negócios únicos no planeta. Ainda estamos despidos de visão e de políticas públicas voltadas para a preservação com geração de econegócios. O chocolate é um produto carismático que movimenta globalmente US$ 60 bilhões/ano - o produto de cacau em todo o mundo fica com apenas 3,3% desse total. O cacau produz, entre várias substâncias benéficas ao bem-estar e à saúde humana, o antioxidante flavonóide, que ajuda na desobstrução do sistema circulatório, diz o professor Kris-Etherton, da Universidade da Pensylvania, estudioso dos benefícios das propriedades do cacau. O cacau é como a uva para o vinho: pode atender ao sabor popular e ao sofisticado. Enquanto empresários estrangeiros transformam o cacau em lucrativos negócios além-mar, os brasileiros ainda não estão percebendo o potencial da ecoonda que varre o mundo consumindo produtos ecorrotulados. O cacau vendido nas fazendas em sacas de 60 quilos, sem valor agregado, estimula a evasão da renda local. O chocolate da Mata Atlântica estimula os arranjos produtivos agroflorestais, é um gostoso convite e uma porta de entrada para outros negócios sustentáveis, especialmente o reflorestamento e o seqüestro de carbono. O Projeto Fazenda de Chocolate, desenvolvido há quatro anos pela Universidade Livre da Mata Atlântica (UMA), em parceria com o Worldwatch Institute (WWI), na Bahia, mostra como a força da economia do chocolate pode ajudar a resgatar a floresta. Foi tema do livro do WWI "Econegócios na Floresta de Chocolate no Brasil", lançado na embaixada brasileira em Washington, em dezembro de 2003, e destaque num grande jornal da cidade. A maior agência de notícias da Ásia, sediada em Tóquio, enviou seu correspondente para cobrir as atividades do projeto. Num país com as desigualdades sociais do Brasil, a única forma de preservar é pelos econegócios, gerando ocupação e renda. O marketing do futuro está mais preocupado em melhorar o bem-estar socioambiental do que simplesmente satisfazer desejos dos consumidores. O cacau produzido nas matas, se ecorrotulado com inovações biotecnológicas, poderá ter um valor adicional pela preservação dos ecossistemas. São embriões de econegócios que começam a nortear a gente do hot-spot do chocolate - ecopólo do chocolate -, um momento comparável à metáfora da crisálida, em que a lagarta não mais existe e a borboleta ainda não nasceu. kicker: Ecossistemas do Brasil são oportunidades de negócios únicos no planeta (Caderno A3)(Eduardo Athaydeé - Diretor da Universidade Livre da Mata Atlântica (UMA) e do Worldwatch Institute no Brasil (WWI).)

GM, 27/05/2004, p. A3

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