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Check-up do clima chega á reta final

O Globo, Ciência, p. 27
27 de Set de 2013

Check-up do clima chega á reta final
Relatório destaca como a ação humana agrava o aquecimento
Documento servirá como base para as negociações da Conferência do Clima de 2015, em Paris

Claudio Motta e Renato Grandelle

O lobby da indústria petrolífera emperrou as últimas duas noites de discussões do texto que será divulgado hoje, em Estocolmo, do primeiro grupo de trabalho do quinto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Países como Arábia Saudita, Qatar e Venezuela, cuja economia é baseada em combustíveis fósseis, reconhecem o aquecimento global, mas consideram que seu ritmo diminuiu nos últimos 15 anos. Potências ocidentais, como EUA e membros da União Europeia, no entanto, ressaltam a urgência em combater eventos extremos, como tempestades devastadoras, destruição de portos em cidades litorâneas e derretimento de geleiras.

Segundo fontes que acompanharam as negociações, cada palavra do texto foi revisada. A delegação brasileira teria pedido um cuidado especial para o trecho onde se explica que, embora o ano de 1998 tenha sido o mais quente desde o início dos registros meteorológicos, em 1861, isso não significa que as mudanças climáticas tornaram-se mais brandas a partir daí.

- A plenária do IPCC é um meio termo entre diplomacia e ciência - explica Emilio La Rovere, pesquisador da Coppe-UFRJ. - A comunicação entre aqueles que têm o conhecimento técnico e os tomadores de decisão é sempre complicada. Vários aspectos são considerados, do meio ambiente à economia.

O novo relatório teria aumentado de 90% para 95% a certeza de que a ação humana intensifica o aquecimento global e está associada às mudanças climáticas severas.

A conclusão do estudo deve pautar a política ambiental dos próximos anos. O relatório será usado como base para a Conferência do Clima (COP) de 2015, em Paris. Espera-se que o encontro produza um acordo global, válido a partir de 2020, determinando cortes obrigatórios nas emissões de gases do efeito estufa. Este compromisso, discutido em outras reuniões internacionais, como o Protocolo de Kioto (1997) e a COP de Copenhague (2009), jamais foi atingido.

- A dimensão do aquecimento global foi o assunto mais discutido nos últimos dois dias - revela Bernardo Strassburg, diretor-executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade e professor do Departamento de Geografia da PUC-Rio. - Há uma oscilação nas projeções, mas não há dúvidas de que as mudanças climáticas impõem medidas urgentes. O lobby petrolífero argumenta que, como 1998 foi o ano mais quente, haveria uma redução no ritmo do aquecimento global. Isso é uma distorção.

O IPCC divulgará, pela primeira vez, a tendência de enfraquecimento de até 44% da Corrente do Golfo, uma corrente marítima quente que influencia fortemente o clima do Hemisfério Norte. A diminuição de sua força tornaria o clima de países europeus mais instável.

- O maior desafio para os climatologistas é identificar a verdadeira dimensão do papel dos oceanos, que ocupam mais de 70% da superfície do planeta - pondera Strassburg. - Eles têm um efeito maior do que qualquer outra variável associada às mudanças climáticas, e não sabemos ainda seu potencial de absorção de energia e a velocidade deste fenômeno.

Mais ilhas de calor

De acordo com um trecho do relatório obtido ontem pelo GLOBO, a incidência de eventos extremos aumentará em todo o planeta. No Brasil, o fenômeno El Niño traria secas prolongadas por meses, que diminuiriam em até 30% a produção agrícola no Norte e Nordeste do Brasil, além de mais incêndios na Amazônia. A La Niña, por sua vez, agravaria inundações no Sul e no Sudeste e mudaria o regime de chuvas dos qual dependem as hidroelétricas.

No Sul da América Latina, as grandes áreas urbanas seriam mais sujeitas às ilhas de calor. As cidades da região teriam, em um ano, mais de 100 dias com temperaturas acima de 20 graus Celsius.

O Globo, 27/09/2013, Ciência, p. 27

http://oglobo.globo.com/ciencia/relatorio-destaca-como-acao-humana-agra…

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