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Chefe Antônio Karitiana fala sobre seu povo

Diário da Amazônia-Manaus-AM
20 de Abr de 2005

A festa dos índios não contou com o apoio necessário

O dia do índio pela primeira vez foi festejado em Porto Velho pelos próprios índios. Várias nações realizaram festas mostrando ao homem "branco" suas culturas. No local que ficou conhecido como Flor do Maracujá os índios Karitianas montaram barracas e uma Oca onde comercializaram artesanatos e fizeram demonstração sobre seus costumes. Na manhã de ontem, conversamos com o Chefe maior da nação Kantiana em Rondônia índio Antônio Karitiana de 52 anos que nos contou sobre o ritual pelo qual o jovem índio, é obrigado a passar para poder ser considerado homem forte (Se fosse na cultura do branco seria emancipação). Na tribo Karitiana quando o jovem chega aos 12/14 anos, é submetido ao teste de resistência, que consiste em ficar exposto (nu) em local escolhido pelo seu pai, onde são "atiçados" os ninhos das cabas que passam a ferrar todo o seu corpo. "Inclusive o saco e a rola". "Pegamos o beiju da caba (beiju da caba, é a própria casa de caba) e amarramos na altura do peito do curumim e ali ele passa a ser ferrado. Ele não pode correr, tem que ficar suportando sem reclamar e sem chorar. Aquilo dura alguns minutos e depois que o pai acha que o curumim merece o arco e flecha de caçador, tira o beiju de caba e passa resinas tiradas da entre casca de árvores que existem na mata. O jovem não pode tirar as ferradas ou os esporões que estão entranhados em seu corpo, esses ferrões são removidos com a fricção da casca da árvore em seu corpo". Conta Antônio Karitiana.
Na cultura Karitiana o índio pode ter mais de uma mulher, "desde que se ache na condição de sustenta-las". Perguntado sobre se as mulheres não ficam com ciúme umas das outras e se não brigam por pela exclusividade do marido, Antônio declarou: "índio homem não se mete na briga das mulheres". A jovem Luciane mulher do sobrinho de Antônio, disse que não aceita esse negócio de dividir o índio dela com outra índia. "Isso era antigamente, hoje não". Seu marido, deitado em uma rede concorda com a mulher, "hoje nós somos civilizados e seguimos as leia dos brancos e por isso, não ficamos com mais de uma mulher".
A festa programada pelos povos indígenas em comemoração ao dia do índio, não pode ser realizada em sua plenitude, por falta de apoio. "A idéia era trazer povos de todas as nações indígenas do estado de Rondônia, infelizmente, não fomos compreendidos e em conseqüência, ou por falta de transporte e apoio para abrigo e alimentação, deixamos de mostrar ao povo de Porto Velho, a cultura dos povos indígenas".
A tribo Karitiana vive em uma aldeia que fica ha aproximadamente 50 quilômetros de Porto Velho, na BR 364 sentido Guajará Mirim. "Hoje somos apenas 300 e vivemos da caça, da venda de artesanato e de produtos agrícolas que produzimos como a farinha de mandioca, feijão, milho e outros produtos que a terra nos oferece. A pesca no local do Rio das Garças onde vivemos, não é muito boa não", finaliza o chefe Antônio Karitiana.

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